
Raimundo Pacco/COP30
A Nova Era da Ação Climática
Agora que a COP30 teve início no Brasil, os olhares se voltam para questões climáticas já conhecidas. Novas e revisadas Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs), financiamento para resiliência e natureza, transformações nos sistemas alimentares e a busca por uma transição justa são os focos. Mas, por trás dessas discussões, há um alerta econômico crucial: a infraestrutura natural que sustenta o mundo está começando a falhar. O solo e os ecossistemas marinhos têm papéis essenciais não apenas na produção de alimentos, mas também na regulação do ciclo de carbono dos oceanos.
Integração entre Terra e Mar
Historicamente, os domínios da terra e do oceano foram tratados de forma isolada: agricultura e pesca, economia verde e economia azul. Contudo, esses sistemas funcionam de forma interligada, cada um contribuindo para o armazenamento de carbono e a regulação de nutrientes. O que está em jogo agora não é apenas uma questão ambiental, mas um desafio macroeconômico que afeta cadeias de suprimento, preços de alimentos e até mesmo a segurança nacional.
Os Efeitos da Degradação
À medida que a saúde dos solos e dos oceanos se deteriora, os impactos se tornam visíveis:
- Colheitas prejudicadas: A produtividade agrícola é ameaçada.
- Mercados instáveis: A volatilidade de preços e a insegurança alimentar aumentam.
- Estresse fiscal: As finanças públicas sofrem com o aumento de gastos relacionados a desastres naturais.
A nova visão sobre a infraestrutura natural
Tradicionalmente, a adaptação às mudanças climáticas foi vista como um desafio de engenharia, com ênfase em soluções como muros marítimos e cultivos resistentes à seca. Recentes pesquisas, no entanto, indicam que a verdadeira infraestrutura vital está nas mãos da natureza. O solo, que deve ser considerado como uma infraestrutura fundamental, é um sistema dinâmico que regula água, nutrientes e a produção agrícola. Praveena Sridhar, da Save Soil, destaca o solo como “o maior banco de água e cofre de carbono do planeta.”
O Valor do Solo
Um estudo aponta que fazendas regenerativas conseguem manter até 95% de suas colheitas em períodos de seca, um desempenho superior a fazendas convencionais. Solos saudáveis também são essenciais para armazenar água e mitigar os efeitos de enchentes e secas. Infelizmente, muitas políticas tratam o solo como um recurso consumível, sem reconhecer sua importância vital para a segurança nacional.
A Pressão sobre os Ecossistemas Marinhos
Em contrapartida, os ecossistemas marinhos também enfrentam um estresse crescente. Os mares de plataforma continental, onde vive a maior parte da biodiversidade marinha, são responsáveis pela absorção de carbono e pelo fornecimento de alimentos. Estudos recentes, como os do Convex Seascape Survey, revelam que a acidificação dos oceanos, resultante do aumento das emissões de CO₂, compromete a vida marinha.
Impactos Econômicos e Sociais
O colapso dos recifes de corais, por exemplo, pode desestabilizar indústrias inteiras. O professor Callum Roberts enfatiza que a redução das emissões é a única estratégia eficaz para proteger nossos frutos do mar para as gerações futuras. A degradação dos ecossistemas marinhos igualmente afeta a segurança alimentar, uma vez que 95% do nosso peixe provém dessas águas.
Integrando a Natureza aos Mercados
Se a infraestrutura natural fosse avaliada com o mesmo cuidado que investimos em asfalto e construções, teríamos um avanço significativo nas políticas de gestão ambiental e econômica. Diretrizes como a Revisão Dasgupta do Reino Unido já defendem que ministérios integrem a contabilidade de capital natural em seus orçamentos, reconhecendo o valor econômico da natureza.
Oportunidades para Investidores
Investidores também têm um papel crucial a desempenhar, com iniciativas como a Força-Tarefa para Divulgações Financeiras Relacionadas à Natureza (TNFD) oferecendo um modelo de governança e gestão de riscos focado em ativos naturais. As seguradoras, enfrentando os riscos climáticos diretamente, também estão buscando incorporar a dependência dos ecossistemas em suas decisões.
O Caminho a Seguir
A infraestrutura natural não é apenas um conceito teórico; é um imperativo econômico. Solos saudáveis e mares funcionais devem ser vistos como a base que sustenta a economia global. Quando esses sistemas falham, a instabilidade se propaga, desestabilizando as economias à medida que alteram a oferta de alimentos, a inflação e a segurança social.
Estamos diante de um momento decisivo onde podemos transformar a forma como pensamos sobre a natureza e sua relação com a economia. Refletir sobre isso e agir agora é fundamental. O que mais podemos fazer para proteger essa infraestrutura vital e garantir um futuro sustentável? Convide seus amigos a discutir e compartilhar suas opiniões sobre a importância de preservar a natureza como um bem inestimável da nossa infra-estrutura econômica.




