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Das Sombras da Insegurança à Luz do Lar: Centro-Africanos Retornam Após Uma Década de Esperança nos Camarões

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Retorno dos Refugiados da República Centro-Africana: Esperança e Desafios

O Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR) está apoiando o retorno de milhares de refugiados da República Centro-Africana (RCA) para suas casas, à medida que a situação de segurança melhora em algumas regiões do país. Neste ano, mais de 12 mil refugiados já realizaram o tão esperado retorno, somando 49 mil desde 2017. Essa movimentação gera esperança, mas também impõe diversos desafios para quem retorna.

Rumo à Restauração da Paz

A história recente da República Centro-Africana é marcada por uma série de acordos de paz entre diversos países, incluindo a RCA, Camarões, República Democrática do Congo e a República do Congo. O ACNUR tem trabalhado intensamente na facilitação de um programa de repatriamento voluntário, que apoia refugiados interessados em retornar a regiões que agora são consideradas seguras.

Avanços e Desafios

Graças à implementação do Acordo de Paz e Reconciliação, bem como à melhora da segurança em algumas áreas, o ACNUR observou avanços significativos. Entretanto, a RCA ainda abriga mais de 507 mil pessoas deslocadas internamente, enquanto muitos refugiados continuam vivendo em condições precárias nos países vizinhos.

Décadas de conflitos violentos deixaram cicatrizes profundas na sociedade centro-africana. Para piorar a situação, inundações e surtos de doenças como varíola bovina e dengue intensificam as dificuldades enfrentadas pelas populações mais vulneráveis.

De maneira palpável, a atmosfera no campo de refugiados de Timangolo, no leste dos Camarões, está repleta de entusiasmo. Refugiados da RCA se preparam para a viagem de volta para suas terras natais. O sentimento geral é de esperança renovada.

O Regresso à Terra Natal

Halimatou Sadia, uma refugiada de 40 anos, exemplifica essa emoção. Ela se prepara com carinho para o grande dia, trançando o cabelo de sua filha e aplicando hena nas mãos das crianças. Os pertences da família são cuidadosamente etiquetados e colocados em um caminhão. Mais de 300 pessoas estão prontas para retornar à RCA após mais de uma década de exílio por conta da guerra.

A expectativa de Halimatou é imensa, pois finalmente poderá se reunir com seu marido, que havia retornado dois anos antes. “Não nos víamos há tanto tempo! Preparei as crianças porque quero voltar e encontrar meu país em paz, para que meus filhos possam voltar à escola”, afirma. O apoio que ela e sua família receberam nos Camarões foi significativo: comida, abrigo e a oportunidade de estudar.

À medida que o comboio de caminhões inicia a viagem, Halimatou se despede de amigos e vizinhos. Esse momento é repleto de emoção, mas também evoca lembranças dolorosas do que deixou para trás.

A Chegada e a Recepção

Após cinco horas de viagem em uma estrada desafiante, a família de Halimatou chegou a Lolo, uma pequena aldeia na fronteira leste dos Camarões. Ali, eles passaram a noite e na manhã seguinte enfrentaram os trâmites de migração e checagens de saúde antes de realizar a última etapa do retorno.

Atravessando a fronteira, foram saudados calorosamente pelos moradores locais, que acenavam com ramos, simbolizando uma recepção calorosa aos que retornam. Halimatou e sua família passaram uma noite em um centro de trânsito em Berberati antes de seguirem para sua terra natal, Makunji. “Estou tão feliz por estar de volta à minha terra natal. Achei-a muito bonita e ao cruzar a fronteira, meu coração ficou calmo”, disse emocionada.

Pesquisas recentes indicam que cerca de 80 mil refugiados desejam retornar à RCA, caso os serviços básicos estejam disponíveis e acessíveis.

Apoio ao Reassentamento

O ACNUR e seus parceiros têm oferecido assistência financeira para os repatriados enfrentarem os desafios do reassentamento em suas comunidades. Essa ajuda é fundamental para cobrir despesas básicas como transporte, alimentação e utensílios domésticos.

Halimatou compartilha seu otimismo: “A porta está aberta para quem ainda está no exílio. O que quer que você faça fora de casa, não é o mesmo. A crise nos levou aos Camarões, mas agora que há paz, é o momento certo para voltar e ajudar a reconstruir nosso país.”

Em 2019, Haouaou Halidou, também refugiada, voltou e conseguiu se reerguer, reintegrando-se à sua comunidade. Ela abriu uma alfaiataria em casa, aproveitando as habilidades que adquiriu no exílio, e se juntou a um grupo de poupança de mulheres, o que permitiu expandir seu negócio e sustentar seus filhos. “Não há nada melhor do que estar no meu próprio país”, diz ela.

As iniciativas do ACNUR além de fornecer apoio financeiro incluem promoção da coesão social entre os que retornam e as comunidades anfitriãs. Esses programas visam garantir modos de vida sustentáveis, documentação civil e atividades de paz.

O Futuro Promissor

As histórias de Halimatou e Haouaou refletem um destino compartilhado por muitos refugiados da RCA que, com coragem e esperança, buscam reconstruir suas vidas após anos de desassossego. À medida que mais indivíduos e famílias sentem que podem retornar, o panorama da RCA lentamente se transforma, e um futuro mais brilhante parece ao alcance.

O relato dessas vidas que estão se reerguendo é um convite à reflexão sobre a força do espírito humano diante da adversidade. Cada retorno não é apenas uma volta física a um lugar, mas também um passo rumo à reconstrução de laços, à reintegração na sociedade e ao restabelecimento da dignidade.

Dividindo suas experiências, esses refugiados têm o poder de inspirar uma mudança e trazer visibilidade às necessidades e sonhos de muitos que, embora ainda em exílio, anseiam por um lar seguro e acolhedor.

Vamos continuar acompanhando essas histórias, pois cada uma delas é uma peça essencial do quebra-cabeça para a paz e reconciliação na República Centro-Africana. A jornada é longa, mas a esperança é a luz que guia aqueles que retornam e reconstroem suas vidas.

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