O Novo Capítulo nas Relações entre China e Índia: Desafios e Oportunidades
Em outubro de 2023, a China e a Índia firmaram um acordo para patrulhar uma parte de sua fronteira disputada. Essa negociação encerrou, pelo menos temporariamente, um embate que se arrastava há quatro anos nas montanhas do Himalaia, afligindo as relações entre os dois países. O entendimento também possibilitou a reunião do Primeiro-Ministro indiano, Narendra Modi, e do Presidente chinês, Xi Jinping, na Rússia — um encontro que não acontecia há cinco anos.
O Contexto das Relações Bilaterais
O agravamento das relações entre China e Índia remonta a 2020, quando um violento confronto no Vale de Galwan resultou na morte de dezenas de soldados e congelou o relacionamento bilateral. Naquele momento, a população indiana se revoltava contra o que percebia como agressão chinesa. O governo Modi tomou medidas drásticas: cancelou voos diretos entre os países e baniu o aplicativo TikTok, entre outros passos que buscavam punir a China. Hoje, muitos analistas veem uma possibilidade de reintegração e normalização nas relações.
Entretanto, os desafios precisam ser reconhecidos. Ambos os países não têm um “normal” desejável para retornar. A ambição da China continua restringindo a capacidade da Índia de agir tanto na região quanto globalmente. Pontos de tensão permanecem na fronteira e podem ser reativados a qualquer momento pelo regime agressivo de Xi. Apesar dos esforços de Modi para adotar uma postura mais firme contra a expansão chinesa, a economia indiana ainda é altamente dependente da China.
Dependência e Vulnerabilidades Econômicas
Nos últimos cinco anos, as importações indianas da China dispararam, mesmo que as exportações tenham diminuído. A Índia depende de tecnologia sofisticada que vem da China, como computadores e componentes de equipamentos de telecomunicações. Recentemente, quando o governo indiano tentou implementar controles de licença sobre a importação de dispositivos de computação, houve uma forte reação da indústria, forçando-o a abandonar a iniciativa.
Esse cenário revela uma questão mais ampla: líderes indianos tradicionalmente separaram segurança nacional e crescimento econômico, embora ambos sejam interdependentes. É crucial que a Índia compreenda mais profundamente a ameaça representada pela China. Por exemplo, poderia ser criada uma ministério de segurança econômica, com a missão de avaliar a escala e o impacto da presença econômica chinesa na Índia, encontrando maneiras de proteger o país desse envolvimento.
Um Vislumbre Histórico e a Evolução da Relação
A rivalidade entre Cina e Índia não é nova. O conflito de 1962, que resultou em forte perda de território por parte da Índia, ainda reverbera na elite política do país. Embora uma descontração nas relações tenha surgido na década de 1980, a questão da fronteira permanece insolúvel. Na década de 1990, acordos foram estabelecidos para evitar o uso de força militar no debate de fronteiras, porém, sem um acordo definitivo até hoje.
A ascensão de Modi ao poder em 2014, junto ao aumento da agressividade da China sob Xi, redefiniu essa dinâmica. Os conflitos ao longo da fronteira tornaram-se mais frequentes, e isso estimulou a Índia a buscar parcerias mais fortes, como a revitalização do Quad (Diálogo Quadrilateral de Segurança), que inclui EUA, Austrália e Japão.
A Nova Abordagem Indian First
O atual mantra da política externa indiana é “India First”, adaptado da retórica de Donald Trump. Isso implica em uma postura mais assertiva em relação à China, desestimulando iniciativas de expansão chinesa na região sul-asiática. O governo Modi está, por exemplo, buscando estreitar laços com Taiwan, em um momento em que a China tenta isolar a ilha.
A busca por uma relação econômica mais próxima não se limitou a Taiwan. A Índia também começou a fazer acordos práticos em tecnologia e manufatura, tentando minimizar a dependência excessiva da China em setores críticos. As colaborações na fabricação de semicondutores e na construção de infraestrutura são alguns exemplos de como a Índia busca diversificar suas parcerias.
Uma Parceria Discreta, mas Ambivalente
Porém, essa postura de firmeza em segurança não se reflete completamente nas relações econômicas. A Índia tem se mostrado ambivalente em sua abordagem de laços econômicos com a China, oscilando entre a busca por parceria e a preocupação com a soberania econômica. Embora tenha se oposto ao Belt and Road Initiative, também se beneficiou de outros empreendimentos liderados pela China.
É necessário que a Índia avalie com precisão essa dualidade. A dependência de componentes e equipamentos chineses pode resultar em vulnerabilidades durante crises, levando a um cenário de exploração. A imagem da Índia como uma potência emergente corre o risco de se deteriorar se o país não agir rapidamente para limitar a influência da China.
Caminhos para o Futuro
Para enfrentar a expansão chinesa a longo prazo, a Índia precisa não apenas desenvolver melhores equipamentos militares e se envolver em diplomacia adaptável, mas também abraçar a ideia de segurança econômica abrangente. Isso requer a capacidade de reduzir vulnerabilidades econômicas e reunir aliados políticos e econômicos para formar uma frente unida.
Inspirando-se em modelos internacionais, como o Japão, a criação de um ministério de segurança econômica na Índia se torna uma necessidade. Um órgão assim poderia orientar o país na diversificação das cadeias de suprimento e na busca de alternativas para reduzir a dependência da China.
Reflexão Final
Estabelecer uma política de segurança econômica em um cenário dominado pela presença chinesa não será uma tarefa fácil. Porém, com a determinação do governo Modi de enfatizar a necessidade de uma postura defensiva clara frente a qualquer agressão, é essencial que haja coerência nas políticas de segurança e economia. Caso contrário, a aspiração da Índia de desempenhar um papel mais significativo no cenário internacional será constantemente desafiada pela presença opressiva da China, tanto nas fronteiras quanto dentro do país.
O futuro das relações entre China e Índia requer uma abordagem holística e integrada, que aborde não apenas os conflitos de fronteira, mas também a interconexão entre segurança e economia. E você, o que pensa sobre a relação entre esses dois gigantes asiáticos? Acredita que a Índia conseguirá prevenir a influência chinesa e manter suas aspirações de potência regional? Compartilhe suas opiniões!