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Argentina: A Nova Era do Frango na Dieta Nacional
Na Argentina, famosa mundialmente por seu gado e cortes suculentos, um fenômeno inesperado está moldando os hábitos alimentares de seus 45 milhões de cidadãos: o frango se tornou o protagonista das mesas argentinas. Pela primeira vez na história do país, o consumo per capita de carne de frango ultrapassou o de carne bovina em 2024, conforme revelaram dados oficiais. Essa alteração radical ocorre em um contexto marcado pela inflação elevada, que ultrapassa três dígitos, e pelas medidas de austeridade implementadas pelo presidente Javier Milei.
Uma Mudança Necessária
A transição dos argentinos para o frango reflete uma necessidade econômica mais crescente do que uma simples mudança de gosto. As pessoas estão adaptando suas dietas, cortando gastos e buscando alternativas mais acessíveis. Araceli Porres, 45 anos, que trabalha em três empregos em Buenos Aires para sustentar sua família, expressa a nova realidade: “Eu como mais frango porque a carne é muito mais cara. O frango é bem mais em conta e rende muito mais.” Ela frequentemente prepara pratos como frango à milanesa e frango refogado, opções que se tornaram comuns em sua casa.
Os dados da Bolsa de Cereais de Rosário confirmam essa tendência: o consumo de frango saltou para 49,3 kg por pessoa, enquanto a carne bovina caiu para 48,5 kg, ainda mantendo a Argentina como um dos maiores consumidores de carne bovina no mundo. Para completar, a carne suína também ganhou espaço, subindo para 17,7 kg per capita.
Uma Questão de Preço
A diferença de preços entre as carnes é o principal motor dessa mudança. Daniel López, um açougueiro de Buenos Aires, explica que o quilo de carne bovina moída custa entre 5.000 a 6.000 pesos (aproximadamente 5 a 6 dólares), enquanto o preço do frango é praticamente a metade disso. “As pessoas estão muito atentas ao bolso”, afirma López. “Com os salários ainda baixos e a inflação elevada, todos perguntam sobre ofertas, e acabamos oferecendo maior quantidade de frango, que é uma opção econômica ideal.”
Uma Cultura em Transformação
Histórica e culturalmente, os argentinos têm uma ligação quase sagrada com a carne bovina. Os tradicionais churrascos, que reúnem famílias em jardins, churrascarias ou até mesmo em mini-fireplaces improvisadas, sempre foram o coração da culinária argentina. Com a carne bovina sendo um dos principais produtos da terra, sua redução no consumo pode ter impactos políticos significativos. Além disso, a Argentina é o segundo maior produtor de carne bovina e de frango na América do Sul, apenas atrás do Brasil.
Os Desafios do Setor de Carnes
O aumento dos preços da carne bovina pode se tornar um tema delicado para o governo de Milei, que busca implementar reformas e melhorar a economia. A câmara do setor de carnes da Argentina, liderada por Miguel Schiariti, ressaltou que a criação de gado tem custos mais altos em comparação à produção de carnes suína ou de frango. Isso leva à inevitável alta nos preços da carne bovina. “Atualmente, pelo preço médio de um quilo de carne bovina, você poderia comprar três quilos de frango ou quase dois quilos de carne suína”, explica. Ele acrescenta que, com a recuperação da economia em 2024, os preços das carnes podem continuar a subir, mas a produção também deve aumentar.
Reflexões Finais
A transição dos argentinos para o frango não é apenas uma questão de paladar, mas de sobrevivência econômica em tempos difíceis. Essa mudança alimenta discussões sobre acesso à alimentação e prioridades políticas em um país que sempre fez da carne bovina um símbolo de seu orgulho nacional. À medida que a situação econômica se desenvolve, ainda resta saber como essa nova dinâmica moldará o futuro das tradições alimentares argentinas.
O que você acha dessa mudança de hábitos? A carne de frango pode realmente substituir o tradicional churrasco argentino? Compartilhe suas ideias e experiências!
