
REUTERS/Anderson Coelho
A Revolução Verde em Belém: Bioeconomia à Beira do Guamá
Às margens do rio Guamá, Belém se destaca com um projeto inovador que promete transformar a economia amazônica. O Parque de Bioeconomia e Inovação foi criado para facilitar a adaptação de empreendedores na comercialização de produtos florestais, como açaí e castanha-do-pará, tanto em mercados nacionais quanto internacionais.
Um Novo Modelo de Desenvolvimento
Inaugurado recentemente e inspirado no Vale do Silício, o Parque objetiva modernizar a economia local através da utilização sustentável da floresta, criando empregos e promovendo a preservação da Amazônia. Durante a COP30, que ocorre em Belém, o Brasil pretende demonstrar que a bioeconomia pode rivalizar com setores que ameaçam a floresta, como a pecuária e a mineração.
Segundo o governador Helder Barbalho, a meta é transformar a biodiversidade em uma nova vocação econômica que gere negócios e empregos, reduzindo a dependência das atividades que emitem gases de efeito estufa.
Inovação na Prática: O Caso de Leonardo Souza
O chef paraense Leonardo Souza é um exemplo prático dessa transformação. Com o apoio do BioPark, ele ampliou a produção diária de sal artesanal de 60 para 1.000 potes, ao receber ervas de 200 famílias, um crescimento significativo em relação às 42 famílias de origem. Esse progresso foi possível devido ao trabalho que começou durante a pandemia de Covid-19.
- Crescimento do Acesso: Ampliação do número de fornecedores de ervas.
- Impacto Local: Aumento significativo da renda das comunidades envolvidas.
No ano passado, o Brasil lançou um plano ambicioso para posicionar a bioeconomia como uma força vital na economia do país, abrangendo desde pequenos empreendimentos até a produção de medicamentos e o turismo sustentável.
Investimentos e Oportunidades
O programa Eco Invest, iniciado no ano passado, visa atrair capital privado para projetos sustentáveis. Com o quarto leilão anunciado, o governo busca impulsionar US$3 bilhões em investimentos, utilizando também recursos públicos.
O secretário do Tesouro, Rogério Ceron, ressaltou que, pela primeira vez, o governo irá adicionar 20% do valor da carteira como capital catalítico para financiar assistência técnica, essencial para tornar viáveis projetos mais complexos.
Cooperativas e Bioeconomia: Um Caminho Viável
Um estudo realizado em 2019 pelo BID e outras instituições revelou que 30 cadeias produtivas de produtos florestais no Pará geraram R$4,24 bilhões em renda local, quase igualando os R$4,25 bilhões da pecuária, que depende fortemente do desmatamento. Paula Caballero, da Nature Conservancy, destaca que isso mostra uma verdadeira mudança de paradigma.
A Explosão do Açaí
O açaí, fruta rica em antioxidantes, tem ganhado destaque global como um superalimento. O mercado deve crescer de US$1,23 bilhão em 2024 para impressionantes US$3,09 bilhões até 2032. Além disso, o açaí é um motor econômico em Belém, onde centenas de barcos entregam a fruta diariamente no mercado Ver-o-Peso.
História de Sucesso: Damien Binois
O empresário francês Damien Binois transformou seu amor pelo açaí em um negócio internacional. Sua empresa, NOSSA! AÇAÍ, compra diretamente de 150 produtores e já está expandindo suas operações, com uma nova fábrica prevista para 2026 que terá capacidade para empregar até 200 pessoas até 2030.
- Valorização do Produtor: Os preços do açaí subiram significativamente, refletindo o crescimento do mercado – de R$15, R$20, para R$60 na safra atual.
- Impacto Positivo: A fruta trouxe uma nova oportunidade de renda para muitos produtores.
Café e Sustentabilidade: Um Caso Inspirador
Sarah Sampaio, da ONG Amazônia Florestal, tem realizado um trabalho incrível com pequenos agricultores na produção de café orgânico, numa região que já foi conhecida por seu intenso desmatamento. Ao integrar técnicas de reflorestamento, 234 famílias agora cultivam café que é exportado para países como Holanda e França.
Sarah explica que as famílias recebem apoio total: desde a preparação do solo até assistência técnica para garantir a qualidade do produto.
Desafios da Bioeconomia
Apesar do imenso potencial, a bioeconomia enfrenta desafios significativos. De acordo com o pesquisador Carlos Nobre, produtos da biodiversidade representam apenas 0,4% do PIB brasileiro, enquanto a pecuária destaca-se com 6%. Contudo, cooperativas locais estão mostrando que é possível proteger a floresta e gerar renda.
Essas cooperativas não só aumentam a renda, mas também empregam até 20 vezes mais pessoas do que setores tradicionais como a soja e a pecuária. Essa combinação de proteção ambiental e desenvolvimento social é fundamental para um futuro sustentável na região.
A Tradição se Encontra com a Modernidade
No mercado Ver-o-Peso, a tradição e a inovação caminham lado a lado. Bete Cheirosinha, uma vendedora de ervas, usa conhecimentos ancestrais para fazer remédios naturais, enquanto Allison Charles transforma receitas tradicionais em negócios online, conectando produtos amazônicos a clientes de todo o Brasil.
“Além de vender produtos, despertamos memórias, conectando pessoas a suas raízes e experiências”, comenta Allison, mostrando como a bioeconomia vai além do lucro, tocando o coração da cultura local.
Com tantas possibilidades, a bioeconomia no Pará promete ser mais do que uma alternativa, mas uma solução robusta para os desafios ambientais e sociais da Amazônia. Vamos acompanhar essa transformação e refletir sobre como podemos contribuir para um futuro mais sustentável e próspero.