sexta-feira, julho 25, 2025

Cessar-fogo em Gaza: A Paz Temporária Pode Sobreviver?


Em 17 de janeiro, mais de um ano após o início da guerra, Israel e o Hamas finalmente chegaram a um acordo de cessar-fogo. Essa trégua, organizada em três fases, terá início na próxima semana e irá interromper os combates por um período de 42 dias. Durante esse intervalo, Israel planeja se retirar das áreas mais densamente povoadas da Faixa de Gaza, possibilitando a entrada de ajuda humanitária. Em contrapartida, o Hamas concordou em libertar 33 reféns israelenses, enquanto Israel liberará centenas de prisioneiros palestinos. As partes continuarão a negociar, na esperança de estabelecer as fases seguintes do acordo, que permitirão a liberação total dos reféns e a implementação de um cessar-fogo permanente.

O Contexto do Acordo: Expectativas e Desafios

Diante do elevado custo da guerra em Gaza – que já resultou na morte de pelo menos 46 mil palestinos desde os ataques de 7 de outubro – a reação global foi uma mistura de alívio e preocupação. Embora o cessar-fogo seja um passo positivo, a devastação causada pelo conflito alterou irremediavelmente a dinâmica na região. Para entender o impacto dessa trégua sobre israelenses, palestinos e o Oriente Médio, a revista Relações Exteriores conversou com Marc Lynch, professor de ciência política na Universidade George Washington e especialista em estudos do Oriente Médio. A seguir, apresentamos um resumo das principais reflexões de Lynch, extraídas de uma entrevista com o editor sênior Daniel Block.

Expectativas para Gaza Após o Cessar-fogo

Qualquer medida que interrompa a violência e permita a reconstrução em Gaza é bem-vinda, mas há incertezas consideráveis. Lynch destaca que a ajuda humanitária será um barômetro crucial para avaliar a situação. Um aumento significativo na assistência, não apenas em alimentos e medicamentos, mas também em materiais de construção, pode aliviar o sofrimento da população e proporcionar uma base sólida para o cessar-fogo. No entanto, a experiência passada sugere que, mesmo sob pressão internacional, o acesso a esses recursos pode ser limitado, deixando muitos sem a oportuna capacidade de retornar a suas casas.

A Manutenção do Acordo: Desafios à Vista

Manter este acordo, conforme Lynch observa, será um grande desafio. Ele expressa uma visão cautelosa, afirmando que, infelizmente, as chances de avançar para uma paz duradoura são pequenas. Entre os israelenses, existem forças que desejam continuar a guerra. Há aqueles que preferem transformar o norte de Gaza em uma zona de buffer permanente, enquanto outros perseguem objetivos mais agressivos, como a erradicação total do Hamas.

No lado palestino, facções extremistas que não concordam com o acordo podem ser motivadas a recorrer à violência, o que poderia levar a uma resposta militar severa de Israel. Mesmo que a violência não ocorra, a possibilidade de Israel alegar que o Hamas está se reorganizando e violando o cessar-fogo existe, o que poderia desencadear novos ataques.

O Papel dos EUA e a Dinâmica Política

Os negociadores americanos têm trabalhado, há meses, para entrar em acordos como esse, mas Lynch critica a abordagem da administração Biden, que, segundo ele, não se comprometeu de maneira firme. Para Netanyahu, essa falta de pressão pode ter gerado a impressão de que não havia necessidade de se apressar em um acordo. Com a mudança de administração nos Estados Unidos, há uma nova motivação para abordar questões como a normalização das relações entre Israel e a Arábia Saudita.

Impactos na Política Externa dos EUA

O cessar-fogo pode afetar as ambições dos EUA no Oriente Médio, particularmente em relação às alianças com os Estados do Golfo. Há um sentimento negativo em relação aos Estados Unidos, visto que muitos árabes acreditam que a administração anterior permitiu o genocídio na Palestina. No entanto, as parcerias com países do Golfo permanecem, e o cessar-fogo pode oferecer uma nova oportunidade para os líderes árabes adotarem posturas controversas em relação a Israel.

O Futuro de Gaza e o Papel do Hamas

Com a possível retirada das tropas israelenses, surge a dúvida: quem governará Gaza? Lynch sugere que há uma tentativa de restaurar a Autoridade Palestina na região. Contudo, a Autoridade Palestina é vista atualmente como pouco popular e sem legitimidade, o que torna suas chances de estabelecer um controle estável em Gaza bastante incertas.

O Impasse do Hamas

O Hamas, embora enfraquecido, continua a ser a força política dominante em Gaza. Apesar da insatisfação da população com sua liderança, a falta de alternativas governamentais cria um espaço para que o grupo mantenha seu papel. A capacidade do Hamas de retornar à sua posição de autoridade dependerá do sucesso da ajuda humanitária e da recuperação das condições de vida da população.

Refletindo sobre a Solução de Dois Estados

Por fim, a ideia de uma solução de dois Estados parece cada vez mais distante. Lynch afirma que não há evidências de que a resolução do conflito torne-se uma realidade em um futuro próximo. A realidade de que Israel continua a expandir sua presença em território palestino reforça a noção de um Estado único, onde as esperanças de uma coexistência pacífica parecem se esvair. A guerra e os esforços de reconstrução podem, na verdade, afastar as possibilidades de diálogo significativo para uma paz duradoura.

O acordo de cessar-fogo é um passo importante, mas os desafios que se avizinham são complexos e exigirão um engajamento significativo de todas as partes envolvidas. À medida que as tensões diminui, é fundamental que a reconstrução na Gaza aconteça de maneira eficaz, e que a ajuda humanitária chegue a quem realmente precisa. Resta saber se o desejo por paz se sobreporá às forças que anseiam pela continuidade do conflito.

- Publicidade -spot_img

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui

- Publicidade -spot_img
Mais Recentes

Bolsa em Foco: Descubra os Fatores que Estão Agitando o Ibovespa, Dólar e Juros Hoje!

Ibovespa Hoje: O Que Você Precisa Saber O cenário econômico tem se mostrado dinâmico e volátil, especialmente quando analisamos...
- Publicidade -spot_img

Quem leu, também se interessou

- Publicidade -spot_img