Descubra ’38 Estrelas’: Um Retrato de Coragem e Resistência Feminina
Em meio a tantas obras literárias que circulam no Brasil, um livro de impacto surpreendente permanece pouco comentado nas prateleiras: ’38 Estrelas’, escrito pela talentosa Josefina Licitra. Com um subtítulo que promete explorar ‘a maior fuga de um presídio de mulheres da história’, a obra vai além, tecendo um diálogo crucial sobre a escassez de protagonismo feminino em movimentos armados que enfrentaram as ditaduras na América do Sul nas décadas de 1960 e 1970.
A Coragem das Mulheres da História
Este livro fascinante relata a história de mulheres corajosas que faziam parte do movimento Tupamaro e de outros grupos menores no Uruguai. Entre suas protagonistas, destacam-se figuras como Alicia Rey Morales, Yessie Arlette Machi, e as irmãs Topolansky—Lucía e María, sendo a primeira esposa do ex-presidente José Mujica. Enquanto Lucía tinha um papel ativo no movimento que muitos rotulavam como terrorista, María, conhecida como Parda, era uma especialista em explosivos.
’38 Estrelas’ é uma obra curta, ideal para ser devorada em dias, no entanto, é uma pena que sua leitura se esgote tão rapidamente. Após virar a última página, fica a sensação de que a narrativa poderia ser mais rica e extensa. Mas talvez essa brevidade seja a alma do livro, uma escolha que contribui para sua beleza. Não é à toa que, em 2018, a obra foi recomendada pelo The New York Times como uma excelente leitura.
O site da editora Relicário Edições destaca que Licitra se empenhou em realizar uma intensa pesquisa e entrevistou diversas mulheres que viveram a fuga do presídio, proporcionando um relato fundamentado e emocionante.
A produção de Licitra se distingue pela sua habilidade de exploração cinematográfica do tema, permitindo que a leitura flua de maneira dinâmica e envolvente. A sobriedade com que os eventos são abordados não diminui a empolgação ao rever a fuga audaciosa realizada por um túnel que se estendia por dez quarteirões de Montevidéu—um fato intrigante, mas que não estraga a surpresa, pois é parte da narrativa.
’38 Estrelas’ Dentro da Coleção Nos.Otras
O livro em questão faz parte de uma coleção chamada Nos.Otras, que se propõe a dar espaço a obras frequentemente marginalizadas. Essa coleção, composta exclusivamente por obras de autoras, é coordenada por Mariana Sanchez e Maíra Nassif, e busca ampliar a visibilidade de vozes femininas na literatura.
Ao explorar a página virtual da coleção, outro título chama a atenção: ‘Tornar-se Palestina’, de Lina Meruane. Publicado pela primeira vez em 2013, esse livro também carrega uma profundidade de temática semelhante à de ’38 Estrelas’. As palavras da autora, “Retornar. Esse é o verbo que me assalta toda vez que penso na possibilidade da Palestina”, ecoam a busca por identidade e pertencimento, imersos em questões de exílio e memória.
Reflexão sobre Memória e Identidade

No ano passado, tive a oportunidade de visitar o Museu da Memória em Montevidéu. Localizado em uma área afastada do agito urbano, o museu nos proporciona uma visão clara e impactante sobre os anos de ditadura e a luta pela democracia no Uruguai. A caminhada até o museu é cercada por natureza, tornando a experiência ainda mais introspectiva.
Dentro do museu, um dos momentos mais emocionantes é ao nos depararmos com os uniformes dos presos políticos pendurados no teto, um poderoso lembrete da luta e sofrimento de tantas vidas. Essa visita se entrelaça com a leitura do livro de Licitra, trazendo à tona a citação que reside em minha memória: “É nessa urgência, de antes e agora, que homens e mulheres estamos unidos. Porque todos nós sobrevivemos a mais de uma coisa e todos fugimos de mais de um lugar.” Essa frase ressoa profundamente após refletirmos sobre a coragem desses personagens históricos.
Encontro com a Literatura Comprometida
Se você está em busca de uma leitura que não apenas entretenha, mas também desperte reflexões sobre questões sociais e de gênero, ’38 Estrelas’ é uma escolha indispensável. Disponível no site da editora Relicário, o livro, traduzido por Elisa Menezes, é oferecido a um preço acessível de R$ 65—vale a pena cada centavo investido.
Ao mergulhar nas páginas dessa obra, sente-se a pulsação da luta, da resistência e do amor pela liberdade, elementos que promovem um forte apelo à ação e à reflexão. O livro nos convida a revisitar a história com um olhar mais atento e crítico, e a reconhecer o papel vital que as mulheres desempenharam em narrativas comumente dominadas por vozes masculinas.
O que você acha do protagonismo feminino em contextos históricos de luta e resistência? Deixe sua opinião nos comentários e compartilhe suas reflexões sobre como a literatura pode oferecer uma nova perspectiva sobre esses temas.