O Futuro da Pecuária Brasileira: Rastreabilidade Bovina em Foco
Na última terça-feira (17), o Ministro Carlos Fávaro anunciou um marco significativo para a pecuária brasileira com a introdução do Plano Nacional de Rastreabilidade Bovina (PNIB). Este plano ambicioso visa estabelecer um sistema eficaz de identificação individual dos bovinos em todo o Brasil. O projeto nasceu de uma colaboração entre um Grupo de Trabalho (GT) que envolveu representantes dos setores público e privado, além de produtores rurais e da indústria.
Um Sistema de Rastreabilidade Estruturado
A nova legislação permitirá a rastreabilidade dos bovinos em função da categoria e do tipo de movimentação, abrangendo aspectos como trânsito de animais entre estados, destino para abate e transferências entre propriedades. A implementação acontecerá em etapas, com a meta de finalizar o processo até 2032. O cronograma inclui:
- 2025: Desenvolvimento do sistema e da base de dados federal.
- 2026: Adequações na plataforma e integração dos dados estaduais e federais.
- 2027: Início da obrigatoriedade da identificação dos bovinos.
- Até 2032: Todos os bovinos destinados ao abate devem estar identificados.
Um dos principais requisitos da nova norma será a inserção de um elemento eletrônico em cada bovino ou bubalino, como brincos ou bottons auriculares eletrônicos. Embora a obrigatoriedade tenha gerado descontentamento entre os pecuaristas, há um consenso sobre a necessidade de avançar nesse tema, especialmente quando os produtores percebem benefícios em eficiência, produtividade e lucratividade.
O Contexto Global da Rastreabilidade
No cenário internacional, o Brasil se destaca como uma das poucas grandes potências de exportação que ainda não implementou um sistema robusto de rastreabilidade individual. A rastreabilidade é mais do que uma exigência normativa; representa um compromisso da pecuária brasileira com a sanidade animal. O anúncio reforça que, embora o programa não esteja vinculado diretamente a questões de desmatamento, há um potencial para que as informações coletadas contribuam para dados de georreferenciamento no futuro.
Os Desafios da Implementação
Implementar um plano tão abrangente em um país de dimensões continentais e com uma pecuária tão diversificada quanto a brasileira é um grande desafio. Em 2002, o Brasil lançou o SISBOV, um sistema de rastreamento que, apesar de sua importância, se tornou voluntário e é utilizado principalmente por produtores que exportam seus produtos, representando cerca de 30% da produção total.
A adoção da rastreabilidade é vista como uma oportunidade para a cadeia do agronegócio sustentável, com a indústria e compradores internacionais a apoiando. Entidades como a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) e a Mesa Brasileira da Pecuária Sustentável (MBPS) consideram a criação do PNIB um avanço significativo. Ana Doralina Menezes, presidente da MBPS e integrante do GT que desenvolveu o plano, destaca que:
“O Plano Nacional de Identificação Individual de Bovinos e Bubalinos representa um avanço significativo para a pecuária brasileira, reforçando a transparência, sustentabilidade e a confiabilidade da cadeia de valor.”
Benefícios da Rastreabilidade para o Produtor Rural
Para os produtores rurais, a rastreabilidade é uma chance de agregar valor aos seus produtos, oferecendo garantias sanitárias e transparência na cadeia produtiva. Essa iniciativa irá facilitar o controle do trânsito animal e promover um compliance socioambiental mais rigoroso, criando um ambiente mais seguro tanto para a saúde pública quanto para o meio ambiente.
Atendendo às Exigências do Mercado Internacional
De acordo com Carlos Goulart, secretário de Defesa Agropecuária, a questão da rastreabilidade é uma cobrança antiga dos países importadores. A implementação desse sistema não apenas melhorará a capacidade de controle de programas de saúde animal, mas também aprimorará a resposta a surtos sanitários e a imagem do Brasil perante os parceiros comerciais.
A Oportunidade de Novos Mercados
A introdução do PNIB e a rastreabilidade apropriada podem abrir as portas para novos mercados internacionais, combatendo a concorrência desleal e fortalecer a imagem dos produtos brasileiros no exterior. Quando se pode comprovar a sustentabilidade e o controle sanitário da produção, o Brasil se torna mais competitivo e confiável aos olhos de compradores. Além disso, práticas de rastreabilidade podem ajudar a conter possíveis ataques aos produtos brasileiros em tempos de crise.
Reflexões Finais
A implementação do Plano Nacional de Rastreabilidade Bovina representa um passo significativo rumo à modernização e à sustentabilidade da pecuária brasileira. Ao adotar práticas de rastreabilidade, os produtores não só estarão cumprindo com exigências legais, mas também contribuindo para um setor agropecuário mais ético e eficiente. O futuro da pecuária depende não só de atender às demandas internas, mas também de conquistar a confiança dos mercados internacionais.
É essencial que todos os envolvidos, desde pequenos produtores até grandes empresas do setor, unam forças para fazer do PNIB um sucesso. Ao final, todos têm a ganhar: produtores, consumidores e o próprio país. Como você vê a implementação da rastreabilidade na pecuária brasileira? Compartilhe suas opiniões e reflexões sobre esse assunto tão importante!
*Helen Jacinto é engenheira de alimentos com mais de 15 anos de experiência em diferentes fazendas e no setor de seleção genética. Ela tem um sólido histórico acadêmico e uma abordagem prática voltada para a sustentabilidade e adequação no agronegócio.
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