O Novo Rumo da Política Externa dos EUA: Entre a Isolação e a Agressão
Desde o fim da Guerra Fria, a política externa dos Estados Unidos tem se debatido entre dois caminhos principais: manter a liderança na ordem internacional liberal ou se retirar e adaptar-se a um mundo multipolar. No entanto, um terceiro caminho, que poderia ser descrito como o de uma superpotência rebelde, se revela como uma realidade cada vez mais palpável. Este caminho é definido por uma abordagem agressiva, que prioriza os interesses pessoais ao invés de uma colaboração internacional.
O Legado de Donald Trump
A era de Donald Trump trouxe à tona essa visão de uma superpotência rebelde. Com o aumento dos impostos de importação que lembram a famosa Lei Smoot-Hawley de 1930, cortes drásticos em ajuda externa, desdém por aliados e sugestões de anexar territórios como Groenlândia e Canal do Panamá, Trump se tornou um símbolo dessa tendência. Contudo, suas ações não são apenas reflexo de sua administração; elas canalizam frustrações profundas em relação à liderança global e as forças estruturais que atraem a estratégia dos EUA para dentro. A pergunta mais pertinente agora não é se os EUA seguirão esse caminho, mas como e qual será o seu objetivo.
O Motivo desse Caminho Solo
Um dos principais fatores que levam os EUA a seguir essa rota é a própria capacidade de fazê-lo. A potência americana, mesmo sob alertas de declínio, permanece robusta. O mercado consumidor dos EUA é comparável ao tamanho combinado dos mercados da China e da zona do euro. Além disso, a moeda americana domina as transações comerciais e financeiras internacionais, conferindo a Washington um poder significativo para impor sanções devastadoras.
A dependência da economia americana em relação ao comércio internacional é baixa, com as exportações representando apenas 11% do PIB — contra uma média global de 30%. Os EUA também são líderes em capital de risco e dominam a produção de necessidades essenciais, como energia e alimentos.
Poder Militar e a Dependência Global
No campo militar, os EUA se destacam como a única nação capaz de travar grandes guerras a milhares de quilômetros de suas costas. Aproximadamente 70 países dependem da proteção americana, enquanto muitos aliados, agora, enfrentam dificuldades para garantir sua própria segurança. Quando crises surgem, eles ainda se voltam para Washington em busca de apoio.
Entretanto, essa configuração cultivou dependência, onde países que eram pilares da ordem liberal tornam-se, na verdade, dependentes e, em vez de reforçar o poder dos EUA, acabam drenando-o.
Os Desafios do Futuro
Além da dependência, o modelo da ordem liberal se mostrou insuficiente para lidar com os novos desafios que emergiram após a Guerra Fria. Muitos dos aliados que Washington protegeu tornaram-se incapazes de arcar com responsabilidades significativas. Com a proteção americana, a Europa Ocidental, Japão e Canadá reduziram seus gastos com defesa e se tornaram cada vez mais vulneráveis.
A integração de adversários como Rússia e China na ordem liberal do pós-guerra acabou por fortalecê-los. Ambos os regimes se aproveitaram do sistema para expandir suas influências fora de suas fronteiras, mediante ações agressivas que vão de violações territoriais a desestabilização econômica.
O Crescimento da Desigualdade Interna
Os problemas não param por aí. A globalização gerou crescimento, mas também resultou na desindustrialização de várias regiões dos EUA. Desde 2000, a produção industrial nos EUA caiu quase 10% e um em cada três empregos fabris desapareceu, provocando um impacto social significativo.
A polarização econômica resultante fez com que uma grande parte da população ficasse para trás, contribuindo para o desencanto com a ordem liberal e pavimentando o caminho para uma política econômica mais protecionista.
Tendências Emergentes e a Urgência da Ação
Atualmente, duas forças poderosas estão moldando o cenário global e reforçando essa tendência unilateral dos EUA: mudanças demográficas e a automação. O crescimento populacional nos Estados Unidos contrasta drasticamente com o declínio das taxas de natalidade na Europa e na Ásia, onde economias estão enfrentando desafios demográficos significativos.
Com a automação e o avanço das tecnologias, os EUA se tornam menos dependentes de mão de obra estrangeira e de bases militares em outros países. A combinação de uma força de trabalho em declínio no exterior e uma crescente autossuficiência em casa leva a uma tendência de “tornar-se forte sozinho”.
A Agitação Global e o Enfraquecimento dos Aliados
A crescente instabilidade em regiões do mundo em desenvolvimento, onde a população jovem proliferada é confrontada por governos fracos, está resultando em crises humanitárias e aumento do extremismo. Essa situação, somada ao avanço da automação, reforça a tendência dos EUA de se isolarem.
Do lado militar, a estratégia americana começa a mudar. O foco agora parece estar mais voltado para a capacidade de atacar adversários de longe, aproveitando novas tecnologias, como drones e armas cibernéticas, em vez de manter forças permanentes em bases internacionais.
A Necessidade de um Novo Modelo Colaborativo
Em vez de ceder a um mundo dividido em esferas de influência, os EUA deveriam trabalhar para conter regimes autocráticos através de uma aliança consolidada de democracias. A América do Norte já forma uma importante zona de livre comércio e tem o potencial de se tornar a base para um bloco econômico e militar robusto.
Estratégias para a Cooperação
Aqui estão algumas estratégias que poderiam ser adotadas:
- Reforço da Defesa: Países na linha de frente, como Polônia, Coreia do Sul, Taiwan e Ucrânia, devem ser fortemente armados para dissuadir agressões.
- Alianças Econômicas: A oferta de acesso ao mercado em troca de compromissos claros dos aliados pode ajudar a reforçar a defesa comum.
- Integração e Colaboração: Promover uma maior colaboração em tecnologia e na indústria também pode servir como uma maneira eficaz de neutralizar a dependência de adversários.
A busca não deve ser apenas por vencer a competição entre grandes potências, mas por canalizar essa rivalidade para um mundo que reflita os valores e interesses dos EUA.
Um Futuro Possível e Convidativo
Embora a atual dinâmica global esteja repleta de desafios, ela também oferece oportunidades. Crises históricas frequentemente impulsionaram mudanças significativas, e este pode ser mais um desses momentos. Um renascimento americano pode ser moldado por conta do aumento das tensões com adversários autocráticos. A história dá conta de que cada vez que a sobrevivência nacional esteve em risco, a inovação e o compromisso emergiram em força.
Fundar um bloco de países que valoriza a liberdade e a prosperidade pode ser a chave para modelar não apenas o futuro das relações internacionais, mas também para a recuperação interna dos EUA. Assim, ao invés de se tornarem uma superpotência rebelde, os EUA têm a chance de se consolidar como um líder no fortalecimento da liberdade global.
Que futuro esperançosos podemos construir juntos? A história ainda está em aberto, e suas páginas estão sendo escritas neste exato momento. Como você enxerga o papel dos EUA nesse novo cenário repercutindo na política global? Compartilhe sua visão!