A Corrida pelo Futuro: Estados Unidos e China em uma Nova Era Econômica
A competição entre China e Estados Unidos já não é mais apenas um embate entre o maior produtor e o maior consumidor do mundo. Ambos os países estão se esforçando para se tornar um pouco mais como o outro, numa corrida pela reestruturação de suas economias. Mas a grande questão que paira no ar é: os Estados Unidos conseguem compensar a perda de produção vinda da China mais rápido do que a China consegue se adaptar à diminuição do consumo americano?
O Despertar de Washington
Recentemente, Washington se viu confrontado com essa pergunta. Em um artigo provocador da Foreign Affairs, os ex-oficiais da administração americana Kurt Campbell e Rush Doshi alertaram sobre a necessidade de não subestimar a capacidade industrial da China. Segundo eles, o principal ponto fraco dos EUA está na falta de escala — ou seja, a capacidade de utilizar seu tamanho para gerar eficiência e produtividade.
A Importância da Escala e da Colaboração
Montar uma equipe econômica que os analistas chamam de "Team America" pode ajudar a resolver a questão da escala, mas isso não basta. É preciso ir além da mera aliança: os Estados Unidos precisam desenvolver cadeias de suprimento integradas, como a China fez ao longo das últimas três décadas. Isso significa enfrentar o desafio de extrair matérias-primas, construir infraestrutura e implementar tecnologia dentro do próprio território.
Se Washington deseja alcançar resultados semelhantes aos de Pequim, deve replicar algumas estratégias de organização e mobilização da economia proposta pela China. O foco deve estar em velocidade e concentração: características que devem ser incorporadas em uma política industrial com um toque americano.
Potencializando o Futuro
Um exemplo claro do modelo chinês é o impulso à eletrificação, que começou há cerca de 20 anos com a construção de uma rede nacional de trens de alta velocidade. Esse movimento não só necessitou de uma infraestrutura elétrica robusta, mas também fomentou a demanda por veículos elétricos, levando a China a se investir ainda mais nesse setor.
Os investimentos em veículos elétricos não apenas criaram uma indústria dinâmica, mas também catalisaram uma cadeia de suprimento robusta para eletrificação, incluindo baterias e armazenamento de energia. A velocidade de desenvolvimento da eletrificação na China se deve em grande parte ao apoio do governo e à capacidade de suas empresas, que operam de forma integrada e verticalizada.
Verticalização e Eficácia
Um exemplo notável dessa verticalização é a fabricante chinesa BYD, cujas operações vão desde a extração de matérias-primas até a produção de veículos elétricos. Isso permite que as empresas chinesas agilizem processos, reduzam custos e aumentem a eficiência. Para se ter uma ideia, a fabricação de painéis solares na China é até 65% mais barata do que na América ou na Europa!
A China também conseguiu encurtar ciclos de produção em setores como energia. O governo central e as empresas estatais têm trabalhado em harmonia para coordenar inovação e regulamentação, resultando em avanços rápidos. Um exemplo disso é o desenvolvimento de reatores nucleares modulares: o país foi capaz de passar da concepção à comercialização em apenas uma década, algo impossível em um ambiente regulatório americano.
O Segredo do Sucesso: Clusters Regionais
Outro ingrediente vital para o sucesso chinês na manufatura é a criação de clusters industriais regionais. Nesses polos, empresas se colocam próximas para compartilhar recursos, mão de obra e redes de suprimentos. Na região do Delta do Rio Pérola, por exemplo, o governo criou zonas econômicas com infraestrutura portuária e incentivos fiscais, atraindo fabricantes de alto valor.
Essas concentrações têm sido essenciais para o crescimento de hubs tecnológicos, especialmente na área de eletrificação. Um exemplo famoso é a cidade de Baotou, que se tornou um centro de produção de ímãs permanentes, fundamentais para motores de veículos elétricos e turbinas eólicas, devido ao apoio governamental e acesso a reservas de terras raras.
Aprendizados e Oportunidades para os EUA
Agora, imagine o que os Estados Unidos poderiam fazer se adotassem algumas dessas práticas. Embora seja preciso um esforço conjunto para desenvolver indústrias nos setores onde os EUA enfrentam escassez, o país também pode aprender com as estratégias bem-sucedidas da concorrência.
A Necessidade de Ação Rápida
Em lugar de somente observar e criticar, seria prudente que os EUA também agissem. O governo poderia identificar regiões com vantagens comparativas para que cadeias de suprimento se desenvolvam e novas tecnologias se comercializem. A região do Meio-Oeste, por exemplo, possui depósitos de minerais críticos para baterias. Transformar essa região em um "Cinturão de Baterias" poderia revitalizar a economia e criar milhares de empregos.
A Aceleração da Inovação
Para que essa transformação ocorra, é fundamental que o governo americano se torne um agente de aceleração. Isso significa não só encurtar prazos de aprovação, mas também dar poder a agências como as de Energia e Transporte para reduzir os tempos de projeto. Por que um projeto de usina nuclear deve levar mais de dez anos para ser finalizado?
A criação de "corredores verdes" para simplificar autorizações para projetos industriais estratégicos é outra ideia viável. Além disso, seria crucial que governadores e prefeitos se alinhassem com as esferas federais para facilitar todas as questões relacionadas a uso de solo e mão de obra.
A busca por um Futuro Sustentável
Os Estados Unidos não podem e não devem se organizar exatamente como a China, mas aprender com o gigante asiático é essencial. Adotar práticas bem-sucedidas de concorrentes não é algo inédito: na década de 1980, quando o Japão desafiou a indústria americana, os EUA adaptaram algumas abordagens dos japoneses — como o gerenciamento de inventário "just in time" da Toyota.
Apesar de todo o desafio, a história mostra que os Estados Unidos podem se reerguer com rapidez e inovação quando mobilizados corretamente. Com recursos abundantes e um sistema de inovação dinâmico, o país pode transformar seu potencial em capacidade produtiva real.
Reimaginar a Indústria Americana
Portanto, ao invés de se apegar a uma imagem do passado, os EUA devem se concentrar na renovação. É hora de passar da teoria para a prática, construindo infraestruturas e implementando tecnologias que garantam um futuro promissor. O exemplo da China mostra que a prosperidade econômica de futuras gerações requer investimentos em uma base industrial moderna e robusta.
A realidade é que não precisamos nos tornar a China. Mas podemos aprender com ela. Agora é o momento certo para refletir sobre como podemos aplicar essas lições e acelerar o desenvolvimento da nossa economia. Que tal começar essa conversa? Compartilhe sua opinião nos comentários!