Ilustração: KORAKRICH SUNTORNNITES/GETTY IMAGES
A Nova Era da Sustentabilidade: O Desafio do Escopo 3
Nos últimos tempos, o Brasil tem vivenciado um despertar significativo no que diz respeito à sustentabilidade, especialmente após os incidentes ambientais que marcaram o sul do país no ano passado. Esses acontecimentos serviram como um alerta crucial para a relação cada vez mais complexa entre as empresas e o meio ambiente, refletida na letra “E” da sigla ESG (ambiental, social e governança). A responsabilidade das organizações em minimizar os impactos de suas atividades no planeta nunca foi tão evidente, e um aspecto central desse debate é a adoção do Escopo 3.
O que é o Escopo 3?
O conceito de Escopo 3 foi delineado pelo Protocolo de Gases de Efeito Estufa, desenvolvido pelo World Resources Institute e pelo World Business Council for Sustainable Development. Em termos simples, o Escopo 3 abrange todas as emissões de gases de efeito estufa (GEE) geradas ao longo da cadeia de valor de uma empresa que não são controladas diretamente por ela. Isso inclui:
- Proveniência de insumos e materiais;
- Transporte e logística, incluindo deslocamentos de colaboradores;
- Uso e descarte de produtos pelos consumidores;
- Entre outras categorias relevantes.
A complexidade do Escopo 3 representa um grande desafio para as empresas, pois envolve o rastreamento e a gestão de práticas sustentáveis que vão além de sua própria operação, exigindo um esforço combinado de toda a cadeia produtiva.
O Papel do Brasil na Sustentabilidade Global
O Brasil se destaca cada vez mais como um ator vital na sustentabilidade global. Os dados compilados no estudo Panorama da Sustentabilidade no Brasil, realizado pela consultoria Roland Berger, revelam que 84% dos líderes empresariais consideram a sustentabilidade um eixo fundamental para suas operações. Além disso, cerca de 49% planejam aumentar seus investimentos nessa área em 2024.
O Pacto Global da ONU, com mais de 20 mil empresas participantes em 162 países, ilustra o compromisso das organizações com a sustentabilidade. De acordo com Carlo Pereira, CEO da entidade no Brasil, nosso país se tornou um modelo a ser seguido em termos de compromissos públicos.
Desafios e Oportunidades para Empresas
O Escopo 3 apresenta um desafio significativo que vai além da preocupação com as mudanças climáticas. Como explica Pereira, isso amplia a responsabilidade das grandes empresas sobre as práticas sustentáveis de suas cadeias de suprimentos. O objetivo são processos que gerem competitividade e sustentabilidade, promovendo uma economia que beneficie todos os envolvidos.
Exemplos de Sucesso em Sustentabilidade
Um exemplo notável é o Grupo CCR, líder em infraestrutura de mobilidade no Brasil, que almeja 100% de resiliência climática em seus ativos até 2025. A empresa também projeta uma redução de 59% nas suas emissões de CO2 até 2033. Por sua vez, a multinacional Hydro tem como meta a neutralidade de carbono até 2050, com medidas claras para reduzir suas emissões em todos os níveis de operação.
Outros casos incluem a Natura&Co, que busca não apenas a proteção da biodiversidade e direitos humanos, mas também a promoção de práticas regenerativas em sua cadeia de produção. Além disso, a PepsiCo projeta neutralizar suas emissões de gases de efeito estufa até 2040, exemplificando seu compromisso social e ambiental com iniciativas de agricultura sustentável.
A Relevância da Tecnologia no ESG
Em um mundo digitalizado, a tecnologia se mostra uma aliada essencial para a implementação de práticas ESG. Com a recente Resolução 193 da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), espera-se que as empresas de capital aberto tratem a sustentabilidade com a mesma seriedade que conferem aos dados financeiros. A inteligência artificial (IA) desempenha um papel crucial, desde a análise de dados até a criação de estratégias para reduzir a pegada de carbono.
Startups e Inovação
As startups estão rapidamente se tornando protagonistas no cenário ESG. Segundo um estudo do hub de inovação Distrito, essas empresas têm atraído investimentos significativos. Iniciativas de tecnologia sustentável são fundamentais para que as grandes corporações se alinhem às demandas do mercado e às expectativas sociais. Por exemplo, a Tero Carbon, startup focada em créditos de carbono, tem se mostrado uma referência no uso de tecnologia para assegurar práticas sustentáveis na agricultura.
O Fator Humano na Governança Corporativa
Alexandre di Miceli, especialista em governança, ressalta que o fator humano é imprescindível para o crescimento das empresas. Ele acredita firmemente que, independentemente dos avanços tecnológicos, é a cultura organizacional e o comprometimento ético que fomentarão verdadeiras transformações. Um ambiente de trabalho colaborativo e orientado por valores comuns será a chave para um futuro sustentável.
Reflexões e Responsabilidades Coletivas
As recentes tragédias ambientais no Brasil, como as enchentes no Rio Grande do Sul, devem servir como um chamado à ação. Ricardo Ribeiro Alves, um dos principais autores sobre ESG no Brasil, alerta que tanto as empresas quanto os consumidores e o governo têm papéis cruciais na mitigação dos impactos ambientais. Essa é uma responsabilidade que deve ser compartilhada.
O Caminho à Frente
O futuro da sustentabilidade exige um compromisso genuíno de todos os setores. A adoção de práticas ESG não é apenas uma tendência, mas uma necessidade inadiável para garantir não só a viabilidade das empresas, mas o bem-estar do planeta e das futuras gerações. Cada ação conta, e a colaboração entre governos, empresas e consumidores será fundamental no enfrentamento dos desafios globais.
Como você, leitor, imagina que possa contribuir para um mundo mais sustentável? Vamos juntos refletir e agir! Compartilhe suas opiniões e experiências sobre como podemos avançar nessa jornada de responsabilidade coletiva.
