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Reimaginando a Sustentabilidade: A Importância do Algodão na Moda Consciente
Nos últimos anos, a discussão sobre sustentabilidade ganhou destaque global, sendo tema de conferências e debates importantes. No entanto, ao abrir o guarda-roupa, a realidade é outra: a presença de fibras sintéticas, oriundas do petróleo, cresce alarmantemente. Esses materiais, que alimentam a moda rápida, acabam por liberar microplásticos nos oceanos e criam uma pegada ambiental preocupante.
Um Paradoxo a Ser Resolvido
Como produtora de algodão e à frente de uma cadeia comprometida com o meio ambiente, não posso deixar de refletir sobre esse contraste. Embora os consumidores clamem por soluções mais eco-friendly, continuam a optar por fibras sintéticas como se fossem a escolha mais normal do mundo. É como se a urgência em lidar com a crise climática parasse na entrada das lojas.
Para entender melhor essa situação, precisamos retornar ao básico: a natureza. O algodão, uma fibra antiga e sustentável, é biodegradável e reciclável. Ele cresce no solo, absorve CO₂ durante seu ciclo de vida e se decompõe sem deixar resíduos nocivos. Ao contrário das fibras sintéticas, o algodão não polui os oceanos com microplásticos ou se transforma em partículas que contaminam o ar e a água. Estudos alertam que essas partículas já estão presentes no sangue humano e até na placenta, porém muitos ainda ignoram essa crítica situação.
A Moda Rápida e Seus Efeitos Desastrosos
A indiferença em relação a esses problemas pode ser atribuída ao conceito de moda rápida. Esse modelo de consumo acelerado promove roupas descartáveis e foca em fibras sintéticas de baixo custo, transformando o vestuário em itens de curta duração. Isso resulta em um aumento significativo na produção de resíduos e na exploração de recursos fósseis. O preço que pagamos por essa falsa ideia de acessibilidade, tanto ambiental quanto socialmente, é exorbitante.
Rumo a um Consumo Mais Consciente
No entanto, é fundamental compreender que a mudança para um consumo mais consciente não implica abrir mão de estilo ou inovação. É sobre repensar nossas escolhas. Olhar para a etiqueta de uma peça de roupa deve ser tão importante quanto analisar o rótulo de um alimento. Ao adquirir um produto, estamos, de certa forma, fazendo uma escolha ambiental.
O Progresso do Setor do Algodão
No Brasil, mais de 80% da produção de algodão adota práticas de sustentabilidade reconhecidas internacionalmente, como o programa ABR e o BCI. Estamos investindo em tecnologias que:
- Reduzem o uso de defensivos químicos;
- Promovem a biodiversidade nas lavouras;
- Integrando lavouras a sistemas agroflorestais;
- Rastreamos a fibra do campo até o consumidor.
Com esses esforços, conseguimos entregar qualidade, rastreabilidade e responsabilidade, mesmo em um país tropical, onde os desafios de produção são mais complexos do que em regiões de clima temperado.
A Importância da Ação Coletiva
Entretanto, essa transformação não pode ser feita de forma isolada. É crucial que haja uma ação coletiva coordenada entre os principais países produtores de algodão, como Brasil, Estados Unidos e Austrália. Juntos, precisamos unir forças e comunicar ao mundo que a produção de algodão moderno é o futuro sustentável da moda.
Quando juntamos conhecimento, dados e estratégias, conseguimos amplificar nossa mensagem. Isso nos permite romper barreiras geográficas e influenciar de maneira mais significativa consumidores, marcas e reguladores. É essencial reconectar o consumidor com a origem dos produtos que toca sua pele diariamente.
Pauta Urgente: O Algodão e a Sustentabilidade
O algodão e todas as fibras naturais devem retornar ao centro da discussão sobre sustentabilidade. Afinal, sustentabilidade não está apenas no que afirmamos, mas no que escolhemos vestir. Cada peça que compramos é uma declaração sobre o futuro que almejamos. Vamos refletir sobre isso e fazer escolhas mais informadas e conscientes?
*Alessandra Zanotto Costa é produtora rural, sócia-diretora no Grupo Zanotto e futura presidente da Associação Baiana dos Produtores de Algodão (Abapa). Ela também ocupa o cargo de conselheira fiscal na Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa) e faz parte do grupo ForbesMulher Agro.
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