O Papel dos Poderes Médios na Nova Ordem Mundial: O Caso da Turquia
Em tempos de incerteza crescente a respeito do futuro da ordem internacional, os poderes médios estão ganhando destaque. Países como Brasil, Indonésia e Arábia Saudita, juntamente com a Turquia, buscam se posicionar em um cenário geopolítico que se afasta do sistema de alianças dos EUA pós-Segunda Guerra Mundial, voltando-se para relações mais complexas e menos baseadas em normas tradicionais.
A Transformação da Turquia no Cenário Global
Desde a crise financeira global de 2008, a Turquia tem buscado aproximações além de seus aliados ocidentais tradicionais, como Estados Unidos e países da União Europeia. Com um número crescente de missões diplomáticas — terceiro maior do mundo, atrás apenas de EUA e China — o país está se firmando como um ator relevante em diversas crises, como as do Cáucaso e do Oriente Médio.
No contexto da síria, as políticas turcas demonstram como um poder médio pode impactar a dinâmica regional. Ao longo da guerra civil, que começou em 2011, a Turquia se opôs publicamente ao regime de Bashar al-Assad, oferecendo apoio a grupos de oposição. Quando muitos consideravam que Assad, apoiado por potências como Rússia e Irã, estava em posição confortável, a Turquia apostou em um cenário diferente. Em dezembro de 2024, por exemplo, o regime de Assad caiu, e os grupos apoiados por Ankara ganharam espaço em Damasco. Apesar da fragilidade da geopolítica regional, a Turquia consolidou sua influência sobre o futuro da Síria.
O Desafio do "Autonomia Estratégica"
No atual contexto internacional, os poderes médios, como a Turquia, precisam navegar suas próprias prioridades, buscando um equilíbrio entre múltiplas relações. O conceito de autonomia estratégica se torna central, marcado por um distanciamento das antigas obrigações com o sistema liberal internacional. Entretanto, se essas nações não forem cautelosas com suas escolhas, podem arriscar parcerias valiosas e sobrecarregar seus recursos diplomáticos.
Além das Fronteiras Ocidentais
As autoridades turcas estão cada vez mais determinadas a se posicionar como um jogador essencial em um mundo multipolar. Tradicionalmente, a diplomacia turca se concentrou na Europa e em seus aliados ocidentais, mas essa estratégia está mudando rapidamente. Em 2002, o comércio da Turquia com países asiáticos correspondia à metade do comércio com a União Europeia; 20 anos depois, essa relação se inverteu, e o comércio com a Ásia superou o europeu.
Aqui estão alguns dados intrigantes:
- O comércio da Turquia com países africanos cresceu mais de 50% entre 2014 e 2024, passando de 21,2 bilhões para 33,3 bilhões de dólares.
- O número de embaixadas turcas na África saltou de 12 em 2002 para 44 em 2022.
Além disso, a Turquia se comprometeu a ser um mediador no continente africano, promovendo diálogos entre líderes, como os de Etiópia e Somália, para resolver disputas regionais.
Desafios Econômicos e a Busca por Equilíbrio
Embora a Turquia tenha diversas alianças internacionais, o país enfrenta desafios internos econômicos. Investir em tecnologias de defesa, como a indústria de drones, é uma prioridade. Por exemplo, os drones Bayraktar TB2 se tornaram uma referência em conflitos pelo mundo e já são exportados para mais de 30 países. Em 2024, as exportações do setor de defesa e aeroespacial chegaram a 7,2 bilhões de dólares, aumentando quase 30% em relação ao ano anterior.
Entretanto, a Turquia deve manter equilíbrio em suas parcerias, uma vez que fortalecer laços em uma região pode prejudicar relações em outra. Por exemplo, depender do gás russo ao mesmo tempo em que deseja fortalecer laços com a Europa é um dilema que pode trazer consequências negativas.
A Necessidade de Políticas Internas Sólidas
Para reduzir sua vulnerabilidade econômica, a Turquia precisa de uma política industrial robusta e instituições fortes. Isso seria crucial para garantir que o país não se torne uma vítima da fragmentação do comércio global, especialmente em meio a tensões entre potências como EUA e China.
Um Jogo de Equilíbrio
Os poderes médios estão tentando encontrar um meio-termo, mas essa busca por autonomia estratégica não pode ser feita sem cautela. Exemplos do passado, como a expansão das políticas independentes da Turquia após as primaveras árabes, mostram que uma abordagem excessivamente assertiva pode levar a isolamento diplomático e crises econômicas internamente.
Atualmente, a Turquia precisa equilibrar suas relações tradicionais com o Ocidente e novas parcerias com potências não ocidentais. O modelo de diplomacia transacional adotado nos últimos anos não é suficiente para atender a interesses nacionais mais urgentes. Propostas para modernizar acordos comerciais com a UE, por exemplo, permanecem estagnadas.
Construindo um Futuro de Colaboração
Enquanto a Turquia navega por esse complexo cenário, tem a oportunidade de usar a transição da Síria como uma chance para reestabelecer laços com a Europa. A reconstrução da Síria requer um esforço conjunto, onde a colaboração entre a Turquia e a UE pode ser benéfica para ambas as partes.
A chave para se envolver com potenciais parceiros não ocidentais sem alienar aliados tradicionais está na construção de um diálogo que reconheça as preocupações e limites de cada parte. Isso não apenas ajudaria a estabilizar a situação na Síria, mas poderia também contribuir para um futuro mais equilibrado e cooperativo no Oriente Médio.
Uma Reflexão Necessária
A transição para um mundo multipolar oferece oportunidades, mas também apresenta riscos significativos. O desafio para a Turquia e outros poderes médios será encontrar um caminho que permita o crescimento sustentável e a segurança econômica, sem se perder nas complexidades de uma política externa que busca se conectar com todos os lados.
Assim, é fundamental que a Turquia, enquanto navega por essas águas turbulentas, faça escolhas estratégicas informadas e diminua a tensão com seus parceiros. Afinal, a busca por poder e influência deve ser equilibrada por uma base doméstica sólida e por uma política externa que valorize o compromisso e a cooperação.
Agora, convidamos você a refletir sobre como as dinâmicas de poder no cenário internacional estão mudando e como isso pode impactar o futuro de países como a Turquia. O que você pensa sobre as abordagens adotadas por potências médias nestes tempos de incerteza? Compartilhe suas opiniões e participe da conversa!