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Desvendando o Impacto dos Juros Altos: Por Que Eles Têm Pouca Influência no Final?

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A Política Monetária em 2024: Desafios e Paradoxos da Economia Brasileira

Ao longo de 2024, o Banco Central do Brasil tomou a decisão de elevar a taxa Selic de forma significativa, subindo de 10,50% para 13,25% ao ano em um intervalo curto. Essa ação visava conter a inflação e esfriar a economia em um cenário que prometia desaceleração. No entanto, a realidade se mostrou mais complexa do que se previa.

Um Paradoxo Econômico

Atualmente, nos deparamos com uma situação paradoxal: mesmo com a política monetária mais restritiva, a atividade econômica permanece robusta. A inflação, que deveria recuar diante do aumento das taxas de juros, permanece desafiadora. A razão para essa desconexão não se encontra nas decisões do Comitê de Política Monetária (Copom), mas na maneira como o governo tem explorado o crédito como um substituto para o estímulo fiscal. Enquanto o Banco Central tenta aplicar o freio na economia, o crédito oficial continua a acelerar.

Expectativas Inflacionárias Desajustadas

A alta da Selic não ocorreu sem consequências. No segundo semestre de 2024, as expectativas inflacionárias começaram a se desviar da meta estipulada. Semanalmente, o boletim Focus demonstrou um distanciamento crescente, reacendendo discussões sobre a dominância fiscal, uma situação em que a política monetária perde eficácia devido a um ambiente fiscal mal administrado.

A Resposta do Banco Central

Sob a presidência de Roberto Campos Neto, o Banco Central adotou uma postura proativa. Com a transição para Gabriel Galípolo, houve até uma previsão de um aperto adicional de 300 pontos-base. Adicionalmente, mudanças no cenário internacional, como a vitória de Donald Trump nos Estados Unidos, trouxeram incertezas, mas favoreceram a valorização do real e reduzindo choques importados. No entanto, a inflação interna não se comportou da mesma maneira.

Criação de Crédito: Um Estímulo Persistente

A política monetária atua através de diversos canais. Um deles é o câmbio: a valorização do real ajuda a conter os preços de bens importados. Outro fator é a curva de juros, que eleva o custo de capital no mercado. Entretanto, o que realmente preocupa é o canal do crédito, que se mantém aberto e aquecido, especialmente com financiamentos subsidiados.

  • Mesmo com as taxas de juros altas, o crédito continua a expandir. Algumas áreas ainda estão em crescimento:
    • Financiamento Habitacional: O programa “Minha Casa Minha Vida” foi reforçado.
    • Crédito Consignado: Ampliado para novos grupos de beneficiários.
    • Apoio às MPMEs: Facilitação do acesso ao crédito para micro, pequenas e médias empresas.

Na prática, a economia ainda recebe incentivos, mesmo com o Banco Central tentando a desaceleração.

Estratégia Governamental

Esse descompasso não é um acaso; faz parte de uma estratégia governamental. Diante de limitações fiscais impostas, o governo optou por expandir o crédito por meio de bancos públicos e várias medidas parafiscais.

  • Em vez de aumentar gastos primários, o governo tem buscado aumentar o crédito direcionado:
    • Aumento de recursos para crédito imobiliário com taxas subsidiadas.
    • Fortalecimento de linhas para as MPMEs.
    • Extensão das opções de crédito agropecuário.

A lógica é clara: manter a economia em movimento, mesmo que de forma artificial, até o período eleitoral.

O Custo da Liquidez

No entanto, esse movimento tem um custo elevado. A injeção de liquidez na economia aumenta a demanda agregada num momento em que a política monetária visa o contrário. É um claro confronto entre as principais ferramentas de política econômica do país, que se reflete em taxas de inflação que não cede.

  • Os principais impactos incluem:
    • Expectativas inflacionárias desancoradas.
    • Juros altos prolongados, além do que seria desejável.
    • Custo elevado para o contribuinte, cujos encargos podem se agravar a longo prazo.

O Ruído Político na Fiscalização Monetária

Este cenário revela um ponto crucial: a atividade econômica resiste à desaceleração não por falhas do Copom, mas devido à interferência política na aplicação da política monetária. O governo, mesmo sem romper regras fiscais, contorna limitações com instrumentos que interferem no controle da inflação.

A Necessidade de Coesão Institucional

Para que a política monetária funcione, é essencial haver coesão institucional. Quando o governo tenta contornar as regras, mesmo que indiretamente, o resultado é um cenário de inflação elevada, expectativas desajustadas e juros crescentes.

  • Consequências desse desvio incluem:
    • Aumento da dívida pública.
    • Elevação dos custos de crédito no futuro.

Um Olhar para o Futuro

O Brasil não está à margem das consequências da política monetária. O que ocorre é uma neutralização, em grande parte, causada por decisões políticas que buscam sustentar a economia sem considerar os reais custos dessa estratégia. O canal de crédito, que deveria ser um auxílio, tornou-se um instrumento de sobrevivência política.

Nesse contexto, a política monetária ainda funciona, mas enfrenta desafios significativos. A inflação permanece sobre o radar, mas alguém dentro do governo continua a puxar esse alvo para longe da meta desejada.

Reflexão Final

O debate sobre a dirigibilidade da economia e as relações entre política fiscal e monetária é mais relevante do que nunca. O chamado à ação é claro: para que o Brasil vença seus desafios econômicos, é necessário que se encontre um equilíbrio entre as políticas, promovendo uma recuperação sustentável. O futuro da economia pode depender dessa reavaliação.


Este artigo foi coautorado por Ítalo Faviano, economista da BuysideBrasil.

Luiz Fernando Figueiredo é Presidente do Conselho de Administração da JiveMauá.

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