
Obter imagens
O mundo agropecuário é uma grande fonte de produção alimentar, mas também um dos responsáveis por emissões de gases do efeito estufa, especialmente o metano. Portanto, compreender o processo digestivo de bois e vacas é crucial. Existe um esforço crescente da comunidade científica para tornar esse processo mais eficiente e, assim, reduzir o impacto ambiental da pecuária.
A Digestão dos Ruminantes: Um Mundo de Micróbios
A digestão em bois e vacas é fascinante, e a maioria das pessoas talvez não saiba como realmente funciona. Esses animais são ruminantes, o que significa que possuem um sistema digestivo especializado. Eles consomem forragens ricas em fibras, como a celulose, que é difícil de digerir para muitos mamíferos. Mas, ao contrário do que muitos pensam, as vacas e os bois não digerem essas fibras sozinhos. No lugar disso, seus estômagos são lar de trilhões de microrganismos que desempenham esse papel vital.
Esses micróbios ajudam a quebrar a fibra, mas, durante o processo, uma quantidade significativa de gás é gerada. Estima-se que os bovinos liberem entre 30 a 50 litros de gás por hora, o que resulta em arrotos frequentes, onde o metano, um gás potente de efeito estufa, é expelido na atmosfera. Isso é preocupante, pois, em um período de 20 anos, o metano pode aquecer o planeta até 82 vezes mais rápido que o dióxido de carbono. Mas será que podemos criar bois e vacas que arrotam menos metano? Essa é a pergunta que cientistas e especialistas estão se esforçando para responder.
Inovação na Pecuária: Estratégias para Diminuir as Emissões
Existem diversas abordagens que podem ajudar a reduzir as emissões de metano geradas pelos bovinos. Aqui estão algumas estratégias em destaque:
- Ajuste de Dieta: Os bovinos se beneficiam de uma dieta rica em fibras, mas trocar planícies de gramíneas por grãos pode reduzir as emissões de metano. Contudo, essa alternativa pode ser cara e não viável para todos os produtores.
- Aditivos Alimentares: Adicionando certos aditivos na dieta dos animais, como o 3-NOP (Bovaer), é possível reduzir em até 30% as emissões de metano. Além disso, a utilização de algas marinhas como aditivo pode oferecer resultados promissores, mas com algumas ressalvas ambientais.
- Seleção Genética: A pesquisa está mostrando que algumas raças de bovinos emitem diferentes quantidades de metano, mesmo quando alimentadas da mesma maneira. Assim, a seleção genética de gado poderia levar à criação de linhagens que emitem menos gás.
- Vacinas para Redução de Metano: Pesquisas estão em andamento para desenvolver vacinas que ajudem a combater a produção de metano nos estômagos dos bovinos, potencialmente oferecendo uma solução a longo prazo.
Aditivos Alimentares e suas Implicações
Embora o uso de aditivos em alimentos humanos seja frequentemente debatido, a introdução de aditivos na alimentação de bovinos tem ganhado destaque como uma solução viável. Esses produtos atuam como temperos que, em doses adequadas, podem ter um impacto significativo. O 3-NOP é um exemplo de sucesso, já aprovado em vários países, onde uma quantidade mínima diária pode alterar drasticamente as emissões de metano.
Outro aditivo de interesse é a alga marinha, que contém bromoformo, um ingrediente ativo que tem se mostrado eficaz na redução de emissões, mas que também levanta preocupações quanto a sua segurança e impacto ambiental. Pesquisas estão sendo realizadas para cultivar essas algas em ambientes controlados, minimizando os possíveis efeitos negativos da colheita em massa no oceano.
Avanços na Seleção Genética do Gado
A genética também desempenha um papel fundamental. Estudos indicam que é possível selecionar bovinos que, apesar de consumirem a mesma quantidade de alimento, têm uma eficiência maior na conversão desse alimento em carne e leite, sem aumentar as emissões de metano.
Universidades, como a da Califórnia-Davis, estão à frente desse avanço, buscando não apenas a produtividade, mas também características que ajudem a diminuir a liberação desse gás poluente. O futuro pode trazer um gado que se destaca não só pela quantidade, mas também pela sua eficiência em relação às emissões.
Pesquisas de Vacinas: Uma Luz no Fim do Túnel?
A pesquisa por vacinas que possam reduzir as emissões de metano está em fase inicial, mas apresenta um potencial significativo. Uma vacina que possa induzir o corpo a produzir anticorpos que atuem contra os micróbios responsáveis por essa produção de gás poderia ser uma solução prática e eficaz, especialmente para rebanhos pastando livremente.
Inovações Futuras: Dispositivos Vestíveis?
Enquanto muitas soluções estão sendo testadas, algumas ideias podem parecer excêntricas. Já pensou em máscaras que capturam o metano liberado pelos bovinos? Ou dispositivos que coletam os arrotos para depois processar o gás? Embora essas inovações sejam promissoras, ainda precisam de viabilidade prática e baixa manutenção para serem adotadas em larga escala.
As soluções para reduzir as emissões de metano na pecuária estão em desenvolvimento e prometem transformar o setor. Essa é uma oportunidade não apenas para mitigar os impactos ambientais, mas também para melhorar a eficiência e a produtividade na criação de gado.
Neste momento, a colaboração entre cientistas, geneticistas, nutricionistas e produtores é vital. Todos estão juntos na mesma missão: encontrar um caminho mais sustentável para a pecuária, que beneficie o meio ambiente, os produtores e, claro, os consumidores.
*Marianne Krasny é colaboradora da Forbes EUA e diretora do Cornell Civic Ecology Lab.