A Revolução do Chocolate Brasileiro: A História de Luisa Abram
Luisa Abram, aos 22 anos, não imaginava que sua trajetória a levaria a ser a fundadora de uma renomada fábrica de chocolates. Após uma breve experiência na medicina, Luisa decidiu estudar gastronomia. Hoje, aos 33 anos, ela comanda uma empresa que produz impressionantes 65 toneladas de chocolate anualmente, com mais de 100 pontos de venda no Brasil e exportações internacionais. Em uma videochamada, Luisa reflete: "Eu não tinha ideia do que estava criando".
O Sucesso Durante a Páscoa
Meses após a intensiva produção para a Páscoa, época que representa cerca de 30% do faturamento anual, Luisa desfruta de um merecido descanso à beira-mar. "Esta é a melhor época do ano, quando realmente conseguimos lucrar", ela afirma. Sua marca, Bean to Bar, se destaca pela utilização de cacau selvagem da Amazônia, colhido de forma sustentável por comunidades ribeirinhas. Para 2023, a expectativa de faturamento da empresa é de R$ 6 milhões.
Os chocolates de Luisa já conquistaram prêmios internacionais, como medalhas de ouro e bronze na reconhecida Academia de Prêmios de Chocolate em Londres. Além disso, ela firmou uma colaboração de muitos anos com produtos da linha Beijo de Leite, desenvolvendo chocolates que já estão presentes nos ovos de Páscoa.
Da Paixão à Profissão
O progresso de Luisa foi gradual e surpreendente. No início, sua intenção era apenas fazer chocolates para a família, seguindo uma receita simples que encontrou em um livro. Sua jornada começou em 2014, quando viajou com seu pai para uma comunidade no Acre, onde descobriu a qualidade do cacau fino que era exportado para a Alemanha. "Se os alemães valorizavam aquele cacau, algo deveria estar certo", lembra Luisa.
Na sua primeira visita, no entanto, Luisa não viu uma única fruta de cacau. "Fui em um momento de seca e floração, então não encontrei nada. Foi um aprendizado." De volta a São Paulo, ela trouxe 20 kg de cacau e começou a pesquisar mais sobre o chocolate, adquirindo um moinho da Índia e fazendo testes na despensa de seus pais por mais de um ano.
A faculdade de gastronomia, apesar de valiosa, não lhe forneceu as ferramentas necessárias para desenvolver sua marca. "Nada do que aprendi na faculdade me preparou para o que viria", desabafa. Enviou amostras de seus chocolates para críticos internacionais, e o feedback que recebeu foi fundamental para ajustar seu processo de produção.
A Revolução Bean to Bar
O ponto de virada na carreira de Luisa foi a consultoria de um especialista americano em pós-colheita, que a ajudou a entender a importância de acompanhar o processo de produção do cacau. "A partir da safra de 2017, percebi que estava encontrando meu caminho", conta.
Atualmente, o cacau utilizado por Luisa é coletado de comunidades ao longo de oito rios no Norte do Brasil, como Juruá e Purus. Cada um deles traz características únicas de sabor e qualidade, tornando cada barra de chocolate uma experiência única e sofisticada. "O cacau é uma planta especial, a única fruta apreciada em grande escala ainda encontrada em seu estado natural", explica.
O Potencial do Chocolate de Origem
Mesmo antes de ter a receita ideal, Luisa já conseguia vender seus chocolates, baseando-se na narrativa poderosa de sua história e no impacto positivo que sua marca gerava nas comunidades locais. "No começo de 2017, o produto não era excelente, mas a mensagem atraía as pessoas", ela lembra.
O envolvimento da família na empreitada emprestou um toque especial ao negócio. Seu pai foi fundamental para enviar amostras ao exterior, onde a história do chocolate brasileiro tinha ressonância. Em 2015, um clube de chocolates na Inglaterra comprou 800 barras, e a partir daí, a presença internacional se expandiu.
Luisa também é reconhecida por sua maestria em marketing, tendo colaborado com nomes influentes como Seth Godin. Hoje, cerca de 20% da receita da marca vem do mercado americano, e sua presença no exterior continua a crescer.
Desafios e Oportunidades
A jornada de Luisa, porém, não é desprovida de desafios. Ao tentar educar os consumidores brasileiros sobre a qualidade e o valor do chocolate de origem, ela enfrentou a resistência de um mercado não familiarizado com a proposta. "As pessoas não estão acostumadas a ver chocolate brasileiro nas prateleiras, muito menos pagando um preço mais elevado", analisa.
A alta nos preços do cacau, que ultrapassou US$ 13 mil a tonelada na Bolsa de Nova York em dezembro de 2024, também exigiu ajustes nos valores dos produtos. No entanto, Luisa normalizou os custos com fornecedores, mantendo seu compromisso com a produção sustentável.
A Evolução do Empreendimento
Luisa Abram é um exemplo notável de como paixão e propósito podem transformar uma ideia em uma grande realização. Com uma história rica em aprendizado e crescimento, ela nunca considerou abandonar seu negócio. Atualmente, se concentra mais no desenvolvimento de produtos e na construção de relações com os grandes clientes, enquanto a tecnologia dá suporte à produção.
Com sua visão clara e determinação, Luisa representa uma nova geração de empreendedores que buscam não apenas o sucesso financeiro, mas também um impacto positivo nas comunidades e no meio ambiente.
Uma Reflexão Inspiradora
A narrativa de Luisa Abram nos convida a refletir sobre a importância de seguir nossas paixões e a capacidade que temos de transformar desafios em oportunidades. O chocolate, além de ser um símbolo de prazer, na história de Luisa é também um meio de preservar a Amazônia e promover a sustentabilidade.
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