O Renascimento da Democracia: Onde Estamos e Para Onde Vamos?

A ex-secretária de Estado dos EUA, Madeleine Albright, fez uma análise contundente sobre o futuro da democracia. Em seu último ensaio em 2021, ela expressou um otimismo que muitos consideravam ousado. Sua mensagem, de que a democracia estava prestes a ressurgir, ressoava em um mundo repleto de incertezas e desafios autoritários.

A Visão de Albright: Uma Esperança de Retorno

Albright acreditava que, apesar do aumento do autoritarismo, a aspiração humana por liberdade e justiça era inata. Em suas palavras: “A democracia não é uma causa moribunda; ela está pronta para um retorno.” Segundo ela, as estruturas autoritárias eram frágeis, dependentes mais da coerção do que do consentimento. Ela via a juventude como motor de mudança, engajada com a política e pronta para reverter a maré.

A Fragmentação da Democracia

Entretanto, quase quatro anos depois, observamos uma realidade diferente. Ao invés de um renascimento democrático, testemunhamos uma recessão. Em diversas partes do mundo, líderes autocráticos têm consolidado poder, frequentemente sob pretexto de legalidade. Logo, os anseios por uma sociedade mais participativa muitas vezes se enfrentam com severas represálias.

Experiências em países como a Geórgia e a Tunísia demonstram a dura repressão que movimentos populares enfrentaram. Enquanto isso, os Estados Unidos, sob uma administração polarizada, diminuíram seu apoio a iniciativas democráticas no exterior, além de dar passos atrás em compromisso com valores democráticos internamente.

A Fragilidade dos Regimes Autoritários

Albright sempre destacou que a legitimidade de um governo autocrático é superficial. A resistência popular é real e duradoura. Mesmo sem uma estrutura democrática sólida, a luta por dignidade e igualdade persiste, se manifestando em protestos, aulas clandestinas e fóruns virtuais.

Exemplos Reais: O Caso da Irã e Cuba

Recentemente, Irã e Cuba surgiram como exemplos de nações em crise. No Irã, a morte de Mahsa Amini em 2022 acendeu uma chama de revolta. Embora seus protestos tenham sido brutalmente rechaçados, essa luta evidenciou uma fissura nas bases do regime. Na Cuba, manifestantes pediram liberdade e dignidade, mas foram silenciados de maneira semelhante.

Esses eventos provam que as fragilidades dos regimes autoritários não garantem automaticamente a abertura democrática. Na verdade, a repressão pode ser intensificada, usando medo e controle digital para perpetuar sua dominação.

A Nova Realidade do Apoio Internacional

A promessa de apoio internacional às vozes dissidentes parece ter se esvaído. O que poderia ter sido uma rede de solidariedade se converteu em um cenário onde a própria democracia enfrenta desafios. A deflação do apoio dos EUA a movimentos democráticos gerou um vácuo que se transforma em oportunidade para potências como a China, que agora se posiciona como um parceiro “pragmático” e “não intervencionista”.

O Papel da Juventude no Futuro da Democracia

Albright tinha esperança particular na juventude, acreditando que eles poderiam desafiar hierarquias tradicionais. No entanto, seu otimismo se choca com a realidade de que muitos, em lugares como Tunísia e Turquia, estão decidindo “votar com os pés”, buscando asilo em outros países.

Relatórios recentes, como um da OECD, indicam um aumento nas solicitações de asilo entre jovens, sinalizando um descontentamento e desencantamento que não podem ser ignorados.

A Construção de Estruturas Democráticas

A resiliência democrática não surge do nada. Ela requer um suporte robusto — instituições como tribunais independentes, comissões eleitorais e organizações de vigilância civil. Ao longo da história, iniciativas como a National Endowment for Democracy foram fundamentais. Mas, com cortes e desmantelamentos de ajuda, o que uma vez foi uma rede sólida de suporte agora está em risco.

O Papel das Redes Internacionais

Essas redes são vitais, pois oferecem assistência material, estratégica e moral a defensores da democracia globalmente. Em casos de sucesso, como o recente triunfo da oposição na Polônia, ficou evidente que a pressão externa pode fazer a diferença. No entanto, muitos desses mecanismos estão se esgotando.

Para Onde Vamos?

Embora tenha sofrido um sério golpe, a ideia de que a democracia pode ressurgir não deve ser considerada extinta. Albright acreditava que a luta pela dignidade e pela liberdade é uma constante universal. Essa perspectiva continua relevante. Contudo, o que realmente está em falta são as estruturas, a solidariedade e a liderança necessárias para transformar esse desejo em realidades políticas.

O Desafio dos Valores Democráticos

A luta pela democracia não é apenas moral; é estratégica. Regimes autoritários não apenas sufocam seus povos, mas também exportam corrupção e desinformação, pervertendo normas globais. Democracias não são somente parceiros mais confiáveis, mas também têm um papel crucial em promover paz e respeito.

Albright encerrou sua análise com um apelo para que os governos democráticos se unissem, defendendo seus valores e apoiando quem luta pela liberdade. Apesar dos desafios que a democracia enfrenta, as bases para um renascimento estão ao nosso alcance, esperando apenas que tenhamos a determinação necessária para agir.

Um futuro onde a democracia ressurge é possível, contanto que os governos, especialmente os Estados Unidos, encontrem a vontade política para retomar seu papel de liderança global na promoção da liberdade e da justiça. Se você compartilha esta visão ou tem experiências para contar, sinta-se à vontade para comentar e discutir. A luta pela democracia é coletiva e todos nós temos um papel a desempenhar.