O Papel do Agro na Luta Contra o Aquecimento Global
À medida que nos aproximamos da COP 30, a 30ª Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima, que ocorrerá em Belém nas próximas semanas, diversas vozes se levantam para destacar a importância primordial do Brasil, especialmente na esfera agrícola. O professor Carlos Eduardo Cerri, uma dessas vozes, é uma referência neste campo.
Um Legado de Conhecimento e Esperança
Cerri é professor titular do Departamento de Ciência do Solo da Esalq/USP, além de diretor do Centro de Estudos de Carbono em Agricultura Tropical e pesquisador do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Ao longo de 15 anos como membro do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC), sua bagagem acadêmica oferece dados cruciais que podem redefinir a narrativa do Brasil durante o evento.
A COP 30 é vista como uma janela única de oportunidade. Em um contexto global onde, historicamente, países dependentes de combustíveis fósseis dominam as discussões, o Brasil pode agora se posicionar como um líder. Cerri se reuniu recentemente com a Rede Agrojor, composta por cerca de 100 jornalistas de 11 estados, e destaca: “Temos a chance de trazer uma discussão mais complexa que não foi realizada nas edições anteriores.”
A Nova Realidade das Emissões
Diferentemente do padrão global, onde 73% das emissões de gases de efeito estufa se originam da queima de combustíveis fósseis, o Brasil se apresenta de forma distinta. Aqui, 46% das emissões vêm do desmatamento, enquanto 27% são atribuídos ao setor agropecuário, resultando em um total de 73% provenientes do meio rural. Assim, o peso dos combustíveis fósseis em território nacional é de apenas 18%.
Cerri afirma: “É o único país onde metade da emissão vem de um setor que não é considerado econômico.” Essa realidade ressalta a importância de se combater o desmatamento ilegal, que representa uma grande parte das emissões brasileiras. O professor alerta que, sem um esforço considerável para eliminar essas práticas, as emissões permanecerão altas.
Desmistificando o Plano Clima
Dentro do contexto da COP 30, o Plano Clima brasileiro suscita preocupações, especialmente em relação à atribuição de 70% do desmatamento ao setor agropecuário. “Isso é um erro metodológico e político. Há muita grilagem e desmatamento ilegal que não está ligado diretamente à agricultura”, sinaliza Cerri.
Ele argumenta que as emissões e as remoções não estão sendo contabilizadas de forma equilibrada. Por exemplo, os benefícios dos biocombustíveis na redução de emissões do setor de transporte não compensam as emissões geradas pela produção de insumos agrícolas, como fertilizantes.
Para corrigir essas discrepâncias, foi formada uma aliança entre Embrapa, CICARBON e a Fundação Getúlio Vargas, que colabora na elaboração do inventário nacional de gases de efeito estufa. Cerri defende que as emissões devem ser corretamente atribuídas aos setores, e não misturadas indiscriminadamente.
O Mercado de Carbono e os Desafios
Um desafio que o Brasil enfrenta nas negociações internacionais está ligado à falta de dados específicos para climas tropicais. As certificações utilizadas atualmente se baseiam em fatores de emissão desenvolvidos para climas temperados, o que não se aplica à realidade brasileira. Cerri explica que, ao invés de usar dados apropriados, muitas vezes recorre-se a informações que não refletem a verdadeira situação do agro nacional.
Ainda assim, o Brasil tem um potencial enorme para sequestrar carbono. O solo nacional pode armazenar entre 1.500 a 2.000 gigatoneladas de carbono. Com um milhão de hectares convertidos de práticas convencionais para o plantio direto, que sequestra carbono, o país se destaca no âmbito global.
Entre as muitas práticas que podem ser adotadas, destaca-se o Programa de Agricultura de Baixa Emissão de Carbono (ABC), que já implementou ações sustentáveis em mais de 58 milhões de hectares.
A Urgência de Ação Sustentável
As mudanças climáticas já estão afetando a agricultura brasileira. Com um aumento médio de 1,4 graus na temperatura global, diversas regiões do país já superaram os 2 graus Celsius. Projeções alarmantes indicam uma redução de 23% na produtividade do feijão, 50% no milho e 80% na soja em cenários pessimistas. Diante disso, é fundamental que o Brasil continue investindo em práticas sustentáveis.
Cerri conclui: “Essas práticas agrícolas regenerativas não apenas melhoram a resiliência dos sistemas produtivos, mas também são essenciais para a saúde do solo, das plantas e dos animais.” Ele enfatiza que, em momentos de crise, sempre haverá diferença entre aqueles que adotaram práticas sustentáveis e os que não o fizeram.
Um Olhar para o Futuro
É certo que o Brasil, com seu vasto potencial agropecuário e recursos naturais, possui a capacidade de se tornar uma referência global na luta contra o aquecimento global. Para isso, é preciso coragem e determinação.
O país está diante de uma oportunidade sem precedentes para moldar a realidade climática do futuro. Agora é a hora de agir, investir e direcionar os esforços para o desenvolvimento sustentável. Afinal, o que estamos fazendo hoje influenciará diretamente as próximas gerações. E, como afirma Cerri, “é uma questão de escolha e responsabilidade.”
O Que Você Acha?
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