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O Desafio da Indústria Alimentícia na Argentina
A indústria de alimentos e bebidas é fundamental para a economia argentina, assim como no Brasil. Em números, isso se traduz em 1 peso de cada 3 pesos gerados pela indústria, além de corresponder a 30% dos empregos formais no setor. Por fim, no campo das exportações, 40% do total deriva desse segmento.
A Crise e os Obstáculos da Indústria
No entanto, apesar de sua importância, a produção não avança como deveria. Há quase 15 anos, este setor encontra-se “estagnado”. Não é que a capacidade instalada esteja sendo utilizada em sua totalidade, mas sim que faltam condições competitivas para maximizar seu potencial. Esse é um ponto crítico que afeta toda a cadeia de valor do setor.
Em 2023, a indústria de alimentos experimentou um retrocesso, atingindo níveis semelhantes aos de 2012 e 2013, o que representa um estancamento de 12 anos. Esse desafio foi assumido por Carla Martín Bonito, que recentemente foi eleita presidente da Coordenador de Indústrias de Produtos Alimentícios (Copal), sucedendo Daniel Funes de Rioja, que ocupou a posição por 16 anos.
Novas Diretrizes para a Indústria Alimentar
Carla representa 33 setores da agroindústria e mais de 14.500 empresas. Para mudar essa realidade estagnada, ela decidiu renovar a agenda da Copal, focando em dois eixos principais: a competitividade, que passa pela redução de impostos e desregulação do comércio, e a internacionalização do setor. O objetivo é transformar a Argentina no “supermercado do mundo”.
O Panorama de 2024
Ao refletir sobre o ano de 2024, Carla descreve-o como um período desafiador, principalmente por conta da recessão. O setor enfrenta queda no consumo interno, com a capacidade instalada operando em torno de 60%. Contudo, a mudança na gestão do governo possibilitou uma abordagem proativa para discutir a reativação produtiva.
Os principais obstáculos incluem a falta de insumos e matérias-primas derivadas do complexo sistema de importações e as influências das regulamentações comerciais, como a Lei de Gôndolas e a intervenção nos preços. Implementar uma agenda focada na competitividade se torna crucial para a superação desse cenário.
A Agenda de Competitividade
Quais são os pilares dessa nova agenda? Primeiro, a intenção é reduzir a carga tributária, que atualmente gira em torno de 40% a 50%, dependendo do setor. A redução de impostos é vital para melhorar a competitividade e ter uma oportunidade de diálogo sobre harmonização e simplificação tributária.
- Proposta de um regime de transparência fiscal, permitindo identificar e medir a carga tributária consolidada.
- Criação de uma conta única para que as empresas possam ter maior disposição financeira para suas obrigações fiscais.
O Impacto da Tributação no Setor
Essa alta pressão tributária transforma o setor numa espécie de “exportador de impostos”, dificultando a inserção no mercado internacional. Com apenas 1.200 das 14.500 empresas representadas realizando atividades de exportação, é evidente a necessidade de desenvolver uma estratégia mais robusta para ampliar a presença internacional.
Neste sentido, a Copal está focando num inventário das dificuldades de acesso a mercados externos e na eficiência da logística, que hoje podem acarretar em custos adicionais de 15% a 30% devido à infraestrutura inadequada, como estradas e portos.
Expectativas com o Novo Governo
A nova administração tem se mostrado receptiva à resolução dessas questões. A eliminação gradual do imposto país e mudanças nas taxas de exportação são passos propostos, conforme reafirmado pelo presidente Javier Milei. O governo busca explorar possibilidades que atendam à proposta de reduzir a carga tributária, sempre com a meta de manter um custo fiscal zero.
O Que Motivou o Aumento dos Preços dos Alimentos?
Um dos paradoxos do setor é o fato de a Argentina ser um produtor agrícola robusto e ainda assim enfrentar altos preços nos alimentos. A resolução dessa questão está ligada à recuperação do poder aquisitivo. O controle inflacionário é um dos principais fatores que impacta o consumo. Se a inflação for contida, o preço dos produtos deve começar a se estabilizar.
A partir das iniciativas atuais, a indústria está comprometida em acompanhar esse processo. Recentemente, observou-se uma desaceleração da inflação, atingindo níveis que superaram todas as previsões anteriores.
Os Causadores da Estagnação Setorial
O estancamento da indústria alimentícia nos últimos 10 a 12 anos pode ser atribuído a vários fatores. Mesmo diante de uma demanda global crescente, a indústria argentina não conseguiu deslanchar. Embora tenha alcançado picos de produção, a recuperação não foi mantida.
Analistas apontam a necessidade de focar na capacidade ociosa existente, estimulando a utilização dessa capacidade, principalmente no curto prazo, além de incentivar novos investimentos para o futuro.
A Visão do “Supermercado do Mundo”
Carla acredita firmemente no potencial da Argentina para se posicionar de maneira vantajosa no mercado global. Atualmente, o país apenas 1% das compras internacionais de alimentos, apesar de produzir uma variedade ampla de produtos. A chave está em criar as condições necessárias para uma inserção mais eficaz.
Reforçando que a estrutura de produtos exportados é concentrada em poucos segmentos – 77% da oferta exportável vem de três complexos – é vital diversificar tanto os produtos quanto os mercados de destino. Isso permitirá uma melhor inserção do país no comércio global.
Reflexões Finais
A trajetória da indústria alimentícia na Argentina é marcada por desafios, mas também por oportunidades. O caminho para se tornar o “supermercado do mundo” depende não só da força produtiva, mas de uma série de condicionantes que facilitem a integração com o mercado externo. É essencial fomentar uma cultura de inovação e incentivo aos exportadores.
O futuro das empresas do setor passará pelas ações do governo, com uma agenda de competitividade que alinhe desafios fiscais e logísticos. O espírito de diálogo e a busca por soluções conjuntas serão fundamentais para reverter a estagnação e preparar o terreno para um crescimento consistente, refletindo o verdadeiro potencial da Argentina no cenário global.