segunda-feira, junho 2, 2025

Café em Alta: Como Produtores Brasileiros Estão Usando Irrigação para Maximizar Lucros


A Revolução da Irrigação na Cafeicultura Brasileira: Um Olhar para o Futuro

Getty Images

Fazendas com acesso à irrigação estão se tornando mais importantes para atender à demanda global de café.

Um Cenário Desafiador para a Cafeicultura

Em 2024, uma das piores secas já registradas afetou profundamente os cafezais brasileiros, impactando severamente a qualidade e a quantidade da produção e, por consequência, elevando os preços globais do café a patamares históricos. No entanto, Rodrigo Brondani, que gerencia a Fazenda Joha no Cerrado da Bahia, carrega esperança para 2025, projetando uma colheita robusta e promissora.

Ao contrário das tradições cafeeiras que dominam a América Latina, onde as fazendas geralmente estão situadas nas encostas de montanhas, a fazenda de Brondani destaca-se pela sua vasta área de 900 hectares, todos irrigados. Essa concentração de tecnologias de irrigação vem se revelando vital para atender à crescente demanda global.

O Poder da Irrigação

Durante uma de suas visitas aos seus extensos plantios, Brondani inspecionou as linhas de cafeeiros que ostentavam abundantes cerejas verdes, enquanto um avançado sistema de irrigação girava sobre eles, garantindo a hidratação adequada. A expectativa é de que cada hectare dessa fazenda produza até 80 sacas de café de 60 kg — um número mais que o dobro da produção média nacional, que já enfrentou revezes com as intempéries climáticas.

A seca recente não trouxe apenas prejuízos: ao conversar com agricultores, agrônomos e especialistas em irrigação, percebe-se uma transformação na infraestrutura e na mentalidade dos cafeicultores. Antigamente, dependiam da chuva sazonal; hoje, essa dependência está sendo revista à luz da realidade das mudanças climáticas severas.

Desafios da Irrigação no Setor

Com aproximadamente 30% da área cultivada de café no Brasil irrigada, a adaptação ao novo cenário climático é uma realidade urgente. As dificuldades financeiras e logísticas, no entanto, podem restringir a expansão da irrigação. Em Minas Gerais, a principal região cafeeira do país, muitos agricultores enfrentam sérios desafios, principalmente devido ao esgotamento dos lençóis freáticos.

Um fator alarmante é que os aquifers em Minas estão se esgotando, levando agricultores a perfurações cada vez mais profundas, o que encarece o processo e não garante um fluxo sustentável de água. Nesse sentido, muitos produtores têm recorrido às técnicas de irrigação avançadas, mas o investimento inicial é alto e pode ser proibitivo.

O Que Esperar para 2025

Infelizmente, muitos cafezais em Minas Gerais não se recuperaram plenamente da seca de 2024. Agricultores que, antes, produziam em torno de 2.000 sacas de café, agora veem suas colheitas reduzidas a meras 700 sacas. O cenário se complica ainda mais, com a previsão de que 2025 será o quarto ano em que a demanda global por café superará a oferta, uma preocupação crescente para todos os elos da cadeia produtiva.

Os preços do café já dispararam quase 25% em 2025, após um crescimento de 70% no ano anterior. As grandes marcas — como Nespresso, Starbucks e JDE Peet — não tiveram alternativa a não ser repassar esses aumentos para os consumidores, que já se preparam para pagar ainda mais por sua bebida matinal favorita.

A Revolução Necessária: Investindo em Irrigação

O diretor da holding AFB&IOB, Sergio Vieira, afirma que a cafeicultura moderna exigirá cada vez mais o uso de práticas de irrigação robustas. A empresa, que detém 20.000 hectares de plantações de café no Brasil, passou a priorizar a aquisição de fazendas que supram essa necessidade básica: a água.

No entanto, enquanto a procura por sistemas de irrigação avança, a escassez hídrica se intensifica em regiões como Minas Gerais. Em alguns pontos, os lençóis já estão tão profundos que requerem perfurações custosas para garantir um abastecimento. Para muitos produtores, a irrigação é um investimento necessário para garantir a viabilidade das lavouras.

O modelo da Fazenda Joha — onde as plantas são cultivadas em círculos estratégicos para maximizar o uso da irrigação — pode ser um exemplo a ser seguido, pois demonstra como a tecnologia pode transformar o futuro da cafeicultura no Brasil.

O Papel das Novas Tecnologias

A inovação não para por aí. A parceria entre a cooperativa de café Cooxupé e a empresa de irrigação israelense Netafim traz uma esperança para muitos pequenos agricultores, permitindo que instalem sistemas de gotejamento através de um pagamento facilitado em sacas de café. Isso representa uma mudança significativa, pois melhora a eficiência no uso da água, aumentando a produtividade e garantindo a sustentabilidade no longo prazo.

Essas práticas sustentáveis, que incluem técnicas de agricultura regenerativa, não apenas ampliam a capacidade de retenção de água do solo, mas também promovem um ciclo mais balanceado de cultivo. Assim, há a expectativa de que as fazendas possam elevar seus rendimentos consideravelmente.

O Desafio do Uso Sustentável da Água

A irrigação expansiva traz consigo o dilema do uso sustentável da água. A região do Oeste da Bahia tem visto um crescimento significativo na sua área irrigada, que poderia chegar a 1 milhão de hectares em um futuro próximo. Contudo, especialistas alertam para a necessidade de um manejo responsável dessa água.

Estudos recentes da Imaterra e da Universidade Federal da Bahia destacam que a extração significativa de água pode ameaçar os aquíferos, podendo levar a uma crise hídrica se um uso excessivo não for controlado. O Serviço Geológico Brasileiro já identificou uma perda considerável de água no aquífero Urucuia, ressaltando a urgência de se implementar estratégias de monitoramento eficazes.

A Caminho do Futuro da Cafeicultura

O futuro da cafeicultura brasileira depende de uma mudança de paradigma. Modernizar os sistemas de irrigação, buscar soluções sustentáveis e priorizar a gestão responsável da água se torna não apenas uma necessidade, mas uma urgência no contexto das mudanças climáticas.

É fundamental que todos os elos da cadeia produtiva do café — desde os agricultores até as grandes indústrias — se unam em prol de uma cafeicultura mais resiliente. Ao final, o que está em jogo é a qualidade da produção e a saúde do nosso planeta.

Convidamos você a refletir sobre como podemos garantir a continuidade desta bebida tão apreciada e, ao mesmo tempo, proteger os recursos naturais com responsabilidade e inovação. Você já se perguntou de onde vem o seu café e como ele se insere nesse grande contexto? Compartilhe seus pensamentos e experiências nos comentários!

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