A Situação Fiscal do Brasil: Um Desafio a Ser Enfrentado
A situação fiscal do Brasil pode ser comparada a um vaso antigo: desgastado, com imperfeições visíveis, mas que ainda se mantém em pé. Contudo, o recente pacote de ajuste fiscal apresentado pelo governo provocou uma verdadeira queda desse vaso, transformando suas rachaduras em uma coleção de estilhaços.
O que frustra muitos nessa nova proposta não é apenas o seu conteúdo, mas também o contexto em que foi anunciada. A sequência de erros na gestão política e fiscal ao longo deste ano deixou muitos cidadãos e investidores céticos quanto às suas reais intenções e à efetividade das medidas sugeridas.
O Potencial Perdido do Pacote Fiscal
O governo apresentou um plano que prometia um ajuste de R$ 70 bilhões, focado na resolução de problemas estruturais das finanças públicas. Quando bem implementadas, essas medidas poderiam aliviar as tensões no mercado, melhorar a percepção de risco do país e revigorar o arcabouço fiscal. No entanto, o que se viu na prática foram atrasos, inconsistências e a inclusão de uma proposta de reforma do Imposto de Renda que pode encobrir os possíveis impactos positivos do pacote, neutralizando ganhos fiscais esperados.
O Que Estava em Jogo
Se o pacote tivesse sido lançado em outubro ou no início de novembro, sem adiamentos e sem a reforma tributária atrelada, a resposta do mercado poderia ter sido muito mais positiva. Porém, repetidos atrasos resultaram na erosão da confiança, pressão no câmbio e uma curva de juros cada vez mais alarmante, prejudicando ainda mais a economia real. Assim que as propostas vieram à tona, a impressão que se teve foi a de fragilidade e improviso. Em decorrência, o impacto fiscal que antes era prometido passou a ser visto como superestimado, com uma crítica de pelo menos R$ 20 bilhões em relação ao valor inicialmente divulgado.
Os Impactos da Reforma do Imposto de Renda
A introdução da proposta de reforma do Imposto de Renda só reforçou a sensação de desconfiança. Essa reforma, em vez de melhorar a situação fiscal, corre o risco de reduzir receitas a médio prazo, cancelando boa parte dos cortes de despesas e mantendo o país na trajetória de desequilíbrio. Essa combinação de falhas demonstrou que o pacote é necessário, mas foi mal elaborado e mal executado.
O Que Deveria Ter Acontecido
Este ano poderia ter sido marcante para a política fiscal brasileira. A arrecadação federal alcançou recordes, impulsionada por novas políticas tributárias como a reoneração dos combustíveis e a inclusão de impostos sobre plataformas digitais. A economia se mostrou resiliente mesmo diante de uma política monetária restritiva, com um aumento significativo na massa salarial. Até mesmo a alta do dólar teve seu lado positivo, sustentando a arrecadação de impostos sobre importações, mesmo em tempos de preços elevados.
Expectativas Críticas
Esses fatores deveriam ter criado um superávit fiscal robusto. No entanto, o que se viu foram explosões de despesas obrigatórias que desestabilizaram o cenário promissor. Benefícios previdenciários, ajudas sociais temporárias, créditos extraordinários e aumentos significativos em gastos com o funcionalismo público devoraram toda a receita adicional. Além disso, as emendas parlamentares aumentaram ainda mais esse fardo. Em vez de um superávit histórico, o Brasil caminha para um déficit que pode chegar a R$ 60 bilhões, evidenciando a falta de controle sobre os gastos e como um período que poderia ser transformador foi perdido.
A Necessidade de Reformas Estruturais
A maior decepção com o recente pacote fiscal é que ele não aborda, de forma significativa, as questões estruturais que afetam as contas públicas. A expansão descontrolada das despesas obrigatórias permanece como o principal motor do desequilíbrio fiscal. Sem reformas profundas em áreas críticas como previdência, folha de pagamento do funcionalismo, benefícios sociais e repasses parlamentares, qualquer ajuste será meramente superficial.
Uma Lição Urgente
Parece que o governo ainda não entendeu totalmente o impacto da falta de credibilidade fiscal no custo de financiamento do país. Atuais taxas de juros em torno de 6,8% ao ano, mais a inflação, representam um cenário impensável para países que são considerados bons pagadores. A falta de disciplina fiscal é uma das principais razões que mantém esses custos elevados, drenando recursos que poderiam ser direcionados a investimentos mais produtivos, tanto social quanto economicamente.
O Que é Preciso Fazer Agora
Para recuperar a confiança do mercado e estabelecer um caminho sustentável para as contas públicas, é crucial um verdadeiro comprometimento com ajustes fiscais robustos. Isso requer um esforço significativo para a redução do déficit e, ao mesmo tempo, reformas estruturais que enfrentem o crescimento desmedido das despesas obrigatórias. Além disso, é essencial evitar promessas de renúncias fiscais que contradigam o discurso de austeridade, como a proposta vinculada à reforma do Imposto de Renda.
Um Futuro Incerto
O panorama fiscal brasileiro ainda se deteriora, e o pacote de ajustes anunciado não trouxe a salvação tão esperada. O governo perdeu uma oportunidade valiosa de restaurar sua credibilidade, aliviar a pressão sobre a curva de juros e criar condições favoráveis para um crescimento econômico equilibrado e sustentável. A falta de uma abordagem séria e comprometida em relação às finanças públicas coloca o Brasil cada vez mais perto de uma crise fiscal grave. Isso terá consequências severas, como inflação crescente, juros elevados e uma economia estagnada, que afetarão não apenas o crescimento econômico, mas também as condições de vida da população, especialmente dos mais vulneráveis.
Reflexão Final
É fundamental que todos nós, como cidadãos, estejamos atentos a essas questões. A política fiscal do nosso país não é apenas um tema que concerne a economistas e políticos; afeta diretamente a vida de cada um de nós. O que está em jogo é o futuro do Brasil, que pode ser moldado por decisões tomadas hoje. O que você pensa sobre a situação fiscal do nosso país? Como podemos pressionar por mudanças que realmente façam a diferença?
Luiz Fernando Figueiredo é presidente do Conselho de Administração da JiveMauá. Este artigo conta com a co-autoria de Ítalo Faviano, economista da Buysidebrasil.