Caros leitores, digníssimas leitoras,
Desde a revolução Copernicana, ficou claro que o mundo gira em torno do progresso, mas no Brasil, parece que ele “capota”. Na semana passada, o governo federal decidiu jogar um balde de água fria no setor automotivo, impondo 35% de Imposto de Importação (II) para veículos eletrificados.
Com isso, o país retrocede algumas décadas na corrida para a eletrificação, colocando em xeque o crescimento das montadoras que apostaram no Brasil, especialmente as marcas chinesas BYD e GWM, que vinham ganhando mercado rapidamente.
A Nova Barreira ao Carro Elétrico
Segundo o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), a medida visa “estimular a produção nacional e promover a descarbonização da frota brasileira”. A retórica, no entanto, soa como uma velha solução para um problema moderno.
Relembrando o Inovar-Auto
Medidas semelhantes foram adotadas em 2012, com o programa Inovar-Auto, que sobretaxou importações e prejudicou a entrada de novas marcas. Na época:
- A JAC Motors ficou à beira do colapso.
- A Chery sobreviveu graças à aquisição pela CAOA.
- A Nissan registrou queda de 26% nas vendas.
A história agora se repete, mas com um alvo claro: as marcas chinesas GWM e BYD, que representam mais de 40% do mercado de carros eletrificados nos últimos meses.
Por Que o Consumidor Brasileiro Vai Perder?
O brasileiro mudou: ele busca tecnologia, inovação e qualidade, e está disposto a pagar por isso. Importações, que representavam 5% do mercado há 20 anos, hoje superam 15%.
O aumento do II vai impactar diretamente os preços:
- GWM Haval H6: de R$ 215 mil para cerca de R$ 300 mil.
- BYD Song Plus: de R$ 230 mil para um patamar semelhante.
Projeções apontam queda de 35% a 40% nas vendas dessas marcas ao fim do período escalonado de 30 meses.
Uma Indústria Sem Eficiência e Exportações
O argumento do governo para estimular a indústria nacional ignora a ineficiência do setor:
- Apenas 17% dos veículos produzidos no Brasil são exportados.
- O México, por comparação, exporta quatro vezes mais do que consome localmente.
Além disso, nenhuma menção foi feita sobre incentivos para a exportação. O foco parece ser apenas garantir a proteção de executivos e acionistas das montadoras tradicionais.
O Paradoxo dos Subsídios
Para piorar, o governo prorrogou, até 2032, o regime automotivo do Nordeste, isentando IPI e ICMS de montadoras instaladas na região, como a fábrica da Jeep. Essa política custa R$ 5 bilhões anuais em subsídios, enquanto o Imposto de Importação para carros elétricos gerará apenas R$ 3,2 bilhões em 30 meses.
Em resumo: o aumento da alíquota mal cobre um ano de isenções concedidas à Jeep.
O Futuro do Carro Eletrificado no Brasil
A decisão inviabiliza o crescimento das marcas chinesas e afasta o Brasil de um futuro mais sustentável e competitivo no setor automotivo global. Países como a China já têm 26% de seus carros eletrificados, enquanto aqui, seguimos presos ao passado.
Conclusão: Um Triste Fim?
Com o aumento de impostos e a falta de incentivos, a trajetória dos carros eletrificados no Brasil lembra uma tragédia anunciada, digna de Lima Barreto: “O triste fim do carro eletrificado no Brasil”.
Enquanto o mundo evolui, por aqui a roda gira… e capota.