As redes sociais evoluíram muito nas últimas décadas, e se tornaram um terreno fértil para o consumo. Influenciadores digitais têm o poder de impactar milhares de pessoas ao compartilhar suas experiências com os lançamentos do mercado, enquanto as marcas direcionam ofertas para seus públicos-alvo com precisão. Entretanto, um novo fenômeno tem emergido, especialmente na plataforma TikTok: usuários falando sobre suas decisões de consumo, ou melhor, evitando compras em 2025.
Essa nova tendência, chamada de low buy (compras redu zidas) e no buy (nada de compras), está ganhando força e reconfigurando o relacionamento das pessoas com o ato de comprar.
O que significa low buy?
O conceito de low buy não é uma exclusividade brasileira; sua origem remonta a discussões internacionais em torno do consumo consciente. No entanto, ele encontrou eco nas reflexões que surgem no início do ano, quando muitos fazem promessas e estabelecem metas. Esse movimento reflete preocupações tanto financeiras quanto ambientais, além de uma certa fadiga em relação à vida online.
O low buy abrange uma variedade de categorias de produtos, desde maquiagem e vestuário até itens de decoração e livros que muitas vezes acabam esquecidos nas estantes.
A TikToker Fifi Macedo, de 28 anos, e recém-formada em Psicologia, embarcou nessa jornada de reduzir seu consumo no último ano. Ela destaca que sempre consumiu conteúdos voltados para a sustentabilidade e finanças conscientes. A motivação principal veio da percepção de que a alegria de comprar não se traduzia, necessariamente, em satisfação com os itens adquiridos.
“Comecei a perceber que o prazer de adquirir algo era efêmero e diferente de realmente desfrutar do que já possuía. Isso me fez refletir sobre o que estava acontecendo comigo”, compartilha Fifi.
Outro aspecto que a impactou foi o acúmulo de coisas: “Embora não houvesse uma avalanche de objetos na minha casa, ao me mudar frequentemente em São Paulo, percebi o quanto acumulei ao longo dos anos.” Essa constatação a levou a querer fazer um uso mais consciente do que já possuía.
A armadilha das compras por impulso
O fenômeno das compras impulsivas não é uma novidade para Jeff Patzlaff, planejador financeiro e especialista em finanças comportamentais. Ele observa que muitos de seus clientes são propensos a gastar sem pensar. “Agir com intenção em relação a compras e evitar o impulso é crucial para a saúde financeira, embora seja desafiador, especialmente porque o brasileiro costuma ser bastante emotivo”, ressalta ele.
Decisões baseadas em emoções podem acabar levando ao descontrole financeiro. O segredo para evitar isso, segundo Jeff, está na racionalidade: “As pessoas tendem a gastar mais por emoção do que por razão. Aumentar o pensamento crítico na hora de decidir sobre compras pode significar economizar dinheiro.”
O que fundamenta essa tendência?
A especialista em tendências de consumo Iza Dezon menciona que o low buy é um dos frutos de um movimento maior que tem se fortalecido nos últimos anos. “O modelo de capitalismo exacerbado está se tornando insustentável, até mesmo para os próprios capitalistas”, explica.
Movimentos como quiet quitting e quiet ambition estão se alastrando, onde muitos buscam diminuir suas jornadas de trabalho para terem mais tempo para viver. “Há uma crescente insatisfação com uma vida centrada no trabalho, o que leva as pessoas a quererem um consumo mais consciente e sustentável”, completa Iza.
Ela também menciona uma certa fadiga em relação às redes sociais, onde há uma contradição: influenciadores promovendo o low buy, enquanto o conteúdo e o consumo continuam a bombardear os usuários. “Para muitos, o verdadeiro luxo é estar offline e aproveitar momentos fora da tela”, afirma.
O impacto das compras online
A facilidade das compras online, que se resumem a um clique, alimenta ainda mais o desejo de gastar. Este hábito se torna ainda mais perigoso quando se fala em compras por impulso. Jeff sugere uma estratégia simples: “Evite ter seu cartão de crédito salvo nas plataformas de pagamento. Essa pequena barreira pode fazer a diferença na hora de decidir.”
Quando o processo de compra demanda mais ação, como buscar o cartão e digitar os números, você se dá a chance de refletir se realmente precisa daquela compra. Essa pausa pode ser crucial e muitas vezes leva a uma escolha mais racional.
Gerenciando gastos de maneira eficaz
Jeff observa que muitos clientes acabam repensando suas compras e diminuindo os gastos por impulso quando seguem esse método. Contudo, o controle de gastos não é uma tarefa simples. Fifi, que tentou aplicar essa estratégia, ficou surpreso. “A gente tende a achar que é mais consciente do que realmente é”, revela ela.
Fifi começou a identificar como o marketing influencia suas decisões de compra e o que realmente representava um novo item em sua vida. “Um blush rosa não é só um blush; ele vem carregado de promessas de status e de quem quero ser”, reflete.
Por fim, a experiência a fez perceber que, apesar de seus desafios, resultados positivos podem ser surpreendentes, levando a um controle melhor da forma como utiliza seu dinheiro.
Dicas para compras mais conscientes
1) Estabeleça metas
A primeira coisa que você pode fazer ao considerar a tendência do low buy é refletir sobre suas metas pessoais. Jeff aconselha: “A felicidade está em ter a liberdade de saber o que te agrada e seguir esse caminho.” Sabe aquela viagem que você deseja fazer? Organize um plano de como economizar para realizá-la.
2) Faça uma lista de prioridades
Criar listas pode ser uma ferramenta poderosa. Jeff recomenda listar todos os seus desejos, desde os mais simples até os mais significativos. Isso facilita a visualização do que você realmente precisa.
3) Espere antes de comprar itens fora da lista
Se um item não está na sua lista, resista à tentação de comprá-lo imediatamente. Coloque-o no carrinho, mas aguarde até o dia seguinte para decidir. Essa pausa permite que o impulso inicial se dissipe e que vocêoxe mais racionalmente sobre a compra.
4) Questione suas necessidades
Ao desejar comprar algo, faça as seguintes perguntas: Eu realmente preciso disso? Já tenho algo parecido? Essa reflexão ajuda a manter o foco e evita compras desnecessárias.
5) Destine uma quantia ao seu orçamento mensal
Fifi, que evitou comprar perfumes e maquiagens no último ano, planeja reservar R$ 160 mensais para esses itens em 2025. Essa abordagem equilibrada permite que você tenha limites sem abrir mão do que gosta.
6) Monitore suas economias
Concentre-se no que você está ganhando com a redução de compras. Anote as vantagens que a economia te trouxe, seja para realizar um sonho ou investir em novas experiências, como aulas ou viagens. Quando vemos o valor das oportunidades que podemos aproveitar, o sentimento de satisfação se torna ainda maior.