Na manhã de terça-feira, 7 de outubro, o mundo perde uma de suas vozes mais impactantes no campo dos direitos humanos: Catarina de Albuquerque, a primeira relatora especial da ONU para o Direito à Água e ao Saneamento. A notícia foi confirmada pela Associação Portuguesa de Apoio à Vítima (APAV), onde Catarina atuou como vice-presidente entre 2013 e 2019, deixando um legado significativo.
Aos 55 anos, Catarina se destacou por sua incansável luta pela igualdade de acesso à água potável e ao saneamento, defendendo esses direitos como universais e fundamentais para a dignidade humana. Sua visão e determinação a tornaram uma figura respeitada e admirada, tanto em nível nacional como internacional.

Catarina de Albuquerque, uma voz atuante na defesa do direito à água e ao saneamento.
A Água como um Direito Universal
Entre 2008 e 2014, Catarina exerceu seu papel como relatora especial da ONU, sendo uma das pioneiras em elevar a discussão sobre o direito à água e saneamento a novas alturas. Em suas diversas intervenções, ela sempre enfatizou a importância de visibilizar essa questão, que muitas vezes é negligenciada, mas que afeta a vida de milhões de pessoas ao redor do mundo.
Em uma de suas últimas entrevistas, Catarina ressaltou a coragem dos defensores dos direitos humanos em todas as partes do globo, destacando que muitos estão na linha de frente diariamente, lutando por um mundo onde todos tenham acesso à água e ao saneamento. “O direito à vida digna, que inclui água e saneamento, era um tema pouco discutido até há poucos anos. Mas, graças a muitos, hoje contamos com um marco legal que atualiza a noção de direitos humanos”, declarou ela.
Os Desafios do Financiamento
Catarina também foi uma das fundamentais na inclusão da gestão sustentável da água nos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS). Em particular, ela ajudou a moldar o ODS 6, que visa assegurar água potável e saneamento para todos até 2030. Contudo, a luta não se resume apenas a garantir recursos financeiros; para ela, era vital que esses investimentos fossem direcionados a “boas políticas públicas”, não apenas a estruturas físicas.
Durante uma entrevista em 2022, Catarina expressou sua preocupação com o fato de que muitas comunidades ainda são excluídas da água saudável, em parte devido à ausência de investimentos em áreas vulneráveis ou a estigmas associados a bairros informais. “O problema da água é, antes de tudo, político. Meu desejo era garantir que, ao chegarmos a 2030, não houvesse uma única pessoa sem acesso a água e saneamento de qualidade”, afirmou.
Reconhecimento em Tempos de Crise
O impacto de Catarina se estendeu até os tempos mais difíceis, como durante a pandemia de Covid-19, quando ela se uniu a outros artistas e cidadãos para produzir um vídeo emocionado em que recitou uma poesia sobre Lisboa. Este ato foi uma demonstração do poder da arte e da solidariedade em momentos de crise.
Seu trabalho não passou despercebido; em 2009, ela foi reconhecida com a Ordem de Mérito pelo Presidente da República Portuguesa e posteriormente recebeu a Medalha de Ouro dos Direitos Humanos da Assembleia da República. Essas honrarias refletem sua dedicação incansável e seu impacto em diversas esferas da sociedade.
A Contribuição Além da ONU
Além de sua atuação na ONU, Catarina de Albuquerque ocupou posições de destaque em várias organizações, incluindo a presidência executiva da Parceria Global Saneamento e Água para Todos. Também fez parte de delegações portuguesas e atuou como consultora do Comitê Português para o UNICEF, sempre levando sua missão de defesa dos direitos humanos e do acesso à água a novos horizontes.
A notícia de sua partida gerou amplo pesar entre líderes e colegas. O presidente de Portugal, Marcelo Rebelo de Sousa, manifestou suas condolências e reconheceu o “papel relevante que Catarina exerceu em nível nacional e internacional”, destacando sua contribuição para a promoção dos direitos e da dignidade humana.
Reflexões sobre o Legado de Catarina
Com a perda de Catarina de Albuquerque, o mundo se despede de uma defensora apaixonada pelos direitos humanos. Sua vida e seu trabalho nos lembram da importância do acesso à água e ao saneamento como questões cruciais para a vida digna de todos. Todos nós podemos aprender com seu exemplo e continuar a luta pela igualdade e justiça.
Em tempos em que a desigualdade e a injustiça ainda persistem, a mensagem de Catarina permanece viva: é essencial fortalecer nossas vozes e agir para garantir que todos tenham acesso a recursos básicos e dignos. O legado dela nos inspira a ser mais envolvidos, não apenas discutindo, mas também atuando em prol de um mundo mais justo e sustentável.
Que possamos não apenas recordar sua memória, mas também nos comprometer a avançar na causa que ela tão bravamente defendeu. E você? O que pensa sobre a luta pelo direito à água? Quais ações podem ser tomadas por cada um de nós na nossa comunidade?