Há 25 anos, uma carta transformou a vida de Catarina Furtado. Enviada pelas Nações Unidas e assinada por Kofi Annan, então secretário-geral, o convite para ser embaixadora de Boa Vontade do Fundo de População da ONU (Unfpa) a pegou de surpresa. “Ao abrir a carta, senti uma mistura de alegria imensa e um medo colossal”, conta em uma entrevista. Essa sensação inicial a conduziu a um trajeto de descobertas e compromissos.
Uma Jornada de Descobertas
Naquela época, Catarina já era uma figura conhecida na televisão portuguesa, mas seu entendimento sobre as desigualdades mundiais era limitado. “Perceber que as crianças, meninas e mulheres são os mais vulneráveis foi um despertar para mim”, admite.
Desde então, ela tem percorrido mais de 18 países, testemunhando de perto as feridas da desigualdade. Seu compromisso levou à criação da série documental “Príncipes do Nada”, que permitiu visibilizar as ações do Unfpa ao longo de quase 20 anos.
Primeiras Impressões em Moçambique
Moçambique foi o cenário de sua primeira missão, onde colaborou na criação do primeiro cibercafé juvenil com apoio da ONU. Nesta experiência, Catarina ouviu os jovens clamando: “Queremos espalhar a verdade sobre a AIDS; ela não é uma invenção do Ocidente.” Foi um primeiro passo em uma jornada que abrangeu desde a saúde materna até a proteção contra a violência de gênero, passando por países como Índia, Haiti, e Guiné-Bissau.
“As mulheres são verdadeiras heroínas”, destaca. Elas, mesmo quando enfrentando abusos e outras formas de violência, mantêm suas casas de pé e cuidam de suas famílias. Catarina reconhece também o trabalho dos profissionais do Unfpa: “Eles não são apenas funcionários; eles são cidadãos comprometidos com uma causa, com um coração pulsando por um mundo melhor.”
Avanços e Retrógrados
Ao longo de sua trajetória, Catarina observou avanços significativos. “Nos últimos 25 anos, a mortalidade materna caiu 40% e a mortalidade infantil, até 5 anos, diminuiu em 51%”, aponta com otimismo, destacando o investimento em saúde sexual, reprodutiva e educação.
Entretanto, sua voz se torna mais grave ao falar sobre o presente. “Atualmente, estamos vendo um desinvestimento alarmante, marcando um aumento novamente nas mortes maternas e na gravidez na adolescência.”
Mulheres em Risco
Catarina enfatiza que, em tempos de discursos populistas que ameaçam os direitos das mulheres, as mais vulneráveis são as que mais sofrem. “O corpo da mulher é sempre o alvo”, afirma. O desvio de investimentos, especialmente diante da pandemia, retrata um quadro preocupante onde a segurança está sendo reavaliada, mas não em termos que favoreçam as mulheres.
Recuperando a Dignidade
Dentre suas missões, houve momentos que a marcaram profundamente. Um deles ocorreu na Colômbia, onde uma mulher narrou experiências de violência. “Fui incapaz de continuar a filmar, precisava parar pelo peso emocional”, relembra. Contudo, em meio a tanta dor, Catarina também é portadora de uma mensagem de esperança. Projetos do Unfpa ajudam a restaurar a dignidade das mulheres, mostrando que, mesmo sob trauma, a dignidade nunca se vai.
Enfrentando a Mutilação Genital Feminina
A luta contra a mutilação genital feminina é uma das causas que Catarina abraça com fervor. Ela participou ativamente na pressão por mudanças legais na Guiné-Bissau, um esforço que culminou na criação de leis contra esta prática nefasta. “É gratificante ver que, após essa mudança, meninas já afirmam: ‘eu não quero’”, comemora.
Impacto em Portugal com “Corações com Coroa”
Em 2010, Catarina fundou a associação “Corações Com Coroa”, ligando seu trabalho no Unfpa à realidade portuguesa. “Aqui, apoiamos centenas de mulheres e meninas, reerguendo vidas por meio de bolsas de estudo e projetos de combate à pobreza menstrual.”
Um Compromisso Pessoal
Catarina nunca esquecerá a frase de uma mulher em São Tomé e Príncipe: “Não se esqueça de mim.” Essa frase ressoa em seu compromisso permanente. “Prometo que não nos esqueceremos de vocês, mulheres, meninas e raparigas.” E assim, enquanto o mundo enfrenta desafios, o olhar de Catarina permanece atento e solidário.
Reflexões Finais e Convite à Ação
Esses 25 anos de trabalho ilustram não apenas a jornada de uma mulher inspiradora, mas também desafios contínuos que muitas mulheres enfrentam ao redor do mundo. O que cada um de nós pode fazer para apoiar essa luta? Pensar, comentar e compartilhar essas histórias é fundamental para manter a chama acesa. Prepare-se para se envolver e fazer a diferença! Afinal, a mudança começa com a consciência e a ação coletiva.
Leia a Entrevista Completa com Catarina Furtado
A história e as experiências de Catarina Furtado são um convite a todos nós para entender melhor as questões que cercam a saúde e os direitos das mulheres. Acompanhe sua trajetória e inspire-se a ajudar, contribuindo para um mundo mais justo e igualitário.
