A Nova Era do Protecionismo: Como os EUA Estão Adotando as Práticas Chinesas
Uma Mudança de Rumo na Política Econômica dos EUA
Em fevereiro, enquanto sobrevoava o recém-batizado Golfo da América a bordo do Air Force One, o Presidente Donald Trump anunciou a imposição de tarifas sobre todas as importações de aço e alumínio. Apenas duas semanas depois, ele divulgou um memorando presidencial com novas diretrizes para a fiscalização de investimentos das empresas chinesas nos Estados Unidos e vice-versa. Ao longo das primeiras semanas de seu governo, Trump tem enfatizado a importância de trazer a manufatura de volta ao país, orientando as empresas a produzir localmente para evitar tarifas.
Esse retorno ao protecionismo, com restrições sobre investimentos e medidas que visam estimular a produção interna, revela uma curiosa aproximação entre a política econômica dos Estados Unidos e as práticas adotadas pela China na última década. De fato, os EUA, que historicamente defenderam uma ordem econômica aberta e liberal, começam a mimetizar estratégias que se assemelham ao estado capitalista nacionalista da China.
O Sonho da Integração Global
A antiga estratégia de engajamento com a China estava baseada na crença de que sua inclusão no sistema global de regras iria moldá-la para se tornar mais semelhante aos Estados Unidos. Durante anos, Washington pregou a política de não protecionismo, a eliminação de barreiras para investimento estrangeiro e a redução de subsídios. Surpreendentemente, a expectativa sempre foi de que a integração econômica levaria à convergência, mas não de maneira como os planejadores americanos previam.
O que se observou, na verdade, foi uma grande convergência, mas não no sentido esperado. Ao invés de a China se tornar mais parecida com os EUA, foram os Estados Unidos que começaram a se comportar de maneira mais semelhante à China. A liderança americana na criação de uma ordem econômica liberal está sendo desafiada pela crescente influência do protecionismo e do nacionalismo econômico chinês.
Caminhos de Liberalização e Estagnação
Nas décadas de 1990 e 2000, parecia claro que a China seguia um caminho inevitável rumo à liberalização econômica. Sob a liderança de Deng Xiaoping, o país abriu-se para investimentos estrangeiros e, sob os presidentes Jiang Zemin e Zhu Rongji, implementou reformas significativas que transformaram o tecido econômico chinês. Contudo, ao entrar na era dos presidentes Hu Jintao e Xi Jinping, essa trajetória se tornou menos linear, com uma crescente intervenção estatal e a formação de "campeões nacionais" através de subsídios massivos.
Isso resultou em uma desindustrialização acelerada nos Estados Unidos, que não estava totalmente prevista. A China, rapidamente, se tornou a principal fábrica do mundo, deslocando gigantes industriais como o Japão e a Alemanha. Em 2023, seu valor agregado na manufatura chegou a impressionantes 29%, conforme dados do Banco Mundial.
Como a China Venceu o Jogo
Os Estados Unidos tentaram, durante esse processo, pressionar a China a abrir seus mercados e a reduzir tarifas. No entanto, esses apelos muitas vezes não foram ouvidos. O governo Obama, por exemplo, teve que lidar com a ineficácia das negociações do ciclo de Doha, que visavam estabelecer regras mais justas para o comércio internacional, mas acabaram favorecendo a China em detrimento dos EUA.
Enquanto isso, Washington idealizou o Acordo Trans-Pacífico (TPP) como uma alternativa viável, unindo países em torno de padrões rigorosos de proteção ao trabalho e ao meio ambiente, além de limitar subsídios. No entanto, finalmente, o TPP encontrou resistência e os EUA se retiraram do acordo em um momento de aversão política a tratados comerciais.
A Resposta Americana ao Crescimento Chinês
Diante da falta de progresso nas negociações, os Estados Unidos passaram a se proteger, adotando tarifas e restrições que antes criticavam. Na administração de Trump, as tarifas sobre produtos chineses subiram drasticamente, e Biden continuou e até ampliou essas medidas. O impacto foi evidente: o investimento chinês nos EUA despencou de US$ 46 bilhões em 2016 para menos de US$ 5 bilhões em 2022, de acordo com o Rhodium Group.
E enquanto Washington buscava limitar a influência da China, começou a abraçar o conceito de política industrial, alocando trilhões em várias iniciativas, como o Ato de Investimento em Infraestrutura e o Ato CHIPS e Ciência. Essa mudança de postura representa a adoção de um modelo mais nacionalista e intervencionista.
A Necessidade de Adotar a Abordagem Chinesa
Muitos especialistas agora argumentam que os EUA poderiam se beneficiar ao seguir algumas das estratégias que tornaram a China tão competitiva. Isso incluiria, por exemplo, exigir que as empresas chinesas estabelecessem joint ventures com empresas americanas como condição para investir nos EUA. Tal estratégia não apenas aumentaria a competitividade industrial americana, mas também beneficiaria países da Europa que se sentem pressionados pela sobrecapacidade chinesa.
Um setor que exemplifica essa necessidade é o de tecnologia limpa, especialmente veículos elétricos. Com os fabricantes chineses liderando em inovação e custo, os EUA precisam repensar suas estratégias se quiserem proteger suas indústrias locais e facilitar a entrada de investimentos estrangeiros.
Uma Nova Visão para o Futuro
É incerto se os EUA conseguirão superar a China com sua nova abordagem. A capacidade de mobilizar capital por parte de Pequim e manipular políticas comerciais em prol de seus objetivos é vastamente superior. Mesmo com iniciativas como o Ato de Redução da Influição, a inquietude política pode colocar em risco esses avanços.
Estudos já mostraram que as tarifas não estão necessariamente criando mais empregos na manufatura americana. Enquanto isso, a insegurança relacionada a investimentos estrangeiros pode levar as empresas a hesitar em realizar novos aportes no país, noticiações que podem gerar um ciclo vicioso de desindustrialização.
O cenário atual é um reflexo de um profundo redirecionamento econômico, onde os Estados Unidos, ao tentar competir com a China, acabam por adotar práticas que há muito criticavam. A essência do capitalismo estatal nacionalista da China está agora ressoando nos corredores de Washington, e a batalha pela definição das regras da economia global está longe de terminar.
Essa transformação pede uma reflexão profunda sobre o que significa a competitividade no século XXI. Os Estados Unidos estão prontos para abraçar esse novo paradigma econômico? Certamente, a discussão está aberta, e a participação de todos é essencial para moldar o futuro. O que você pensa sobre essa nova realidade? Compartilhe suas ideias!