Se a industrialização contribuiu significativamente para os problemas ambientais que enfrentamos hoje, será que a tecnologia pode nos oferecer soluções? É exatamente essa missão que as chamadas greentechs buscam cumprir: minimizar os impactos negativos das atividades humanas e até mesmo reverter os danos já causados ao meio ambiente.
A Forbes analisou o panorama atual das tecnologias verdes, explorando suas direções futuras e as iniciativas dos principais protagonistas internacionais neste setor.
Entendendo as Greentechs
As greentechs são iniciativas inovadoras que têm como objetivo auxiliar o meio ambiente, seja mitigando os danos causados pela sociedade ou revertendo de forma ativa esses impactos. Essas tecnologias estão presentes em diversos setores econômicos.
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Um exemplo são as empresas que operam dentro da economia circular, focando em sistemas de reutilização de resíduos e em criar soluções sustentáveis que ajudem a reduzir o desperdício e a poluição.
A indústria de baterias, por exemplo, está se esforçando para desenvolver uma nova geração de produtos que não apenas sejam mais eficientes em termos de energia, mas que também reduzam os impactos ambientais. Essas baterias são utilizadas para alimentar veículos elétricos, dispositivos móveis e armazenar energia de fontes renováveis como solar, eólica e hidrelétrica.
Além disso, há empresas que estão focadas em tecnologias baseadas em hidrogênio e automóveis elétricos, que podem ajudar a diminuir o consumo de combustíveis fósseis. As iniciativas de captura, utilização e armazenamento de carbono (CCUS) visam retirar o carbono da atmosfera, ajudando a reduzir ou até eliminar a pegada de carbono de indústrias, incluindo o agronegócio.

Painéis solares fotovoltaicos na usina de La Colle des Mees, Alpes de Haute Provence, sudeste da França
Embora muitas dessas inovações pareçam promissoras no contexto de mitigação dos efeitos das mudanças climáticas, muitas soluções inicialmente vistas como evidentes podem apresentar sérios desafios práticos.
É crucial distinguir entre greentechs e empresas que possuem apenas aspirações ambientais. Grandes players do mercado, como Apple, Microsoft, Google e Meta, têm se comprometido a alcançar a neutralidade de carbono (zero líquido), mas nem todas estão verdadeiramente investindo em tecnologias sustentáveis.
Alguns desses planos devem ser vistos com cautela, especialmente aqueles que se baseiam na compensação de carbono, uma prática que tenta equilibrar as emissões de gases de efeito estufa (GEEs) gerando créditos de carbono. Uma investigação conjunta publicada em 2023 pelo The Guardian, Die Zeit e SourceMaterial revelou que até 90% das iniciativas de geração de “créditos de carbono” são ineficazes e não levam às reduções de emissões que prometem.
Inovação nas Greentechs
Há um número crescente de greentechs dignas de nota, como a Maltano, uma start-up originada do Google X que desenvolve baterias de sal fundido, a islandesa Carbfix, especializada em captura de carbono, a Eversource, que gera energia geotérmica em Massachusetts, e a Plus Power, focada em células de combustível de hidrogênio.
A Malta, por exemplo, utiliza tecnologia de armazenamento de energia a partir de sal fundido, permitindo que a energia renovável seja armazenada por vários meses. Contudo, para operar, é necessário aquecer o sal a temperaturas entre 200 e 300 graus Celsius.
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A Carbfix realiza a captura de carbono ao injetar o gás poluente em sedimentos rochosos subterrâneos, onde o dióxido de carbono se dissolve em água e reage com formações rochosas, convertendo-se em minerais estáveis. Isso resulta em um verdadeiro sumidouro de carbono efetivo e seguro.
Entretanto, as técnicas de captura de carbono são frequentemente criticadas por seus altos custos e por serem vistas como uma maneira de adiar a transição de combustíveis fósseis para fontes renováveis.
Vamos examinar mais de perto duas pioneiras no campo das greentechs:
1. Samsung SDI
A Samsung é uma gigante da tecnologia que vem incorporando práticas de sustentabilidade em sua estratégia, com soluções como as baterias de lítio em estado sólido da Samsung SDI. Essas baterias são mais seguras que as tradicionais, pois utilizam eletrólitos sólidos, evitando incêndios em caso de danos.
A sua estrutura de estado sólido permite uma maior densidade de energia, razão pela qual a Samsung SDI está trabalhando para utilizar essa tecnologia em veículos elétricos até 2027.
2. Mosa Meat
A Mosa Meat, da Holanda, é uma empresa que cultiva carne em laboratório. Seu processo envolve células de bovinos que são cultivadas a partir de uma amostra, produzindo um bife semelhante ao convencional, mas sem o abate do animal.
Fundada pelo cientista Mark Post, a empresa ganhou notoriedade em 2013 com o primeiro hambúrguer cultivado em laboratório, e desde então tem trabalhado para reduzir os custos de produção, que inicialmente eram astronômicos.
A Mosa recentemente inaugurou uma nova fábrica em Maastricht, aumentando sua capacidade de produção e buscando atender a demanda por alternativas sustentáveis. No entanto, a acessibilidade da carne cultivada ainda é um desafio, especialmente com a concorrência de grandes produtórias de carne convencional.
A pecuária atual é responsável por uma fração significativa das emissões de GEEs, variando entre 11,1% e 19,6%, segundo estudos do Breakthrough Institute.
Perspectivas para as Greentechs
As greentechs são predominantemente voltadas para o futuro. Muitas iniciativas em andamento continuam a esperar expansão e aprimoramento. A questão central é identificar quais tecnologias têm mais potencial a médio e longo prazo. No cenário atual, a inteligência artificial (IA) deve desempenhar um papel cada vez mais relevante.
Além disso, os desafios financeiros enfrentados pelas greentechs em 2023 persistem em 2024, refletindo um contexto econômico amplo, mas isso não necessariamente reflete um problema específico para as inovações ecológicas.
De acordo com Abhijit Sunil, analista sênior da consultoria Forrester, grandes mudanças devem ocorrer nas três maiores fabricantes globais da Fortune 200, impactando positivamente na redução de resíduos eletrônicos ao longo dos anos.
Superando Desafios
As greentechs têm um papel vital nos esforços globais para enfrentar as mudanças climáticas, mas cada tecnologia traz seus próprios limites. Os desafios são comuns: muitos projetos enfrentam barreiras para a redução de custos que tornariam sua adoção viável em larga escala, e em alguns casos, esses obstáculos podem parecer intransponíveis.