Rastrear a origem do gado é uma preocupação crescente em diversas partes do mundo, e no Brasil essa discussão não é nova. Desde os anos 2000, o país vem debatendo a rastreabilidade do rebanho, e a expectativa é que, no dia 17 de dezembro, o Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) anuncie o aguardado Plano Nacional de Rastreabilidade Bovina, que tornará essa prática obrigatória para todos os pecuaristas.
Uma História de Vinte Anos em Rastreabilidade
O conceito de rastreabilidade animal no Brasil começou a ser esboçado em 1997, quando o país decidiu adotar um modelo similar ao da União Europeia. Depois da crise do Mal da Vaca Louca, que afetou severamente a indústria pecuária na Europa, surgiram novas exigências para garantir a segurança alimentar, levando à implementação de sistemas rigorosos de rastreamento de bovinos.
No auge da epidemia, entre 1992 e 1993, o Reino Unido registrou quase 100 mil casos, e milhões de bovinos foram sacrificados. Apesar de o Brasil ter sido considerado um país de risco mínimo para a doença, a pressão internacional por rastreabilidade se intensificou.
Os Primeiros Passos do Brasil na Rastreabilidade
O marco inicial para a rastreabilidade no Brasil ocorreu em 2002, com a criação do Sistema Brasileiro de Rastreabilidade da Cadeia de Bovinos e Bubalinos (SISBOV). Esse programa visava a fiscalização das propriedades rurais que produzem ou comercializam carne voltada para exportação. No entanto, a adesão ao SISBOV era voluntária, o que fez com que muitos pecuaristas só se preocupassem com a rastreabilidade a partir do momento em que seus animais estavam prestes a ser comercializados.
Segundo especialistas da Coalizão Brasil Clima, Florestas e Agricultura, apesar de pioneiro, o SISBOV ainda apresenta limitações, como a dificuldade de implementação e a adesão tardia, com muitos agricultores registrando seus animais apenas meses antes do abate, não desde o nascimento, como era exigido por compradores internacionais.
Novos Desafios e Avanços Individuais
Nos últimos anos, grandes frigoríficos, como JBS, Marfrig e Minerva, implementaram suas próprias iniciativas de rastreabilidade. Essas empresas já têm 100% de seus fornecedores registrados, mas ainda se deparam com desafios em rastrear o histórico completo de cada animal, pois eles costumam transitar entre diversas propriedades antes de chegarem ao frigorífico.
Apesar de as exigências de rastreabilidade terem inicialmente surgido devido à fiscalização europeia, hoje a situação evoluiu. A rastreabilidade se tornou uma exigência amplia de mercados em todo o mundo, não se limitando apenas à pecuária, mas abrangendo as expectativas de consumidores cada vez mais preocupados com a origem e a qualidade dos produtos.
Rastreabilidade: Um Motor para o Mercado Pecuário
Em diversos países, como Austrália, Argentina, Uruguai, Chile e Canadá, já existem sistemas de rastreamento semelhante e amplamente implementados. Assim, o Brasil busca progredir com o novo Plano Nacional de Rastreabilidade Bovina, que será obrigatório para todos os pecuaristas.
O cronograma estipulado permite um período de adaptação de dois anos (2025 e 2026) para a implementação de um banco de dados e testes necessários, com a adoção definitiva programada para 2027. O plano é que a rastreabilidade proporcione não apenas um aumento no percentual de animais registrados, atualmente em torno de 2% do rebanho nacional, mas também um aprimoramento na saúde animal e uma resposta mais eficaz a surtos epidemiológicos.
O Impacto da Rastreabilidade na Pecuária Brasileira
O Brasil abriga um rebanho bovino que impressiona qualquer um: cerca de 238,6 milhões de animais, conforme os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Apesar disso, a integração de um sistema robusto e abrangente de rastreabilidade é vital para o fortalecimento e a competitividade desse setor, especialmente no mercado internacional.
Além de garantir a segurança alimentar e atender às demandas de mercados exigentes, a rastreabilidade também pode ajudar os pecuaristas a elevar a qualidade de sua produção e a honrar o compromisso do Brasil com práticas sustentáveis, o que, em última análise, pode beneficiar o bem-estar animal e o meio ambiente.