
As empresas de biotecnologia, conhecidas como biotechs, estão promovendo transformações significativas em vários setores, buscando soluções para desafios globais prementes. Nesse contexto, surge a expectativa de que o Brasil se torne a maior potência em biotecnologia da América Latina, conforme revela um novo estudo da Empreendimento, uma organização global que apoia o empreendedorismo de alto impacto, em colaboração com a Emergir. Este relatório apresenta dados coletados de 135 fundadores e 94 empresas, além de entrevistas com mais de 30 especialistas, e analisa as perspectivas para as biotechs no Brasil, marcando a inclusão do setor no portfólio de empresas apoiadas pela organização.
O estudo identifica diversas condições favoráveis que podem catapultar o Brasil para a liderança no segmento de biotecnologia. O país se destaca como o maior mercado de capital de risco (VC) na América Latina, possui o maior polo de produção científica da região e é o país mais biodiverso do mundo. Além disso, ocupa a terceira posição em produção de alimentos e mantém um sistema de saúde pública robusto.
O ecossistema de inovação já assistiu a várias ondas tecnológicas, com exemplos de sucesso internacional como Nubank, 99 e VTEX. Agora, nos encontramos em uma nova fase, marcada por tecnologias pioneiras que abordam grandes questões globais. O Brasil aparece, assim, como estrategicamente posicionado para liderar não apenas na América Latina, mas também em um cenário global.
Setores de Destaque na Biotecnologia Brasileira
O relatório categoriza as startups de biotecnologia em quatro segmentos principais, evidenciando o impacto potencial dessa indústria no país:
- Produção de Alimentos: Iniciativas voltadas para alternativas alimentares inovadoras, incluindo proteínas vegetais e carne cultivada. A Cellva se destaca como a primeira biotech brasileira a se integrar a uma incubadora europeia especializada em ingredientes alimentares.
- Cadeia de Produção do Agro: Startups focadas em aumentar a eficiência e a sustentabilidade na produção agrícola. Um exemplo é a Galy, que oferece algodão de alta qualidade, atendendo à crescente demanda por soluções mais sustentáveis.
- Ciências da Vida (Humana e Animal): Inovações no diagnóstico, tratamento e prevenção de doenças. A gen-t, com seu banco genético diversificado, é um dos maiores projetos da América Latina nesse setor.
- Insumos Químicos e Materiais: Focadas em desenvolver bioplásticos, enzimas industriais e bioenergia sustentável, essas empresas buscam alternativas ecológicas que possam substituir práticas tradicionais da indústria.
Desafios Encontrados Pelo Caminho
Apesar do vasto potencial, as biotechs brasileiras enfrentam desafios significativos, principalmente em relação ao tempo necessário para maturação das tecnologias e à captação de recursos. A trajetória de uma biotech é longa e complexa, especialmente nas áreas de saúde e agronegócio, onde o processo de pesquisa e desenvolvimento pode levar de 1 a 7 anos para resultar em produtos comercializáveis. Qualquer falha nesse processo pode ser catastrófica, mas a recompensa por um sucesso pode ser imensamente gratificante.
O estudo também indica que, embora o Brasil concentre a maior parte dos investimentos em biotecnologia da América Latina, a discrepância em relação a outras indústrias, como as fintechs, que atraem capital significativamente maior, é preocupante. Para fomentar o crescimento desse setor, é preciso aumentar o número de investidores especializados em biotecnologia.
Outro aspecto crucial destacado no estudo é a importância da internacionalização precoce para as biotechs brasileiras. Empresas com operações no exterior conseguem acessar um maior leque de tecnologias, mercados e capital. Apesar de o Brasil ser o quinto maior produtor de publicações científicas na área de biociências e agro, atualmente, apenas 12% das biotechs fundadas no Brasil operam internacionalmente, o que limita o acesso ao mercado global e as oportunidades de captação de recursos.
O Papel do Empreendedor Cientista no Futuro das Biotechs
O perfil do fundador de biotech é um fator determinante para o sucesso no setor. Mais de 54% das biotechs brasileiras são lideradas por acadêmicos, o que reflete a sólida base científica do país. No entanto, empresas que possuem uma liderança mista, combinando cientistas e empreendedores, tendem a ser mais bem-sucedidas na atração de investimentos, especialmente nas fases iniciais. Curiosamente, as biotechs lideradas apenas por acadêmicos podem alcançar maiores valuations nas rodadas de investimento Série B. Essa combinação de expertise científica e sensibilidade ao mercado se mostra essencial para impulsionar o setor.
À medida que a biotecnologia se consolida como um pilar fundamental para o futuro, o Brasil possui uma oportunidade única de posicionar-se como um líder não só na América Latina, mas também no cenário global. Contudo, para que essa visão se concretize, é vital que haja um alinhamento entre o governo, a academia e o setor privado, transformando potenciais em resultados sustentáveis. O que está em jogo agora é a construção do futuro da biotecnologia no Brasil, e as próximas décadas serão cruciais para firmar o país como um hub global de inovação nesse setor promissor.