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Descubra Como um Produtor Brasileiro Está Transformando a Maior Fazenda de Cacau do Mundo!

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Moisés Schmidt

Divulgação

Moisés Schmidt, proprietário da Schmidt Agrícola.

A Revolução do Cacau: A Visão de Moisés Schmidt

O agricultor Moisés Schmidt, à frente da Schmidt Agrícola, situada em Barreiras, no oeste da Bahia, recentemente retornou de uma viagem de 12 dias pelo continente africano. Entre 27 de janeiro e 7 de fevereiro, ele desenvolveu uma intensa agenda em países como Nigéria, Gana, Costa do Marfim e Senegal. O que trouxe de lá? Uma convicção profunda: a tecnologia brasileira, a irrigação e uma produção em escala têm o potencial de transformar o Brasil em um dos maiores produtores de cacau do mundo. Com isso, o país poderia se tornar o verdadeiro salvador do chocolate contemporâneo.

Atualmente, Moisés também é o presidente da Associação de Agricultores e Irrigantes da Bahia (Aiba), que representa um polo agrícola de alto desempenho na região do Matopiba, que abrange partes do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia. Na localidade, cerca de 1.300 produtores cultivam aproximadamente 2,25 milhões de hectares.

Uma Fazenda em Crescimento e Novos Desafios

A Schmidt Agrícola é uma operação familiar, onde Moisés divide as tarefas com seu irmão David, CEO do grupo, que há quase 30 anos se dedica ao cultivo de soja e algodão na região. Em 2018, a família decidiu diversificar suas atividades, abrindo 300 hectares para a fruticultura, com ênfase na banana, e já exportando parte da produção para mercados como Argentina e Europa.

No que diz respeito ao cacau, a ambição é grande: moer 10 mil hectares de cacau, o que, se alcançado, tornará a fazenda a maior produtora de cacau do planeta. Schmidt demonstra confiança no sucesso do projeto e acredita que dentro de 10 anos, essa meta será uma realidade. Atualmente, eles têm um projeto-piloto de 400 hectares, dos quais 70% já foram implantados.

Segundo ele, “a geração futura pode não conhecer o chocolate como o conhecemos hoje”. A crescente escassez de cacau no mundo leva a uma preocupação sobre o futuro dos doces, que podem ser substituídos por produtos principalmente feitos de açúcar, gordura de palma e trigo, se nada for feito.

Desafios da Indústria do Cacau

Anna Paula Losi, presidente executiva da Associação Nacional das Indústrias Processadoras de Cacau (AIPC), reforça a urgência da situação: “Se não mudarmos a realidade do cacau, correremos o risco de parar fábricas pela falta de matéria-prima.” A AIPC representa grandes empresas como a norte-americana Cargill e a suíça Barry Callebaut, responsáveis pela maioria da moagem da amêndoa de cacau no Brasil.

Schmidt tem sido procurado por essas indústrias, que demandam regularidade e volume que o Brasil pode oferecer. Seu projeto de expansão de lavouras de cacau no oeste da Bahia utiliza tecnologia inovadora: um sistema de pleno sol com irrigação tecnificada, ao invés do cultivo tradicional em “cabruca”, que é sustentado por florestas nativas.

O Investimento e a Infraestrutura de Cultivo

O investimento na fazenda é significativo. Na área experimental, o custo gira em torno de R$ 200 mil por hectare, incluindo o preparo do solo, a instalação do sistema de irrigação, o cultivo de mudas e os tratos culturais nos três primeiros anos. Além disso, já foram aplicados R$ 25 milhões para solucionar um desafio inusitado: a escassez de mudas de qualidade. A resposta foi a criação do BioBrasil, o maior viveiro de mudas de cacau do mundo, com uma capacidade anual de 3,5 milhões de mudas e a meta de 10 milhões até 2027.

“O cacau sempre foi visto como uma cultura para pequenos agricultores, mas possuímos uma enorme oportunidade para fazê-lo em grande escala, especialmente considerando o crescente déficit e a demanda internacional”, destaca Schmidt.

Atualmente, o consumo global de cacau é de cerca de 5 milhões de toneladas por ano. As previsões indicam que esse número pode aumentar de 8 a 10 milhões de toneladas até 2050. Para que essa meta seja atingida, Schmidt enfatiza que o preço mínimo a ser pago ao produtor deve ser de US$ 6 mil por tonelada. Abaixo desse valor, outros cultivos, como café e laranja, podem se tornar mais atraentes.

A Importância do Brasil na Cadeia Global do Cacau

Durante a conferência da World Cocoa Foundation (WCF), realizada em São Paulo em março, Chris Vincent, presidente da entidade, reforçou que o Brasil desempenha um papel fundamental na cadeia produtiva de cacau. “O Brasil é uma força agrícola global, com infraestrutura e conhecimento que podem ser muito valiosos”, afirmou.

A crise que atingiu a produção na África em países como Gana e Costa do Marfim — que representam 60% da oferta mundial de cacau — fez com que o mercado sentisse um impacto profundo, resultando em um déficit de 480 mil toneladas. Com isso, os preços do cacau dispararam, triplicando em relação ao ano anterior, o que levou à necessidade de um planejamento meticuloso.

Planejamento e Sustentabilidade: O Caminho para o Futuro

A economista Pam Thornton, commodity trader da Nightingale Investments, destaca que o futuro da produção de cacau depende de estratégias científicas e planejadas. “Se não utilizarmos essa atenção que o cacau está recebendo para construir uma base sólida, corremos o risco de deixar a cultura em segundo plano novamente”, alerta.

Considerando essa visão, Moisés Schmidt planeja retornar à África em breve para absorver mais conhecimento. Ele acredita que é possível aplicar aprendizados locais para fortalecer a produção brasileira. “Temos a tecnologia, temos um time qualificado e enfrentamos um desafio global que pede eficiência e inovação”, ressalta.

O Modelo de Produção Inovador da Schmidt Agrícola

O modelo produtivo da Schmidt Agrícola é uma combinação de alta tecnologia e práticas de sustentabilidade. O uso intensivo de maquinário, irrigação por microaspersão e manejo de precisão são algumas das estratégias em operação. Além disso, busca-se desenvolver uma forma eficaz de mecanizar a colheita, enquanto os processos de pulverização e adubação já estão avançados.

O cultivo se integra à prática de agroflorestas, promovendo uma cobertura verde completa e incorporando culturas complementares, como a braquiária e leguminosas. Schmidt destaca que a colaboração com instituições como a CEPLAC e a Embrapa é vital para a pesquisa e desenvolvimento do setor.

Expectativas e Futuro Promissor

A produtividade das lavouras está superando expectativas: de uma previsão inicial de 200 arrobas de amêndoas por hectare, agora a expectativa é alcançar até 400 arrobas (ou 6 toneladas por hectare). Embora as operações ainda não sejam totalmente lucrativas, as primeiras receitas já estimulam otimismo.

“Apesar dos desafios iniciais, fica claro que essa abordagem é técnica e economicamente viável”, diz Schmidt, que já percebe um movimento curioso entre outros agricultores da região, com 30 produtores investindo em cacau e mais de 700 hectares sendo implantados.

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