


David JW Bailey
Redescobrindo os Vinhos da Europa Oriental
Os vinhos da Europa Oriental, durante muito tempo esquecidos, estão finalmente recebendo a atenção que merecem. Durante décadas, muitos países dessa região foram forçados a cultivar vinhos praticamente sem valor, com foco em produções semidoces e fortificadas, destinadas principalmente à Rússia e suas ex-repúblicas. Um exemplo notável é a Moldávia, que possui vinícolas alinhadas a trilhos de trem, facilitando a exportação de seus produtos diretamente das portas das vinícolas.
Com a dissolução da União Soviética em 1991, o cenário vinícola passou por uma revolução impressionante. Vinícolas estatais e privadas precisaram adaptar suas técnicas e sabores para conquistar novos mercados e consumidores. Essa transformação teve um preço alto e os desafios enfrentados ao longo de 35 anos foram enormes.
Para mergulharmos de forma mais profunda nesse tema, conversamos com Caroline Gilby, uma das autoridades em vinhos da Europa Oriental e detentora do título de Master of Wine, concedido pelo Institute of Masters of Wine (IMW). Caroline é autora de obras como The Wines of Bulgaria, Romania and Moldova e Wines of Serbia: A New Chapter.
De onde veio sua paixão pelos vinhos da Europa Oriental?
Caroline conta que, ao iniciar sua jornada no mercado de vinhos no final da década de 1980, a demanda por vinhos da Europa Oriental era significativa no Reino Unido, embora pouco glamourosa. Designada para essa região, ela começou a explorar suas nuances e se viu cada vez mais fascinada pela transformação radical que estava ocorrendo.

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Mapa estilizado da Europa Oriental
O que torna a Europa Oriental única?
Na visão de Caroline, mesmo nos anos 80, cada região já exibia suas particularidades. Os vinhos da Europa Oriental possuem uma qualidade impressionante, um valor inacreditável e histórias que remontam a raízes profundas. Esses fatores, somados ao desejo atual de autenticidade no consumo de vinhos, tornam essa região ainda mais relevante.
Explorando a Sérvia
O contato de Caroline com a Sérvia começou precocemente, nos anos 90, quando adquiriu um Cabernet Sauvignon e um Merlot de uma vinícola estatal. Segundo ela, a Sérvia é um verdadeiro mosaico de variedades de uvas, tanto internacionais quanto autênticas, dando origem a vinhos premiados em competições renomadas, como o Decanter World Wine Awards, refletindo o potencial maravilhoso do terroir local e a habilidade de seus viticultores.
O aprimoramento qualitativo
Como os outros países da região, a Sérvia enfrentou dificuldades após a era comunista. O processo de reestruturação, que incluiu a restituição de terras e a privatização, foi complicado. No entanto, os viticultores visionários começaram, a partir dos anos 90, a criar seus próprios vinhos, buscando qualidade e individualidade em vez de simplesmente volume.
Desafios no cenário vinícola
Apesar do crescimento, a Sérvia ainda consome mais vinho do que produz. Isso resulta em um forte mercado de importação, e embora os restaurantes estejam começando a prestigiar os vinhos locais, a competição com produtos importados ainda é acirrada. Outro fator limitante é a escassez de bons vinicultores, o que aponta a necessidade de um fortalecimento da cultura do vinho no país.
Variedades que merecem destaque
Dentre as uvas locais, a Prokupac se destaca como uma variedade emblemática, tradicionalmente associada a altos rendimentos, mas agora utilizada para criar vinhos elegantes e de corpo médio. Outra variedade autóctone, a Probus, tem se mostrado capaz de produzir vinhos ousados, com uma cor escura intensa e um sabor suculento.
No campo das uvas brancas, a Grašac brilha com seu potencial para criar vinhos de excepcional qualidade. Além disso, a rara uva Bagrina, resgatada da quase extinção, vem produzindo vinhos surpreendentes e empolgantes.
Desafios para a exportação
A maioria dos vinicultores sérvios ainda prioriza o mercado interno, mas há um crescente interesse em exportação. Embora os preços não sejam os mais baratos, eles oferecem uma excelente relação custo-benefício pela qualidade apresentada. Contudo, a falta de reconhecimento internacional complicam as exportações de um país que ainda é desconhecido por muitos.
Uma visão para o futuro da viticultura na Sérvia
Caroline acredita que a viticultura na Sérvia está em um caminho promissor em termos de qualidade. O desenvolvimento contínuo de variedades autênticas é crucial, pois são essas que poderão atrair a atenção de compradores internacionais e representar eficazmente a identidade sérvia. No entanto, as uvas internacionais também encontrarão seu espaço, dado que podem produzir vinhos de alta qualidade.
* *Liza B. Zimmerman é colaboradora da Forbes EUA e possui mais de 20 anos de experiência escrevendo sobre vinhos, coquetéis e gastronomia.