A Nova Estratégia de Sabotagem da Rússia: O Que Esperar?
Recentemente, no final de janeiro, durante um depoimento ao Parlamento Europeu, um alto oficial da OTAN lançou um alerta sobre a crescente ameaça do uso de guerra híbrida pela Rússia. James Appathurai, Subsecretário-Geral Assistente da NATO para Inovação, Híbrido e Ciber, destacou uma série de incidentes de sabotagem que ocorreram em países da OTAN nos últimos anos, como descarrilamentos de trens, incêndios criminosos e até mesmo planos de assassinato contra líderes industriais. Desde que o presidente russo Vladimir Putin iniciou a guerra em grande escala na Ucrânia em 2022, operações de sabotagem ligadas à inteligência russa foram reportadas em 15 países. Em sua fala, Appathurai enfatizou a necessidade urgente da OTAN considerar uma postura de “preparação para guerra” para lidar com o aumento desses ataques.
A Mudança de Foco da Administração Trump
Nos dias que se seguiram ao depoimento de Appathurai, os esforços de Donald Trump para se aproximar de Putin acabaram colocando a questão das sabotagens em segundo plano. Na tentativa de negociar um acordo rápido para encerrar o conflito na Ucrânia, a administração Trump tem promovido uma nova era de relações entre Washington e Moscou. Entretanto, esse movimento também trouxe consequências preocupantes: o governo começou a desmantelar iniciativas no FBI e no Departamento de Segurança Interna que visavam combater a guerra cibernética, a desinformação e a interferência nas eleições, muitas vezes associadas a ações russas. Trump chegou até a sugerir que a Rússia poderia ser confiável em um eventual acordo de paz, indicando que Putin seria “mais generoso do que deveria”.
Mas será que podemos realmente acreditar que um acordo entre Trump e Putin diminuiria as atividades infiltradas do Kremlin? Essa expectativa pode ser uma armadilha. Poucos na estrutura de segurança de Moscou acreditam que seja possível alcançar uma paz duradoura com os EUA ou o Ocidente como um todo. Fyodor Lukyanov, chefe de pesquisa do Valdai Club, um think tank pró-Kremlin, declarou que não existe chance de um “segundo Yalta”—um acordo global que reconfigure as fronteiras e esferas de influência na Europa. Além disso, Dmitry Suslov, outra voz influente da política externa do Kremlin, acredita que qualquer melhoria nas relações EUA-Rússia será efêmera e não sobreviverá às eleições de meio de mandato nos Estados Unidos em 2026.
A Mistrustão do Ocidente e a Mobilização das Agências de Inteligência Russas
As agências de inteligência da Rússia têm uma profunda desconfiança em relação às intenções dos EUA. Historicamente, a Rússia sempre enxergou o Ocidente como uma ameaça à sua soberania. Esse cenário levou os serviços de inteligência soviéticos e russos a operar sob a premissa de que o Ocidente é um inimigo imbatível. O interesse do Trump em estreitar laços com Putin, por sua vez, tem sido encarado por Moscou como uma oportunidade para expandir sua campanha de subversão na Europa. A desconfiança do governo Trump em relação à OTAN, junto com sua política de defesa dos aliados transatlânticos, pode incentivar a Rússia a intensificar ataques não convencionais na região.
Após três anos de guerra aberta na Ucrânia, as agências de espionagem da Rússia estão totalmente mobilizadas na Europa, criando uma estratégia combinada de sabotagem e guerra híbrida. Esses ataques têm o objetivo de não apenas desestabilizar governos europeus, mas também minar o suporte público à Ucrânia, aumentando os custos para as economias nacionais de uma maneira que seja difícil de evitar. A sabotagem é uma ferramenta que visa explorar as vulnerabilidades da defesa europeia e, se a resposta ocidental não for contundente, Moscou não verá barreiras em intensificar suas operações.
Operações de Sabotagem: O Caso da Rheinmetall e Outros Ataques
Desde a anexação da Crimeia em 2014, as agências de espionagem da Rússia vêm testando operações de sabotagem fora de suas fronteiras como forma de pressionar o Ocidente. Inicialmente, tais ações incluíram ataques pontuais, como a explosão de depósitos de munições na República Tcheca por agentes do GRU, a inteligência militar da Rússia. Contudo, após a invasão da Ucrânia em 2022, a Rússia foi inicialmente isolada. Em 2023, entretanto, uma nova fase de operações começou a ser implementada.
Um dos casos mais ousados ocorreu em 2024, quando foi registrada uma tentativa de assassinato de Armin Papperger, chefe da Rheinmetall, o maior fabricante de armas da Alemanha. Essa ação foi frustrada graças à colaboração entre agências de inteligência da Alemanha e dos EUA. Além deste caso, a OTAN tem detectado diversas outras conspirações contra líderes da indústria europeia, indicando que a ameaça persiste, especialmente à medida que empresas de defesa como a Rheinmetall aparecem como protagonistas no fornecimento de armas para a Ucrânia.
O Uso de Grupos Criminosos e Mecanismos de Manipulação
Um outro ponto relevante é a crescente utilização de “gangues criminosas” ou jovens despreparados para realizar essas operações de sabotagem. Por exemplo, no início de 2024, dois britânicos foram presos por atear fogo a um armazém associado à Ucrânia em Londres, um ataque vinculado ao grupo paramilitar Wagner, conhecido por atuar como uma extensão das operações de inteligência russa. Esse tipo de recrutamento facilita as ações de sabotagem, pois os criminosos podem ser aliciados por meio das redes sociais. Assim, Moscou pode realizar operações sem expor diretamente seus agentes.
Além de atacar a infraestrutura e logística militar da Europa, as agências de espionagem russas podem também explorar operações de sabotagem para influenciar o cenário político nos países-alvo. Em um episódio relacionado, durante as eleições federais na Alemanha, diversas ações violentas envolvendo imigrantes foram registradas, levantando suspeitas de que agentes de inteligência russos poderiam ter instigado esses incidentes com o intuito de aumentar o apoio a partidos de extrema-direita.
A Nova Face da Repressão Transnacional
Nos últimos anos, a Rússia tem intensificado o uso de reféns como uma estratégia coercitiva. O número de cidadãos estrangeiros, especialmente dos EUA e da Europa, sequestrados nas mãos das autoridades russas aumentou consideravelmente. Isso ocorre sob pretextos diversos, como a apreensão de pequenas quantidades de drogas, ou mesmo doações a instituições ucranianas.
Diferente da Guerra Fria, onde a troca de prisioneiros se limitava a negociações discretas, a atual situação transformou prisioneiros em uma importante moeda de barganha nas relações geopolíticas. Exemplos recentes incluem o caso da jogadora de basquete americana Brittney Griner, onde os olhares do mundo se voltaram para a Rússia durante as negociações para sua liberação.
Com isso, a função das agências de espionagem está se institucionalizando, fazendo com que o recrutamento e a troca de reféns sejam vistos como parte de uma estratégia mais ampla de influência e pressão sobre potências ocidentais.
O Futuro das Relações Rússia-Ocidente e da Segurança Europeia
Diante de toda essa complexa rede de manipulações e ataques, a resposta do Ocidente ainda se mostra insuficiente. Medidas como expor agentes russos e reduzir a escala das operações de sabotagem são, por ora, o cerne da estratégia ocidental. Entretanto, a implementação de novas técnicas de monitoramento e iniciativas de segurança em nações da Europa Oriental, especialmente na proteção de infraestruturas críticas, são passos positivos.
As tensões entre EUA e Rússia continuarão a se intensificar, especialmente sob a administração Trump, que já reformulou prioridades dentro da comunidade de inteligência americana. A diminuição da vigilância sobre a Rússia pode abrir brechas e oportunidades para um aumento das operações de espionagem e subversão em países ocidentais, levando à repetição de erros do passado que subestimaram as intenções de Moscou.
Refletindo sobre todas essas informações, fica claro que o Ocidente precisa se unir e criar um plano coerente para enfrentar essa nova realidade, prestando atenção nas lições aprendidas e se preparando para os desafios à frente. A batalha contra a desinformação e a subversão está longe de ser encerrada, e a vigilância deve ser constante.
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