A Nova Política dos EUA para a África: O Que Esperar com Trump de Volta à Casa Branca
Em um cenário em que Donald Trump se prepara para retornar à Casa Branca, a política dos Estados Unidos em relação à África apresenta um emaranhado de contradições. Desde 2022, a administração Biden tentou estreitar os laços com os países da África Subsaariana, priorizando interações de alto nível e relações comerciais mais robustas. O que esperar dessa nova fase? Vamos explorar.
Relações em Ascensão, Mas com Desafios
Desde que Biden assumiu, já foram realizadas 17 viagens de altos funcionários à região africana. Ele mesmo fez uma visita histórica a Angola, a primeira de um presidente norte-americano ao continente desde 2015. As empresas dos EUA fecharam mais de 500 acordos na África, totalizando mais de US$ 14 bilhões durante seu governo. Um dos marcos principais foi um pacote de financiamento de US$ 250 milhões para o desenvolvimento da Ferrovia Lobito, que conecta regiões ricas em minerais da República Democrática do Congo e Zâmbia ao porto de Lobito, em Angola.
Contudo, apesar do crescimento nas relações, o establishment de política externa dos EUA ainda vê a África como uma região de pouca relevância. As embaixadas nos países africanos frequentemente operam com recursos e pessoal insuficientes. Com propostas de cortes de funding e pessoal pela equipe de transição de Trump, a eficácia da equipe africana do Departamento de Estado pode ser comprometida. Isso é evidenciado pela luta da administração Biden para intervir de forma construtiva em crises em regiões como o Chifre da África, os Grandes Lagos e o Sahel.
Uma Abordagem Transacional
A administração Trump terá que lidar com essas tensões contraditórias. A expectativa é que o governo se concentre em uma abordagem transacional em suas relações com a África. Essa postura pode não só dificultar a consolidação de laços bilaterais, mas também complicar a capacidade dos EUA de responder a crises na região. A pressão em busca de ganhos rápidos pode prejudicar os objetivos de longo prazo, tornando mais difícil para os Estados Unidos competir com potências como China, Rússia e Emirados Árabes Unidos, que têm se esforçado para construir relacionamentos duradouros com líderes africanos.
Entretanto, essa transacionalidade pode ter um lado positivo. O foco em interesses específicos poderá forçar tanto os EUA quanto os países africanos a reavaliar suas relações, mas existe o risco de que essa visão limitada reduza a importância percebida da África nos olhos de Washington.
A Competição por Influência: EUA vs. China
No que tange à competição global, a política africana de Trump provavelmente seguirá a mesma linha de raciocínio do seu primeiro mandato, priorizando a rivalidade geopolítica com a China.O desafio será a incapacidade estrutural dos EUA de competir em áreas que importam para os africanos. A China, com uma estratégia que enfatiza o respeito mútuo e parcerias nos investimentos em infraestrutura, possui um histórico de promover o crescimento econômico na região nos últimos 20 anos.
Atualmente, a troca comercial entre os EUA e a África ainda é apenas uma fração do montante negociado com a China. Com medidas como sanções impostas a nações por violações de direitos humanos, os EUA podem até piorar essa disparidade. A suspensão de isenções tarifárias a países da África sob a Lei de Crescimento e Oportunidade na África (AGOA) limitou o acesso a mercados.
A Necessidade de Novas Políticas
Para recuperar terreno e competir efetivamente com a China, os EUA precisam alinhar suas políticas aos interesses fundamentais dos estados africanos, especialmente em infraestrutura e comércio. Algumas ações necessárias:
- Reautorização da AGOA: É essencial que os critérios de elegibilidade sejam mais previsíveis, já que o programa expira em breve.
- Cooperação entre Agências: Melhor coordenação de iniciativas voltadas ao fortalecimento das relações comerciais com a África, talvez através do Prosper Africa, pode otimizar resultados.
Por outro lado, se Trump decidir implementar tarifas abrangentes de importação, isso pode desestimular exportadores africanos a fazer negócios com os EUA, tornando a reautorização da AGOA ainda mais crítica.
Desafios Regionais e Colisões de Interesses
Além de lidar com a China, os EUA enfrentarão outros poderes intermediários interessados em influenciar a região. Isso inclui o envolvimento nas crises no Chifre da África, que é frequentemente moldado por interesses mais amplos no Oriente Médio.
Um exemplo claro é a relação com os Emirados Árabes Unidos, que têm se destacado como um jogador importante na região e estão profundamente envolvidos nas dinâmicas de conflitos no Sudão e na Etiópia. Um alinhamento das políticas dos EUA com as necessidades dos Emirados pode impactar negativamente a busca por soluções duradouras.
Relações Bilaterais e o Impacto nas Nações Africanas
Com uma política que tende a favorecer relações bilaterais, o governo Trump pode encontrar desafios ao mesmo tempo em que precisa respeitar a força do Pan-Africanismo. As nações africanas estão interconectadas, e atitudes erradas em um único relacionamento bilateral podem reverberar negativamente por toda a região.
Três países em particular podem observar mudanças nas suas relações com os EUA que têm potencial para gerar impactos em todo o continente:
- Somaliland: Trump pode reconhecer Somaliland como um estado independente, o que afetaria sua relação com a Somália e complicaria a estabilidade na região.
- Quênia: Dada a sua importância estratégica, o Quênia deve voltar ao foco das negociações comerciais, o que pode sinalizar uma preferência por tratar bilateralmente em detrimento de áreas regionais.
- África do Sul: O relacionamento poderia ser utilizado como um termômetro para a tolerância dos EUA à política exterior independente do país, especialmente considerando suas ligações com o BRICS e o apoio à Palestina.
Oportunidades e Desafios para os Países Africanos
Os países africanos devem encarar o segundo mandato de Trump como uma chance de solidificar as melhorias nas relações comerciais que começaram durante a administração Biden. Para isso, será crucial navegar de forma astuta nas complexidades de uma abordagem transacional.
A adoção de estratégias criativas permitirá que as nações africanas tirem proveito de algumas políticas domésticas de Trump. Por exemplo, a possível nomeação de Chris Wright para a liderança do Departamento de Energia pode abrir portas para o desenvolvimento de infraestrutura energética em países como Nigéria e Angola.
O Caminho à Frente
Nessa nova era de relações, indicações de como os Estados Unidos enfrentarão os desafios em várias frentes são essenciais. A habilidade de construir e manter parcerias enquanto navegam por um cenário de incertezas será fundamental.
À medida que os países africanos exploram novas oportunidades nas relações comerciais com os EUA, a prudência é vital. A capacidade de gerenciar a relação com Washington de maneira benéfica pode representar um ponto de virada para um futuro mais próspero e equilibrado.
Afinal, o cenário global está mudando, e a África não pode ser deixada de lado nesse novo eixo de poder. A responsabilidade agora recai sobre os líderes africanos não apenas para coletar benefícios, mas também para se afirmar como parceiros estratégicos em um mundo onde o equilíbrio de poder está em constante transformação. O que você pensa sobre as possíveis mudanças nas relações EUA-África? Compartilhe suas ideias!