Olukemi Ibikunle: Uma Líder na Construção de Presídios no Congo
Olukemi Ibikunle está supervisionando um projeto significativo: a construção de uma prisão no leste da República Democrática do Congo (RDC). Recentemente, ela recebeu o Prêmio Pioneiro para Mulheres Agentes de Justiça e Correções, na sede da ONU, em Nova Iorque. Mas como uma mulher nigeriana foi parar em uma missão tão desafiadora?
Um Desafio Pessoal e Profissional
Quando a ONU lançou um convite incomum — procurando uma mulher com habilidades em construção de prisões para ajudar em sua missão na RDC — Olukemi enfrentou um dilema. A proposta parecia tentadora, mas também a afastaria de sua família em Lagos.
Aos 38 anos, como gerente de projetos, ela rapidamente percebeu que essa oportunidade era uma extensão natural de sua carreira. Após discutir com seu marido, ele a incentivou: “Por que você está perguntando? Vá, diga que sim!” O suporte dele fortaleceu sua decisão, mas a preocupação com os filhos, de sete e 10 anos, persistia.
Uma conversa transformadora ocorreu quando o marido fez uma pergunta surpreendente: “Essas crianças de quem você fala… qual é o sobrenome delas?” Olukemi respondeu. “Esse é o meu nome”, declarou ele, segurando a situação: “Deixe-os comigo.”
A vice-secretária-geral Amina J. Mohammed entrega o Prêmio Trailblazer a Olukemi Ibikunle, destacada agente penitenciária da Nigéria na Monusco.
Construindo Dignidade
No ano de 2020, Olukemi, carinhosamente chamada de Kemi, já era uma peça chave no serviço correcional da Nigéria. Sua experiência abrangia a supervisão de cinco centros de custódia em Lagos, onde milhares de detentos estavam sob sua responsabilidade.
- Seu trabalho é focado em aspectos específicos e práticos da construção prisional.
- Kemi implementou soluções inovadoras, assegurando que os ambientes securitários respeitassem a dignidade humana.
Por exemplo, ela explicou como implementar banheiros com “portas anãs” — uma inovação que permite supervisão enquanto garante privacidade. Para ela, o desafio sempre foi equilibrar a dignidade dos detentos com a segurança da instituição.
A Missão da ONU na RDC
A ONU estava em busca de líderes capazes de equilibrar segurança e direitos humanos. Olukemi, com sua mente aguçada e abordagem criativa, chegou à Kinshasa com uma missão clara: ajudar na reforma do sistema prisional da RDC.
Não era apenas uma questão administrativa, mas uma transformação da vida cotidiana pós-conflito na prisão — cano a cano, porta a porta.
Olukemi Ibikunle liderando uma oficina para apoiar a reintegração de mulheres detidas no leste da RDC.
Reformando Mentalidades e Estruturas
O entendimento sobre a reforma prisional, segundo Kemi, começava com a arquitetura das instituições. A equipe da Monusco se reuniu com autoridades locais para advogar por padrões internacionais que garantissem um tratamento humano aos prisioneiros. No entanto, essa ideia enfrentou resistência.
Alguns membros da administração local questionavam a necessidade de bibliotecas ou oficinas nas prisões. Kemi, em vez de desanimar, aplicou uma nova estratégia: “Quando os presos têm acesso a centros esportivos, eles se mantêm saudáveis. E com uma biblioteca, eles se ocupam e não pensam apenas em fugir.” Essa abordagem, ao final, foi aceita, permitindo que ela e sua equipe estruturassem um projeto inovador para as novas instalações.
Um dos pontos centrais que Kemi defendeu foi a ideia de construir prisões separadas para mulheres. Em um ambiente prisional misto, as mulheres correm o risco de sofrer exploração e violência. Para ela, a solução ideal seria criar instalações exclusivas ou espaços totalmente independentes dentro das instalações masculinas.
Quebrando Barreiras
Ao iniciar seus trabalhos, Kemi enfrentou comentários preconceituosos e desacredito. “Quem é essa mulher ‘baixinha’ querendo inspecionar?,” pensavam alguns. Mas ela, decidida, foi rápida em aprender o francês técnico necessário para cumprir suas obrigações, além de aplicar um raciocínio estratégico em negociações orçamentárias.
Quando as empreiteiras tentavam inicialmente reduzir o escopo, Kemi respondia com firmeza: “Isso é superestimado; podemos reduzir este orçamento.” Seu comprometimento e habilidade foram reconhecidos e respeitados, a ponto de receberem a orientação de “fale com a Kemi” nas obras.
Desafios em Terreno Hostil
Em 2023, Kemi foi deslocada para Kivu do Sul, para supervisionar a construção de uma faceta de alta segurança com orçamento de US$ 850.000, destinada a abrigar prisioneiros ligados a grupos armados. Entretanto, o cenário começou a se complicar. A milícia M23 lançou uma ofensiva nas proximidades, e a segurança na área tornou-se crítica.
A Monusco havia retirado suas tropas de paz, deixando apenas a equipe correcional, em um ambiente já instável. Quando o perigo iminente tornou-se real e os conflitos se intensificaram, Olukemi se viu sozinha, à frente de um projeto que rapidamente se tornava cada vez mais difícil de sustentar.
A evacuação foi uma corrida contra o relógio. O caos se instaurou, e Kemi, com apenas uma mochila, precisou usar toda a sua habilidade de liderança para assegurar sua saída junto a colegas. Durante essa jornada, seu marido a contatava com preocupação, mas para não alarmá-lo, ela se limitava a dizer: “Estou bem.”
Correndo Contra o Tempo
Na fronteira com Ruanda, Kemi enfrentou um interrogatório devido à sua aparência de policial. Ela teve que explicar que era uma funcionária penitenciária, uma tarefa que parecia em vão, uma vez que a percepção era de que ambos os papéis eram equivalentes.
Após algumas ligações que a mantiveram sob vigilância, finalmente obtiveram sua liberação. Agora estabelecida em Beni, uma cidade sob controle do governo, ela não deixou de lado sua missão e continuou avançando com a equipe correcional da Monusco.
Embora o projeto em Kabare esteja suspenso, sua determinação em transformar o sistema prisional permanece intacta. Kemi segue sendo um símbolo de coragem e inovação, mostrando que, mesmo em cenários adversos, a busca por dignidade e justiça não deve ser esquecida.
*Texto baseado em Fabrice Robinet, redator da ONU News Francês.
