segunda-feira, junho 9, 2025

Como a Coerção de Trump Pode Sabotar Seus Planos na Ásia


A Nova Era nas Relações entre EUA e Ásia: Desafios e Dinâmicas Emergentes

Um século após a construção do Canal do Panamá, um marco que conectou os oceanos Atlântico e Pacífico e transformou o comércio global, os Estados Unidos estão em busca de retomar sua influência sobre a via navegável estratégica. Na sua cerimônia de posse, o presidente Donald Trump declarou que a China havia assumido o controle do canal e prometeu que os EUA o “recuperariam”. Em um pronunciamento à imprensa, Trump não hesitou em insinuar que poderia utilizar coerção econômica ou até força militar para alcançar seus objetivos, revelando que a Casa Branca havia solicitado ao Pentágono a elaboração de planos para a tomada do canal. Essa retórica agressiva parece ter surtido efeito: o Panamá retirou-se da Iniciativa do Cinturão e Rota da China e aceitou a venda das operações portuárias em cada extremidade do canal para investidores americanos liderados pela BlackRock.

A Coerção em Jogo: EUA vs. China

A abordagem dos EUA não se limita ao Panamá. Trump tem exigido concessões em várias frentes, utilizando tarifas pesadas como alavanca. Ele também pressionou a Índia para desistir da tentativa de reduzir a dependência do dólar americano e condicionou o apoio dos EUA à Ucrânia a um acordo de paz com a Rússia. Em fevereiro, ele estabeleceu um processo “fast-track” de investimentos para “aliados e parceiros específicos”, mas somente se eles se abstivessem de “parcerias” com “adversários estrangeiros”.

À medida que os EUA continuam a adotar táticas mais contundentes, os países ao redor do mundo enfrentam escolhas difíceis, sendo a Ásia um dos pontos onde essas decisões são mais críticas. A região sempre buscou equilibrar suas relações entre China e Estados Unidos, valorizando a presença americana que historicamente contribuiu para a estabilidade e a prosperidade local.

Decisões Difíceis na Ásia

Se os países asiáticos forem forçados a escolher um lado, eles precisarão ponderar sobre a influência dos EUA, a confiabilidade das promessas feitas por Washington, suas ligações econômicas com a China e as alternativas disponíveis. Esta pressão pode causar um efeito colateral indesejado: embora a China não se beneficie em todas as situações, sua proximidade geográfica e laços econômicos já estabelecidos a posicionam para ganhar vantagem diante de qualquer escolha imposta.

De Luva de Veludo a Mão de Ferro

No passado, os países asiáticos temiam ser forçados a escolher entre os EUA e a China. Contudo, Washington tolerou uma estratégia de “hedging”, permitindo que seus aliados mantivessem relações amplas com a China enquanto desfrutavam da segurança americana. Essa dinâmica, no entanto, está mudando. Hoje, a administração Trump parece estar mais disposta a adotar uma postura coercitiva.

As exigências dos EUA podem variar desde a limitação de investimentos chineses até a interrupção de exercícios militares conjuntos. Mesmo que Washington não exija uma aliança total, uma lista crescente de demandas específicas pode restringir a capacidade de manobra de outros países.

O Japão, a Coreia do Sul e Taiwan já estão alinhados de forma significativa com os EUA, considerando a China uma ameaça direta. Em 2023, o Japão comprometeu-se com um considerável aumento nos investimentos em defesa, incluindo a aquisição de mísseis de cruzeiro fabricados nos EUA. A Coreia do Sul também aproximou-se dos EUA em resposta às ameaças regionais, embora ainda busque um equilíbrio nas suas relações com a China.

O Desafio no Sudeste Asiático

Movimentar o Sudeste Asiático em direção a uma maior proximidade com os EUA será um desafio maior. Muitas das nações da região têm um histórico de cautela em se alinhar com potências. Em 1967, países do Sudeste Asiático formaram a ASEAN como um baluarte contra interferências externas. Mesmo valorizando o engajamento dos EUA por questões de segurança, a China se destaca como seu maior parceiro comercial.

Recentemente, a percepção de apoio ao EUA na região tem oscilado. Dados de uma pesquisa anual mostraram que, pela primeira vez, uma maioria dos entrevistados favoravelmente inclinada se dividiu entre escolher EUA ou China. Embora os números tenham se equilibrado, a inquietação sobre as políticas de Washington e a abordagem em relações de longo prazo é palpável.

Enquanto os dados de 2025 revelaram uma leve recuperação da confiança na liderança dos EUA, essa melhora não indicou uma mudança significativa. Grande parte da ressurgência se deve à preocupação crescente com o comportamento da China no Mar do Sul da China, que figura como uma grande preocupação geopolítica na região.

O Que Está em Jogo para os Aliados dos EUA

Para os países que contam com laços de defesa ou cooperação estratégica com os EUA, o alinhamento não é garantido. O Filipinas, por exemplo, desfruta de uma relação forte com os EUA, com acesso a bases militares adicionais. No entanto, suas decisões são frequentemente influenciadas por seus robustos laços econômicos com a China.

Integração e Autonomia Estrategias

Diversos países, como Singapura e Vietnã, buscam equilibrar suas relações entre superpotências. O Vietnã, em especial, tem uma política de “Quatro Nãos” — evitando alianças militares e não se posicionando contra qualquer potência. A nação upgradeou suas relações com os EUA para um “parceria estratégica abrangente”, mas ainda mantém cautela por conta de suas interações econômicas com a China.

Medo de Abandono

Todos esses avanços são ameaçados pela possibilidade de que Washington possa eventualmente decidir abandoná-los. Muitos na região temem que os EUA aceitem a primazia da China, o que reduziria a autonomia estratégica. Se esse cenário se concretizar, os países podem buscar aprofundar a cooperação regional como um contrapeso.

A Urgência de uma Nova Abordagem

O governo Trump deve entender que não pode depender apenas de coerção ou de um “acordo grandioso” com a China que desconsidere os interesses de seus aliados. Para fortalecer sua posição na Ásia, os EUA precisam:

  • Honrar compromissos assumidos previamente.
  • Fomentar comércio e investimentos.
  • Intensificar o engajamento diplomático.
  • Respeitar a autonomia e a agência de outros países.

A combinação de pressão sem cuidado e desinteresse pode levar até mesmo os países que tradicionalmente se mostram céticos em relação à China a procurarem se alinhar com Pequim. Para reforçar sua influência, os EUA devem evitar a tentação de serem vistos como um “senhorio que cobra aluguel” e lembrar que os laços que constrói são fundamentais para sua longevidade e respeitabilidade na arena global.

Como isso se desenrolará nos próximos anos? O futuro das relações entre os EUA, a China e os países asiáticos depende do equilíbrio que Washington escolher manter. As dinâmicas geopolíticas estão em constante mudança e a habilidade dos EUA de manter uma presença forte e respeitada na região dependerá de sua habilidade de se adaptar e responder às necessidades e preocupações de seus aliados.

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