O Futuro da Política Externa Americana: Reflexões sobre um Mundo em Transformação
Após a eleição de Donald Trump, muitos Democratas viam seu governo como um desvio das normas que orientaram a política externa dos Estados Unidos ao longo de décadas. Hoje, com a presidência de Joe Biden, parece que estamos diante de uma tentativa melancólica de restaurar a liderança dos EUA em uma ordem internacional baseada em regras. Entretanto, caso Trump seja reeleito, podemos esperar um forte retorno ao pragmatismo de "ganha-perde" que essa ordem pretendia superar. Os Democratas precisam se adaptar a essa nova realidade: a antiga América não voltará, e o mundo, em geral, não espera isso.
A Transformação Global: Causas e Consequências
Não foram apenas as ações de Trump que causaram essa transformação. A confiança na liderança dos EUA, tanto internamente quanto no exterior, sofreu uma erosão significativa. A invasão do Iraque e os excessos da guerra ao terror minaram a credibilidade de Washington como guardião da segurança global. Esses eventos serviram como um argumento para líderes em Moscovo e Pequim justificarem regimes autocráticos e ações incompatíveis com a ordem internacional que, em teoria, deveria ser respeitada.
Outros fatores contribuíram para essa dinâmica, como a crise financeira de 2008 e o crescimento da desigualdade gerada pela globalização. Esses eventos não apenas desafiaram a aceitação do capitalismo democrático, mas também alimentaram o surgimento de populistas autoritários tanto dentro de democracias liberais quanto em países que oferecem alternativas à hegemonia americana.
A explosão das mídias sociais desreguladas acelerou esse processo, proporcionando ferramentas para que os autocratas aumentassem a vigilância e a manipulação das informações, polarizando as sociedades ao redor do mundo.
A Resposta de Biden: Entre a Ideologia e a Realidade
As políticas de Biden representam uma resposta um tanto esquizofrênica a esse cenário. Seu mantra inicial de "A América está de volta" insinuava uma restauração das tradições anteriores aos anos de Trump. Contudo, a desintegração da ordem baseada em regras nos primeiros anos deste século torna essa restauração praticamente impossível. Embora suas políticas reconheçam essa nova realidade, a linguagem utilizada muitas vezes reflete a ideia de primazia americana, o que destaca uma hipocrisia que tem alimentado as narrativas de autocratas e populistas.
Por exemplo, as tensões nas políticas externas recentes revelam um conflito entre retórica e ação. Enquanto se declara uma luta entre democracia e autoritarismo, parcerias com regimes autocráticos em lugares como Riyadh e Nova Délhi não são deixadas de lado. Existe uma chamada por ação coletiva para combater questões como as mudanças climáticas, mas essa é frequentemente contrabalançada por políticas industriais que visam conter a China.
O uso intensivo de sanções, justificado por normas globais, tem, paradoxalmente, unido governos com ideologias divergentes como China e Rússia diante de um inimigo comum.
A Encruzilhada da Política Externa Americana
No último ano do governo Biden, sua política mais notável foi o apoio incondicional ao primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu durante o conflito em Gaza. Essa abordagem, que muitos interpretaram como um "abraço" a Netanyahu, não levou em conta as mudanças significativas tanto dentro de Israel quanto no cenário global. Mesmo observadores casuais perceberam que essa relação não seguia uma ordem baseada em regras, pois a recusa de Biden em exercer influência sobre Israel ignorou apelos por contenção militar e ajuda humanitária.
Embora Trump se apresente como um disruptor radical, ele é, na verdade, um produto de um fenômeno global: a ascensão de nacionalistas de extrema-direita em um mundo repleto deles. Trump conseguiu captar o descontentamento da população americana com as políticas de segurança nacional, criticando guerras eternas e a globalização que prejudicou a classe trabalhadora. A ironia é que, durante muito tempo, as políticas que resultaram nessa insatisfação eram mais apoiadas pelos republicanos do que pelos democratas.
O Desafio para os Democratas: Renovação ou Retrocesso?
Diante de um cenário tão desafiador, os Democratas precisam reformular suas estratégias. Nos últimos anos, o partido se posicionou como defensor inabalável do establishment de segurança nacional, o que os torna responsáveis pelos fracassos da era pós-11 de setembro. Essa abordagem deve ser revista, e o foco deve se voltar para estruturas de poder que não representam a maioria.
Em vez de reforçar uma ordem que já foi ofuscada por eventos recentes, os Democratas devem começar a negociar a construção de uma nova. Questões como transição para energia limpa e regulação de tecnologias emergentes clamam por negociações entre grandes potências, em vez de uma escalada perigosa.
O Caminho para um Novo Futuro
Logo, ao invés de se apegar à linguagem da primazia, os líderes democratas podem se beneficiar ao adotar um discurso que priorize a equidade e a dignidade de todos. Aqui estão alguns pontos a serem considerados:
- Conexão com o Povo: Estabelecer um diálogo que ressoe com as preocupações e experiências cotidianas dos cidadãos, garantindo que a política externa reflita suas necessidades.
- Abordagem Holística: Integrar políticas domésticas e externas, vinculando cada decisão ao impacto sobre a população americana e as realidades globais.
- Inovação em Segurança: Propor uma revisão completa das políticas de segurança nacional, enfatizando soluções sustentáveis para problemas globais em vez de táticas militarizantes.
A Necessidade de Uma Nova Narrativa
Os líderes considerados elites em segurança nacional muitas vezes falham em se comunicar de forma clara com o público. Usar jargões e expressões rebuscadas distancia a mensagem das pessoas comuns. A honestidade e a simplicidade na comunicação são essenciais para reconstruir a confiança.
É hora de os Democratas abraçarem sua herança de promoção da justiça social e da dignidade humana, abandonando uma linguagem de primazia que não se encaixa mais na realidade atual. Ao construirmos um novo alicerce, livre das amarras do passado, podemos não apenas restaurar a confiança na política externa, mas criar um sistema que funcione para todos, tanto a nível interno quanto global.
Neste novo momento de mudança, pergunto a você: Como você vê o futuro da política externa americana? Quais inovações e direções deveriam ser priorizadas? A discussão está aberta, e cada voz conta. Compartilhe suas opiniões!