segunda-feira, junho 23, 2025

Como a Estratégia ‘America First’ Está Minando a Vantagem dos EUA


O Impacto do Nacionalismo na Política Externa de Trump: Uma Nova Era?

Durante sua campanha presidencial, Donald Trump apresentou uma proposta de política externa nacionalista, centrada na ideia de “América em primeiro lugar”. Ele se vangloriava de ter ameaçado abandonar aliados da OTAN e afirmava que, se os membros europeus não aumentassem seus gastos de defesa, estaria disposto a deixar que a Rússia “fizesse o que quisesse”. As nomeações de Trump refletiram esse viés, elevando leais do MAGA que criticaram fortemente o “globalismo” e a “ordem internacional liberal”. A administração ainda trouxe consigo diversas propostas associadas à Heritage Foundation, incluindo a ideia de que os Estados Unidos deveriam se retirar do Fundo Monetário Internacional e do Banco Mundial.

A Mudança na Ordem Internacional

Não é de surpreender que a vitória de Trump nas eleições de 2024 tenha gerado manchetes como “A América Escolhe um Novo Papel no Mundo” e “Trump Dará o Golpe Final na Ordem Liberal”. A perspectiva de um segundo mandato de Trump promete redirecionar radicalmente tanto a política doméstica quanto a internacional, buscando levar ambas em direções mais iliberais. Contudo, é importante entender que a chamada ordem internacional liberal já pode estar em declínio.

  • Definição de Ordem Internacional Liberal: Refere-se às instituições e tratados que os EUA lideraram na criação após a Segunda Guerra Mundial, como a ONU e a OTAN, destinados a promover direitos humanos, comércio livre e democracia.
  • Desafios Emergentes: China e Rússia têm buscado seu próprio modelo de ordem internacional, promovendo acordos que não necessariamente favorecem a democracia.

Desde a queda da União Soviética, a expansão da ordem liberal, que incluiu a onda de democratização e a formação da Organização Mundial do Comércio (OMC), parece ter perdido força, enfrentando a ascensão de projetos alternativos promovidos especificamente por esses países. O crescente declínio econômico das nações do G-7 também proporcionou uma nova alavanca a estados mais fracos que agora conseguem negociar em melhores condições.

A Illiberalidade em Ascensão

Referências à “ordem internacional liberal” muitas vezes não captam a força crescente do iliberalismo na política global. Na verdade, muitos dos princípios que sustentam a ordem internacional — como soberania e o estado de direito — não são inerentemente liberais. Países não liberais como China e Rússia, por exemplo, estão expandindo sua influência nas instituições internacionais, utilizando seu poder para moldar normas e práticas em seus próprios termos.

Essas nações reconhecem o poder que as instituições conferem aos EUA. Os elementos da ordem internacional liberal são, na realidade, parte fundamental da estrutura de poder americana, permitindo que os EUA influenciem outros estados e coordenem respostas a ameaças emergentes. Portanto, o que Trump propõe ao criticar a ordem liberal é, na verdade, um ataque a um sistema que tem sido vital para a influência contínua dos EUA no cenário global.

A Nova Narrativa de Política Externa

A resistência de Trump aos princípios institucionalistas reflete um desafio para os internacionalistas, que devem repensar suas próprias justificativas para as políticas de exterior dos EUA. A atual administração de Biden, por exemplo, tem defendido a continuidade do apoio a NATO e a Ucrânia como uma defesa de princípios imutáveis, como a democracia. Porém, essa postura ignora as complexidades da política internacional contemporânea.

A narrativa sobre a crise na Ucrânia, por exemplo, não conseguiu convencer muitos países do Sul Global, que associam o discurso sobre uma ordem internacional baseada em regras a tentativas ocidentais de impor políticas econômicas e respeitar sua soberania. Esse cenário também intensificou a resistência à postura dos EUA em relação ao conflito entre Israel e Gaza.

Assim, a hora de atualizar a compreensão da política internacional encapsulada na “ordem liberal” já chegou. Essa visão, que se tornou um peso ideológico, tem aprisionado o debate sobre política externa em uma nostalgia por um passado idealizado, ao mesmo tempo que possibilita que populistas reativos e pós-liberais apoiem políticas que podem enfraquecer a posição dos EUA na arena global.

Desafios Estratégicos da OTAN

A OTAN, originalmente formada como um pacto de defesa entre democracias liberais, precisa ser vista através de uma nova lente. Embora a organização tenha se reconfigurado após a Guerra Fria, seu valor estratégico está ligado à continuação de um poder americano significativo na Europa. A manutenção desses compromissos não é simplesmente uma questão de promoção do liberalismo, mas também de garantir que nenhuma potência rival se estabeleça como dominante na região.

A ideia de reduzir o envolvimento dos EUA com a OTAN é vista por muitos como uma forma de aliviar a pressão em outras frentes, especialmente em relação à competição na Ásia-Pacífico. Entretanto, o compromisso atual da OTAN foi crucial para garantir a estabilidade na Europa, e a hipótese de que essas condições se manteriam sem a presença americana é incerta.

Consequências de uma Política Externa Transacional

Se Trump reduzir seu envolvimento com alianças e instituições multilaterais, sua abordagem de política externa pode inicialmente resultar em ganhos financeiros. Contudo, essa tática pode criar uma ilusão de sucesso, já que, em um mundo de competição entre grandes potências, muitos países encontrarão novas opções de aliança e mercado.

  • Riscos Associados: A posteriori, se os EUA abandonarem princípios como os direitos humanos e a boa governança, tornar-se-ão indistinguíveis de potências rivais que não respeitam esses valores.
  • Perda de Poder: Um foco excessivo em ganhos materiais pode resultar na perda de instrumentos essenciais de influência, como a capacidade de impor sanções diretas ou investigar atos de corrupção em outros países.

A assimetria das relações de poder poderia ser alterada se os estados se distanciassem da dependência das instituições americanas, buscando alianças mais diversas. Exemplo disso são países como a Turquia, que mesmo pertencendo à OTAN, tem buscado novos caminhos, mantendo diálogo com a Rússia e explorando sua própria agenda no Oriente Médio.

Reflexões Finais

As tendências atuais indicam que Trump pode levar a estratégia externa americana a um caminho arriscado e desvinculado das estruturas colaborativas que fortaleceram sua posição ao longo de décadas. A erosão dos valores liberais e da disposição para a cooperação internacional pode ter consequências devastadoras, não apenas para a imagem dos EUA, mas também para sua real capacidade de influenciar os acontecimentos globais.

Com isso em mente, a importância de preservar um espaço para a diplomacia e a colaboração global deve ser um ponto central no debate sobre políticas futuras. Um diálogo aberto e a busca por soluções que respeitem a diversidade e a autonomia dos países será fundamental para que os EUA continuem a desempenhar um papel relevante em um mundo em rápida transição.

Como você vê o futuro da política externa americana? Quais caminhos você acredita que devem ser priorizados para garantir tanto a segurança quanto o respeito aos valores democráticos? Deixe sua opinião e compartilhe este texto para estimular o debate!

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