Reflexões sobre o Futuro: Lições do Passado e Desafios Contemporâneos
O ano de 2024 será marcante para os Estados Unidos e seus aliados, trazendo à tona uma série de importantes aniversários que nos fazem refletir sobre a história e os rumos que temos tomado. Teremos o 80º aniversário do desembarque na Normandia, um marco na luta contra o fascismo que delineou o fim da Segunda Guerra Mundial. Também comemoraremos os 80 anos da Conferência de Bretton Woods, que estabeleceu a base do sistema financeiro global moderno, criando instituições cruciais como o Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional. Além disso, celebramos os 75 anos da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), uma aliança que foi fundamental para a vitória dos aliados na Guerra Fria.
Esses marcos não são apenas datas no calendário; eles oferecem uma oportunidade valiosa para refletirmos sobre conquistas passadas e as lições que podemos aplicar para enfrentar os desafios atuais. Para que possamos avançar, precisamos revisitar as ideias que moldaram a ordem mundial após a guerra, um período que não se baseou apenas na liberalização do comércio, mas em uma visão mais ampla de governança global, voltada para a segurança econômica e o bem-estar das pessoas.
Um Passado que Nos Ensina
A ascensão do autoritarismo na Alemanha, especialmente em 1933, deixou lições profundas. Franklin D. Roosevelt, recém-empossado como presidente dos Estados Unidos, percebeu que a crise econômica e a instabilidade política estavam interligadas. Ele estava ciente de que a miséria cria um terreno fértil para a ascensão de líderes tirânicos. Como Christian Herter, o primeiro representante comercial dos EUA, observou: "A fome e a instabilidade política andam de mãos dadas." Roosevelt articulou, em seu discurso do Estado da União de 1941, as quatro liberdades fundamentais: liberdade de expressão, liberdade de culto, liberdade da necessidade e liberdade do medo. Essas ideias culminaram na Carta do Atlântico, onde ficou claro que a cooperação econômica internacional é essencial para a justiça social e a segurança do trabalhador.
Principais Liberdades de Roosevelt:
- Liberdade de expressão: Garantia de que todos possam se expressar sem medo.
- Liberdade de culto: Respeito pela diversidade religiosa.
- Liberdade da necessidade: A segurança econômica como um pilar da paz.
- Liberdade do medo: A proteção contra ameaças e opressões.
A Transição para Novas Ideias: O Neoliberalismo em Foco
Na década de 1980, essa visão de "liberdade da necessidade" foi eclipsada pelo neoliberalismo, que pregava a liberdade da regulação. Começou uma era em que os interesses empresariais se sobrepuseram ao bem-estar dos trabalhadores. O governo Biden busca resgatar essa perspectiva, focando em pilares fundamentais: investimentos estratégicos, empoderamento dos trabalhadores e promoção da concorrência. Essa abordagem visa recuperar a ideia de uma economia que cresce a partir da base, ressoando com a visão original de Roosevelt.
A Memória Coletiva e o que Perdemos
À medida que a vitória aliada se tornava inevitável na Segunda Guerra, surgiram planos para a Conferência de Bretton Woods, cuja proposta era estabelecer uma governança econômica internacional. Foi nesse contexto que se planejou o surgimento do Fundo Monetário Internacional e do Banco Mundial, mas também da Organização Internacional do Comércio (OIC). Infelizmente, a OIC nunca foi operacionalizada, e a história nos ensinou que sem um compromisso com a justiça social e o emprego pleno, a estabilidade econômica é uma miragem.
Os Desafios da OIC:
- Colocação do emprego em primeiro lugar: A OIC exigia que países não exportassem o desemprego.
- Normas trabalhistas: Provisões sobre padrões trabalhistas justos.
- Proteções ambientais: Reconhecimento de que é necessário cuidar do meio ambiente em um mundo em globalização.
Os desdobramentos dessa conferência mostram que a ideia de um comércio justo e de um ambiente regulatório proativo foi abandonada em favor de um modelo neoliberal que, nas últimas décadas, prejudicou muitos trabalhadores e contribuiu para o aumento da desigualdade.
Diante dos Desafios Atuais: O Que Aprendemos
Recentemente, a pandemia e a invasão da Ucrânia pela Rússia revelaram as falhas de um sistema econômico que depende exclusivamente de mercados livres. As cadeias de suprimentos concentradas em regimes autocráticos mostraram-se vulneráveis e, em muitos casos, prejudicaram democracias ao torná-las dependentes de regimes hostis. Essa interdependência criou um ciclo perigoso que precisa ser rompido.
Desafios enfrentados:
- Dependência de regimes autocráticos: A vulnerabilidade das democracias.
- Aumento da coerção econômica: O poder dos autocratas no cenário internacional.
- Concentração de poder: A ligação entre poder econômico excessivo e a diminuição das liberdades democráticas.
Um Novo Paradigma: Conscientes do Que Se Perdeu
Muitos economistas, incluindo o Papa Francisco e figuras como Mario Draghi, reconheceram que a crescente desigualdade é uma ameaça à coesão social. As políticas neoliberais, que prevaleceram por décadas, resultaram em uma narrativa que frequentemente desconsidera a realidade dos trabalhadores e a importância do crescimento inclusivo. Portanto, uma nova abordagem que fundamentalmente muda as regras do jogo é necessária.
Reflexões para o futuro:
- Oportunidades iguais para todos: Economias que crescem a partir da base.
- Estratégias de política industrial: Necessidade de um planejamento que mantenha a competitividade dos mercados.
- Diversidade nas cadeias de suprimentos: Importância da resiliência econômica.
Fortalecendo a Democracia Através do Comércio
A administração Biden propõe uma política comercial que se trabalha de maneira integrada com a economia interna, buscando um comércio que beneficie tanto os trabalhadores americanos quanto seus parceiros comerciais. O acordo entre EUA, México e Canadá é um exemplo claro disso, introduzindo mecanismos para garantir que os direitos dos trabalhadores sejam respeitados em todos os níveis, mostrando que a colaboração transnacional pode dar frutos para as classes média e trabalhadora.
O Caminho Adiante
A jornada para restaurar a "liberdade da necessidade", conforme idealizado por Roosevelt, exige um compromisso renovado com uma governança econômica justa. Precisamos garantir que as políticas não apenas protejam os mercados, mas também incentivem um ambiente onde trabalhadores e cidadãos sejam valorizados.
Roosevelt nos legou um modelo que reconhece que, para todos prosperarem, precisamos trabalhar juntos de forma solidária, mirando em um comércio e uma economia que atuem não apenas para enriquecer alguns, mas para garantir o bem-estar de todos. Que o passado nos guie na construção de um futuro mais justo e equitativo.
O que você pensa sobre esse tema? Como podemos, coletivamente, moldar um futuro mais equilibrado? Compartilhe suas reflexões e se junte a essa conversa vital!