quinta-feira, junho 19, 2025

Desvendando o Mistério de Maio: Por Que a Bolsa, Dólar e Juros Deram um “Gelo” no Último Dia do Mês?


O encerramento de maio trouxe à tona um cenário desafiador para os ativos brasileiros, evocando a famosa expressão do mercado financeiro: “sell in may and go away” — a ideia de vender em maio e se afastar do mercado, refletindo um histórico de desempenho decepcionante nos meses que antecedem o verão no Hemisfério Norte, que começa em junho.

No dia 30 de maio, as incertezas comerciais entre os Estados Unidos e a China, assim como as preocupações nacionais sobre as contas públicas, dominaram o cenário. Por volta das 15h40, o Ibovespa apresentava uma queda de 0,76%, posicionando-se em 137.476 pontos. O dólar, por sua vez, estava cotado acima de R$ 5,70.

No segmento de renda fixa, os títulos indexados à inflação começaram a oferecer retornos atraentes novamente. O Tesouro IPCA+ 2029 apresentava um rendimento de 7,42% de juro real, enquanto outros vencimentos em 2040 (7,01%), 2045 (7,11%) e 2060 (7,07%) também superavam a marca de 7%. Títulos que pagam cupons semestrais, como o IPCA+ 2035 e 2045, ofereciam respectivamente 7,22% e 7,11%.

O que levou à queda nos preços?

  • Aumento nas taxas: A elevação das taxas nos títulos de longo prazo reflete preocupações com o risco fiscal e a incerteza em torno do arcabouço fiscal do país. A atenção está voltada, principalmente, para o impasse relacionado ao decreto que aumenta o IOF. Ao final da semana, o governo enfrentava pressão do Congresso, que deu um prazo de 10 dias para apresentar alternativas a essa medida. O presidente da Câmara, Hugo Motta, defendeu a discussão sobre isenções fiscais e uma reforma administrativa.
  • Desempenho da Bolsa: A correção nos ativos é um reflexo de meses de valorização acentuada do mercado brasileiro. Apesar da queda do dia, o Ibovespa ainda acumulava uma alta de 1,67% em maio, após ganhos de 3,69% em abril e 6,08% em março. Essa performance aproxima o índice das máximas históricas e representa uma valorização superior a 15% no ano.
  • Fatores externos: Tanto o Ibovespa quanto o dólar foram impactados pela aversão ao risco em nível global, que prejudicou as ações negociadas em Nova York e valorizou a moeda americana, que voltou a ser vista como um porto seguro. Naquele dia, os índices S&P 500 e Nasdaq estavam em queda de 0,38% e 0,83%, respectivamente.

Em âmbito internacional, três fatores estavam sendo monitorados de perto pelos investidores:

1. Tarifas comerciais

O ex-presidente Donald Trump acusou a China de descumprir um acordo estabelecido em abril, reacendendo os temores de uma nova guerra comercial. Segundo ele, essa situação poderia levar a ações dos EUA para garantir o cumprimento de futuras obrigações comerciais.

2. Pacote fiscal de Trump

Os agentes do mercado expressaram preocupações em relação a um item obscuro no extenso projeto de lei de impostos e gastos defendido por Trump. Esse item prevê, entre outras coisas, o aumento de impostos para indivíduos e empresas de países cuja política fiscal os EUA considerem “discriminatória”. As alíquotas sobre rendimentos passivos obtidos por investidores também estão sob análise.

3. Inflação nos Estados Unidos

A inflação nos EUA também se tornou um foco de atenção. O índice PCE subiu 0,1% em abril, com um aumento anual de 2,1%, alinhado às expectativas, o que alimenta a perspectiva de que o Federal Reserve poderá cortar taxas de juros em setembro. Contudo, a incerteza persiste sobre os efeitos da guerra comercial nos próximos meses.

“Ainda não vemos sinais claros de como as tarifas afetaram os dados do PCE”, observou Andressa Durão, economista do ASA. “Neste momento, o Fed está mantendo os juros inalterados devido a incertezas quanto à inflação e atividade, enquanto avalia os impactos em dados futuros.”

O lado positivo da situação

Considerando os fatores locais e internacionais, a última sessão de maio fecha um mês repleto de alertas para o próximo mês, mas ainda otimista para o mercado brasileiro.

Embora tenhamos visto uma realização pontual de lucros, o otimismo em relação ao Brasil a médio e longo prazo permanece firme. Analistas do Morgan Stanley acreditam que ainda há espaço para novas valorizações, baseando-se em quatro pilares: “momentum positivo, redução das taxas de juros, baixo posicionamento dos investidores e avaliações atrativas”. Mesmo com a valorização recente de 19% em dólares no ano, considerando a alta de aproximadamente 9% do real, o Brasil ainda apresenta desempenho abaixo de outros países da América Latina, como Colômbia (+35%), México (+28%) e Chile (+27%).

De acordo com o Morgan, a combinação de preços mais baixos, uma economia resiliente e um crescente interesse de gestores globais por diversificação continuam a favorecer os ativos brasileiros. Vale ressaltar que o Ibovespa é mais sensível às taxas de juros locais do que o MSCI Brasil, o que pode ser um fator determinante em um cenário de possíveis cortes de juros.

Ainda, apesar do PIB forte que foi reportado, com crescimento de 1,4%, posicionando o Brasil em segundo lugar global em termos de crescimento econômico, analistas prevêem que a atividade possa retrair nos próximos meses. Portanto, a expectativa é de que o Banco Central não enfrente dificuldades adicionais e que a Selic tenha alcançado seu teto em 14,75% ao ano.

Com tudo isso em mente, é essencial que investidores e cidadãos mantenham um olhar atento sobre os desdobramentos nas economias locais e globais, sempre buscando entender os fatores que podem influenciar suas decisões financeiras. As flutuações do mercado são normais, mas o suporte e as análises corretas podem ajudar a navegar por esse mar de incertezas.

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