O Escândalo de Influência da Huawei no Parlamento Europeu
Investigações em Curso
As autoridades da Europa estão de olho em um escândalo que pode balançar os alicerces do Parlamento Europeu. Um suposto esquema de "dinheiro por influência" alega que cerca de 15 membros atuais e antigos do Parlamento Europeu (MEPs) aceitaram subornos da gigante chinesa de telecomunicações, a Huawei. Essa trama foi descoberta graças a investigações por parte da inteligência belga, que sinalizou a necessidade de uma vigilância mais rigorosa contra atividades de influência estrangeira no Velho Continente.
A Operação
No dia 13 de março, uma ação significativa mobilizou mais de 100 policiais que realizaram operações em 21 escritórios na Bélgica, França e Portugal. Entre eles estavam escritórios de lobistas que representavam a Huawei em Bruxelas, a capital da União Europeia. A police federal deteve várias pessoas para interrogatórios, e uma prisão foi registrada na França. Dois assistentes parlamentares europeus estão sob suspeita, tendo seus escritórios lacrados como parte da investigação. Além disso, um escritório em Portugal foi invadido, levantando suspeitas sobre a movimentação de transferências eletrônicas vinculadas a eurodeputados.
No dia seguinte, 14 de março, a situação se agravou ainda mais para a Huawei, que teve a entrada de seus lobistas proibida nas instalações do Parlamento Europeu.
As Acusações
As investigações estão centradas em atividades que englobam suposta corrupção, falsificação, organização criminosa e até mesmo lavagem de dinheiro. As autoridades acreditam que os presentes ilegais foram oferecidos a partir de 2021, em troca de favores políticos. Entre os itens recebidos, encontram-se alimentos, viagens, ingressos para eventos esportivos e despesas de conferências, cada um ultrapassando o valor de 150 euros, que é o limite para itens que precisam ser reportados. Em suma, as facilidades para corromper um eurodeputado parecem estar à disposição.
Huawei: Uma Gigante em Questão
A Huawei é frequentemente associada a práticas duvidosas, especialmente quando se considera sua conexão com os serviços militares e de inteligência da China, além de seus laços com o Irã, Coreia do Norte e Cuba. A empresa possui tecnologia avançada capaz de causar danos significativos através de espionagem e sabotagem em todo o mundo, operando em cerca de 170 países.
Embora tenha sido banida da infraestrutura de telecomunicações nos Estados Unidos, a presença da Huawei no México foi criticada como sendo um "cavalo de Troia". Na Europa, a empresa continua a ter forte presença nas telecomunicações, em níveis similares aos de 2022, desafiando os avisos lançados pelos Estados Unidos e pela União Europeia.
O Lado Empresarial da Huawei
Com uma impressionante capitalização de mercado de US$ 178 bilhões, a Huawei está em posição de exercer considerável influência sobre a política europeia. A empresa utiliza essa vasta quantia para cultivar relações políticas, incluindo uma notável interação com Charles Michel, ex-presidente do Conselho Europeu.
A proposta da Huawei é clara: ela deseja ser um ator-chave na construção da infraestrutura de inteligência artificial e nuvem na Europa. E, segundo a empresa, isso deve ser feito de maneira a encontrar um "equilíbrio" entre segurança e competitividade. Mas a questão que permanece é: os europeus estão realmente dispostos a abrir mão de sua segurança em nome de soluções de telecomunicação mais baratas?
Iniciativas e Relações Públicas
Embora a maioria das operações da Huawei na Europa esteja dentro da legalidade, suas conexões com o Partido Comunista Chinês (PCCh) geram incertezas. Em novembro, a empresa promoveu o Dia Europeu da Inovação 2024 em Paris, onde importantes figuras políticas participaram, como Nicolò Caputo, Ximo Puig e Ana Paula Nishio de Sousa.
Em um recente evento realizado em Davos, o CEO da Huawei na Europa, Kenneth Fredriksen, expressou o desejo da multinacional de se estabelecer como uma "alternativa para a Europa". Segundo ele, a Huawei pretende continuar contribuindo para a digitalização do continente, preparando-se para a era da inteligência artificial.
O Desafio da Integração
Fredriksen enfatizou que a verdadeira essência da IA vai além da simples aplicação; é necessária uma infraestrutura robusta para que seu potencial seja plenamente alcançado. O evento de Davos, que contou com uma mesa redonda de líderes, abordou questões cruciais sobre o futuro das telecomunicações e a integração da tecnologia no cotidiano europeu.
As declarações de Michel sobre apoiar um comércio multilateral e sua crítica sutil à "guerra comercial" dos EUA ecoam em um cenário de crescente influência do PCCh, que utiliza a ideologia do comércio liberal para expandir sua presença global desde a abertura diplomática dos anos 70.
A Influência em Níveis Subnacionais
O que pode ser ainda mais preocupante é que a Huawei está se infiltrando também em níveis subnacionais da política. Em março, a empresa firmou uma parceria com o conselho municipal de Barcelona, buscando fomentar a inovação em tecnologia da informação e comunicação (TIC). A colaboração visa agilizar a implementação de projetos de cidades inteligentes e desenvolver habilidades digitais através da academia da Huawei na Espanha e da Barcelona Activa’s IT Academy.
A disseminação destas organizações ligadas ao PCCh, desde as camadas mais baixas até os níveis federais, mostra um panorama preocupante para a gerência política europeia e internacional.
O Poder da Resistência
As recentes incursões realizadas em 13 de março contra lobistas da Huawei representam um início promissor na luta contra as táticas de infiltração, mas a batalha está longe de ser vencida. É crucial que os europeus se conscientizem e dediquem esforços equivalentes para resistir a essas formas de influência, sejam elas legais ou ilegais.
As ações da polícia são um passo na direção certa, mas é evidente que há um longo caminho a percorrer na proteção da integridade política e da segurança do continente europeu.
Reflexão Futura
À medida que o escândalo da Huawei se desdobra, somos confrontados com questões que vão além da política: até que ponto estamos dispostos a arriscar nossa segurança e soberania em troca de avanços tecnológicos? Será que o barato realmente vale o mais caro?
Ao discutir esses tópicos, incentivamos uma reflexão não só sobre a Huawei, mas sobre o cenário mais amplo de influências externas nas democracias ocidentais. É um convite aberto para o leitor se engajar, opinar e compartilhar suas experiências e pensamentos sobre o futuro das telecomunicações na Europa e o impacto da influência estrangeira.
O caminho à frente não é fácil, mas é essencial. A vigilância e a resistência são ferramentas valiosas para garantir um espaço seguro e soberano em meio aos desafios que se apresentam.