
A Revolução da Sustentabilidade Climática no Setor Financeiro
A sustentabilidade climática ocupa um espaço crescente no mundo das finanças. Nos últimos anos, vimos um aumento significativo em produtos e iniciativas focados em reduzir os impactos ambientais, incluindo investimentos temáticos, créditos de carbono e uma forte demanda por ações proativas de bancos e gestoras em financiar projetos sustentáveis.
O Impacto do ESG no Cenário Financeiro
Embora o conceito de ESG (Ambiental, Social e Governança) não seja exatamente novo, sua popularidade oscilou nas últimas décadas. Durante a pandemia, muitos investidores viam no ESG um caminho seguro para garantirem lucros. No entanto, com o retorno de figuras políticas contrárias a essas iniciativas, como Donald Trump, alguns bancos e gestoras de Wall Street retrocedem em seus compromissos, como na adesão à iniciativa Net Zero Asset Managers (Nzami).
Para muitos, a ideia de uma economia com emissão zero pode parecer utópica. No entanto, o discurso sobre sustentabilidade e ações climáticas continua a evoluir e a ganhar força. Maria Eugênia Buosi, especialista em ESG na KPMG Brasil, compartilha: “Em tempos de crise, o impulso por mudanças pode desacelerar, mas é inevitável que retorne ainda mais forte”.
Financiamento Sustentável: Um Desafio Global
Os desafios são significativos quando olhamos para a necessidade de financiamento climático. Enquanto os países em desenvolvimento pedem investimentos de US$ 1,3 trilhão até 2035 para adaptações climáticas, os países desenvolvidos se comprometem com apenas US$ 300 bilhões. Essa discrepância cria um grande espaço para os bancos fazerem investimentos que não apenas fazem o bem, mas que também oferecem um bom retorno financeiro.
No entanto, o envolvimento do mercado financeiro ainda está longe do ideal para promover mudanças efetivas. Buosi destaca a importância do diálogo entre as áreas de finanças e sustentabilidade: “As mudanças climáticas afetarão inevitavelmente os modelos de produção, e somente recursos públicos não são suficientes para enfrentar essa realidade.”
Oportunidades Emergentes no Setor Financeiro Verde
Há um sinal claro de que bancos estão começando a se dedicar mais a produtos financeiros sustentáveis, como evidenciado pelo aumento na emissão de “green bonds” por empresas brasileiras. De acordo com dados do Banco Central, até junho de 2024, cerca de 50% das emissões de dívida corporativa foram de natureza sustentável, com arrecadação superior a US$ 6 bilhões (R$ 36 bilhões) em títulos comercializados no exterior.
Além do crescimento nas emissões de green bonds, investir em finanças sustentáveis pode ser lucrativo. A KPMG estima que a cada US$ 1 investido em projetos sustentáveis, há um retorno de até US$ 12, um sinal de que o Brasil está avançando, embora ainda haja muito a ser feito.
Setores Promissores para Investimentos Sustentáveis
A KPMG identificou quatro áreas principais com grande potencial para investimentos sustentáveis: adaptação e resiliência climática, agricultura, infraestrutura e moradias sustentáveis. Vamos explorar cada uma delas:
1. Infraestrutura
De acordo com o Fórum Econômico Mundial, a construção de infraestruturas sustentáveis pode criar um mercado global de US$ 1,8 trilhão até 2030 (R$ 10,9 trilhões). A meta é transformar os setores de infraestrutura para que eles sejam mais eficientes e resilientes a eventos climáticos extremos.
Uma infraestrutura sustentável deve ter como base fontes de energia renováveis, como solar e eólica, e deve enfatizar a eficiência energética. Vale destacar que a área de infraestrutura é responsável por 79% das emissões globais de gases de efeito estufa, área que requer atenção urgentemente.
2. Adaptação e Resiliência Climática
Para enfrentar as mudanças climáticas, é essencial que comunidades, empresas e países melhorem suas infraestruturas e incentivem novas tecnologias. Desta forma, comunidades em áreas de risco podem obter acesso a financiamentos que antes eram limitados.
Entre as sugestões estão ações voltadas para garantir segurança alimentar, acesso a serviços de saúde de qualidade e preservação de recursos naturais. A KPMG reporta que há uma lacuna de financiamento entre US$ 194 bilhões e US$ 366 bilhões anuais, evidenciando a necessidade urgente por investimentos nessa área.
3. Agricultura
O agronegócio é vital para a economia brasileira, mas também é um dos principais responsáveis pelas emissões de gases de efeito estufa, contabilizando 70% das emissões nacionais. Contudo, a agricultura é um campo promissor para iniciativas sustentáveis, apresentando diversas oportunidades de investimento.
Projetos que promovem práticas agrícolas sustentáveis surgem como alternativas, e as instituições financeiras podem atuar como facilitadoras ao oferecer transparência e rastreabilidade nos investimentos. Entretanto, a resistência em adotar práticas sustentáveis ainda é um desafio no setor.
4. Moradias Sustentáveis
Por último, mas não menos importante, está a construção de moradias sustentáveis. Este setor busca reduzir a pegada de carbono e oferecer grandes benefícios tanto para os moradores quanto para os investidores.
O financiamento para reformas visando eficiência energética e uso de fontes renováveis é uma tendência crescente. Alguns países já implementaram descontos nas taxas de juros para aqueles que realizam melhorias em suas residências. Essa abordagem está começando a ser considerada também em bancos brasileiros.
A Caminho de um Futuro Sustentável
O cenário atual apresenta desafios, mas também uma extraordinária oportunidade para integrar práticas sustentáveis ao mercado financeiro. A transição para um modelo financeiramente responsável e ambientalmente sustentável pode trazer vantajosos retornos tanto para investidores quanto para o planeta.
À medida que o mercado evolui, fica cada vez mais claro que implementar a sustentabilidade não é apenas uma questão ética, mas uma estratégia de negócio inteligente. A conscientização e educação sobre as vantagens de investimentos sustentáveis serão fundamentais para que esta transformação ocorra.