
Em São Paulo, você pode escanear sua íris em mais de 40 locais distribuídos pela cidade e, em troca, receber um valor equivalente a R$750 na forma de uma moeda virtual chamada WDL, além de um certificado que confirma sua condição de ser humano. Essa opção é oferecida pela startup Tools for Humanity, que já atua na capital paulista e em mais de 50 cidades ao redor do mundo, atraindo a atenção e levando centenas de brasileiros a seus pontos de coleta.
O crescimento do interesse nesse serviço gerou a necessidade de fiscalização, levando a Agência Nacional de Proteção de Dados (ANPD) a abrir um processo investigativo. Iniciado no final do ano passado e anunciado aos meios de comunicação recentemente, o foco é examinar a legalidade das operações da empresa. Segundo o órgão, dados biométricos, incluindo íris, digitais e características faciais, são considerados dados pessoais sensíveis, exigindo um tratamento rigoroso conforme a legislação vigente.
Questões Legais em Jogo
A ANPD declarou que sua investigação abrange diversos aspectos:
- As circunstâncias das atividades de tratamento de dados.
- Os fundamentos legais que sustentam tais operações.
- A transparência no tratamento de dados pessoais.
- A possibilidade de exercer direitos por parte dos titulares dos dados.
- Avaliando as consequências do tratamento sobre os direitos à privacidade.
- As práticas de proteção de dados pessoais, especialmente de crianças e adolescentes.
Estima-se que a Tools for Humanity já tenha coletado dados de cerca de 200 mil brasileiros. A legislação garante que o tratamento de dados sensíveis é cercado de regras rigorosas para proteger os indivíduos.
Experiências de Quem Participou
A startup, que tem sede em São Francisco e Munique, começou suas atividades no Brasil em novembro de 2024. O projeto, denominado World ID, busca remunerar indivíduos dispostos a escanear suas íris globalmente. O pagamento é realizado através do token WLD, cujo valor mensal médio é de R$750.
Em uma entrevista exclusiva à Forbes Brasil no final de 2024, Damien Kieran, Chief Privacy Officer da Tools for Humanity, mencionou que o Brasil é um lugar estratégico para a empresa, visando verificar um máximo de pessoas e permitir que elas acessem a economia global. “Neste contexto, o Brasil é imprescindível”, enfatizou.
Guilherme Barbosa, um entusiasta do mundo cripto, compartilhou sua experiência após acompanhar o projeto desde seu início. Ele vê grande potencial nas transações digitais que podem utilizar a íris como uma forma segura de autenticação, dispensando senhas e outros métodos. “Participar desse projeto é uma oportunidade de estar à frente em tecnologia. Fiz meu escaneamento no Shopping Vila Olímpia, em São Paulo”, revelou.
Outra participante, Telma Soares, de 50 anos e moradora de Osasco, decidiu experimentar a coleta na Lapa, na Zona Oeste de São Paulo, a convite de uma amiga que já havia participado. “Achei interessante fazer algo diferente e ainda ser recompensada com um valor atraente, mesmo sem entender muito sobre criptomoedas”, contou. Vários relatos nas redes sociais mostram pessoas optando por essa oportunidade, e o aplicativo criado para o serviço facilita a troca do token por dinheiro via PIX.
Desafios e Considerações Éticas
Questionado sobre a ética e a legalidade do processo de coleta, Damien Kieran destacou que a educação do público sobre a privacidade de dados e o funcionamento do serviço é um dos grandes desafios enfrentados. “Não buscamos simples coleta de dados biométricos; pretendemos fornecer às pessoas uma credencial anônima de humanidade, utilizando um código único derivado da íris que permanece protegido”, afirmou.
Contudo, essa abordagem já enfrentou críticas. Em março de 2024, a agência de proteção de dados da Espanha determinou o encerramento das coletas, argumentando que o serviço violava a Lei Geral de Proteção de Dados da União Europeia. Além disso, na Alemanha, a BayLDA determinou que a empresa parasse a coleta de dados e excluísse informações armazenadas em seus servidores.
Conforme declarado em um comunicado da ANPD nesta quarta-feira, o órgão está em processo de fiscalização quanto ao tratamento de dados biométricos no âmbito do projeto World ID. A análise busca assegurar que os direitos dos cidadãos sejam respeitados em todos os níveis.
Reflexões Finais
O projeto da Tools for Humanity levanta questões cruciais sobre privacidade, segurança e a ética da coleta de dados numa era em que a tecnologia avança rapidamente. À medida que iniciativas como essa se expandem, é vital que as empresas implementem práticas transparentes e responsáveis. Para você, quais seriam as implicações de usar suas informações biométricas para participar de novos mercados? Compartilhe suas opiniões e reflexões sobre o futuro da tecnologia e sua relação com a privacidade. Estamos todos juntos nessa jornada de inovação!