O Futuro de Gaza: O Que Dizem os Gazenses?
Após o frágil cessar-fogo em 19 de janeiro e o acordo de troca de reféns com o Hamas, o debate sobre o futuro de Gaza e de seus 2,1 milhões de habitantes ganhou novos contornos. A guerra devastou grande parte da região, arrasando escolas, hospitais e a infraestrutura civil, deixando muitos sem abrigo. Nesse cenário, o medo de um novo colapso no cessar-fogo assombra o dia a dia dos gazenses. Enquanto isso, ideias vazias sobre a "apropriação" dos EUA em Gaza e a relocação permanente da população parecem mais distantes da realidade.
A Voz de Gaza: Onde Estão os Gazenses?
Curiosamente, os próprios gazenses têm sido excluídos deste diálogo. É pertinente questionar como mais de 15 meses de conflito impactaram a visão dos civis sobre seu futuro, suas aspirações e quem deve liderá-los. Após os custos imensos causados pelas ações do Hamas em 7 de outubro de 2023, poderia-se esperar que muitos rejeitassem a liderança do grupo e buscassem alternativas. No entanto, o que uma pesquisa realizada em janeiro revela é um panorama mais complexo.
Realizada pela Artis International e pelo Changing Character of War Centre da Universidade de Oxford, a pesquisa contou com 500 entrevistas com gazenses de diversas faixas etárias e teve uma margem de erro de apenas 4 pontos percentuais.
O Que a Pesquisa Revela?
Os resultados mostraram que, apesar da queda do apoio ao Hamas, as alternativas ao grupo não são bem vistas. Isso, paradoxalmente, pode permitir que o Hamas reforce sua influência na região. O compromisso com objetivos políticos radicais permanece forte mesmo com o sofrimento e a destruição que a população enfrentou, erodindo o suporte a uma solução de dois Estados. Além disso, os valores centrais relacionados à identidade palestina continuam vibrantes, com os gazenses dispostos a mantê-los, mesmo que isso implique em sacrifícios pessoais.
Descompasso na Governança
Quando perguntados sobre soluções para o conflito israelo-palestino, a pesquisa constatou que, enquanto 48% ainda viam a solução de dois Estados como aceitável, quase o mesmo número (47%) preferia a dissolução de Israel. Apenas 5% aceitavam uma solução de um estado binacional democrático. Ou seja, a busca pela autonomia e pelos direitos de retorno dos refugiados palestinos ainda é um aspecto muito presente no imaginário coletivo.
Mudanças na Percepção Sobre o Hamas
Antes do ataque de outubro, o apoio ao Hamas já estava em queda. A expectativa em torno da solução do conflito e a demanda por movimento em direção à criação de um estado palestino tinham contribuído para essa diminuição. Após o ataque, a situação se complicou. Inicialmente, o suporte ao Hamas se recuperou, chegando a quase 50%. Contudo, conforme a guerra se intensificou e a liderança do grupo foi eliminada, esse apoio voltou a cair.
A pesquisa de janeiro revelou que apenas um quinto da população ainda apóia o Hamas, enquanto alternativas de liderança são ainda menos populares.
A Força Espiritual dos Gazenses
É crucial ressaltar que, mesmo com a falta de apoio maciço ao Hamas, sua ideologia ainda ressoa com grande parte da população. Os valores do grupo, como a aplicação da sharia e o direito de retorno, permanecem centrais. A pesquisa indicou que muitos gazenses estão comprometidos em fazer sacrifícios significativos para atingir esses objetivos.
Os participantes foram convidados a avaliar sua conexão com suas crenças e valores, e os resultados mostraram que aqueles que se sentem mais alinhados com a sua identidade acabam resistindo fortemente à ideia de fazer paz com Israel.
O Conflito em Termos Religiosos
Os gazenses tendem a enxergar a luta contra Israel como uma batalha religiosa, ligada à libertação dos muçulmanos, embora essa crença não implique necessariamente intolerância a outros grupos. Contradições emergem quando os gazenses percebem a liderança israelense como mais representativa que a palestina. Essa percepção de uma liderança palestina ineficaz contribui para um vácuo de representatividade.
Reflexões sobre a Paz
A vontade de muitos gazenses de preservarem seus valores fundamentais envolve uma rejeição à proposta de abandonar suas terras em troca de segurança imediata. Ao contrário, eles esperam que a paz incluía um reconhecimento simbólico dos seus direitos, incluindo o direito de retorno. A partir desse ponto de vista, a paz não deve ser negociada a qualquer custo, mas sim abordada sob a luz dos valores que eles consideram sagrados.
O Caminho à Frente
Pensando no futuro, os gazenses mostram uma expectativa de paz, mas dividida. Por um lado, há aqueles que acreditam que esta paz virá por meio de negociações; por outro, há quem acredite que a dissolução de Israel pode ser a resposta. Assim, a ideia de um cessar-fogo ou acordo duradouro está intrinsecamente ligada à percepção de que uma solução justa para suas reivindicações é possível.
Considerações Finais
A situação em Gaza é complexa e requer um entendimento profundo das dinâmicas culturais e políticas em jogo. Com os gazenses se mostrando resilientes, é vital que qualquer plano futuro considere não apenas as necessidades imediatas de segurança e abrigo, mas também a busca por direitos e identidade.
Concluindo, a paz na região pode estar atrelada a um diálogo mais profundo que reconheça a importância da identidade palestina e as aspirações de seu povo. Para que isso aconteça, será necessário um esforço conjunto que vá além das aparências e se aprofunde nas raízes do conflito. Você se sente motivado a se engajar nessa discussão ou a compartilhar suas reflexões sobre o futuro de Gaza?