O Desafio do Café: A Luta por Sustentabilidade em Tempos de Crise

Vivemos tempos desafiadores na Finca El Puente, uma plantação de café localizada nas montanhas do sudoeste de Honduras, que deveria estar celebrando o aumento dos preços do café a nível global. Nos últimos anos, o custo do café comum teve um salto significativo, mais que dobrando seu valor. Variedades especiais, como as cultivadas na Finca, possuem um preço ainda mais elevado, tornando-se apreciadas mundialmente, de Seattle a Seul. Contudo, a realidade dos proprietários da fazenda, Marysabel Caballero e Moisés Herrera, é bem mais complexa do que parece.

A Realidade dos Produtores de Café

Apesar dos preços elevados, Caballero e Herrera enfrentam desafios crescentes que ameaçam sua operação. Os gastos com produção estão em alta, com salários aumentando para atrair mão de obra escassa e o custo de fertilizantes se elevando. Além disso, as condições climáticas têm sido imprevisíveis. Eles sofreram com chuvas e temperaturas extremas que impactaram diretamente a colheita. Assim, mesmo diante de um cenário promissor de preços, é provável que acabem ganhando menos neste ano em comparação a 2024.

A Ameaça da Mudança Climática

Uma das maiores preocupações de Caballero e Herrera é a mudança climática. As alterações no clima têm levado à diminuição da oferta de café em todo o mundo, especialmente em países como Brasil e Vietnã, que são os maiores produtores. A possibilidade de que o aumento dos preços possa levar os consumidores a trocar café por alternativas mais em conta, como refrigerantes e bebidas energéticas, também os assusta. Para eles, e para muitos produtores pelo mundo afora, a alta dos preços é um sinal de alerta. O que é visto como uma oportunidade agora pode se transformar em um desastre com a próxima crise climática.

Danos e Desmotivação nas Plantações

As colheitas na Finca El Puente não foram poupadas. Eles enfrentaram uma onda de frio no inverno e chuvas tardias que desmotivaram os trabalhadores a colher os frutos maduros. Para eles, os altos preços do café são um reflexo de problemas profundos e contínuos, e não um golpe de sorte.

O Impacto da Pandemia

A pandemia também trouxe à tona a fragilidade das cadeias de suprimento globais. Com os altos preços do café, a atenção se voltou para as condições que moldam a sua produção. Será que esse novo foco resultará em mudanças significativas? Historicamente, os grandes torrefadores têm capturado a maior parte dos lucros, deixando os pequenos agricultores em uma posição vulnerável.

A Estrutura dos Pequenos Produtores

De acordo com a World Coffee Research, cerca de 60% do café produzido mundialmente vêm de aproximadamente 12,5 milhões de pequenos agricultores, que frequentemente vivem abaixo da linha da pobreza. A ideia é que, se esses agricultores receberem uma compensação melhor, terão mais condições de adotar práticas que aumentem a resistência de suas plantações às mudanças climáticas.

• Práticas Sustentáveis: A introdução de árvores para sombra para proteger o solo e a adoção de variedades de café resistentes às altas temperaturas são algumas estratégias sugeridas.
• Cooperativas: A formação de cooperativas, como a Cafico, tem sido uma iniciativa importante para compartilhar conhecimentos e práticas sustentáveis entre os produtores.

O Caso de Sergio Romero

Um exemplo inspirador vem de Sergio Romero, um agricultor de café que, após ver a devastação causada pela mudança climática em plantações vizinhas, começou a implementar práticas inovadoras. Ele convenceu sua família a unir suas terras e criar uma cooperativa que visa a sustentabilidade. Com o apoio de outros pequenos produtores, a Cafico se tornou um modelo de sucesso.

Os Desafios das Altas do Preço do Café

Apesar dos esforços de cooperativas como a Cafico, surgem preocupações quanto à sustentabilidade. Quando os preços do café aumentam, a tentação de retornar a práticas tradicionais pode se tornar irresistível para alguns produtores, especialmente aqueles que necessitam de um retorno financeiro imediato.

• Novos Membros: A Cafico, por exemplo, está recebendo um influxo de novos membros que buscam práticas mais sustentáveis, mas a pressão externa tem dificultado o compromisso com a cooperativa.
• Dilemas de Venda: Produtores como Esperanza Torres Melgar, que trabalhava com cooperativas, estão enfrentando dilemas sobre vender suas colheitas imediatamente a traders que oferecem dinheiro em troca de grãos frescos, em detrimento do comprometimento com o modelo cooperativo.

A Visão de Futuro

Na Finca El Puente, Caballero e Herrera agora consideram a possibilidade de reduzir suas áreas cultivadas devido à escassez de trabalhadores. Apesar dos altos preços do café, o desafio de encontrar mão de obra está se tornando cada vez mais premente, obrigando-os a mecanizar seu processo de produção.

Mas, mesmo otimistas, eles enfrentam incertezas. O amor pelo cultivo do café, que sempre foi uma constante em suas vidas, agora torna-se um caminho ligeiramente nebuloso. Eles continuam a trabalhar arduamente, mas com a crescente dúvida sobre se conseguirão sustentar essa paixão.

A Caminho da Sustentabilidade

Diante de todas as dificuldades, a pergunta que fica é: como garantir que a produção de café se torne mais sustentável? Sergio Romero está entre aqueles que buscam respostas. Através da inovação e práticas agrícolas sustentáveis, Romero e sua cooperativa estão abrindo caminho para um futuro mais resiliente em face às adversidades.

• Práticas Ecológicas: Diversificação de colheitas e uso de compostagem são apenas algumas alternativas que visam não apenas a saúde do solo, mas também a durabilidade da produção.
• Cuidando do Futuro: Com as crescentes incertezas no mercado, a pergunta permanece em aberto: os produtos de qualidade, cultivados de forma sustentável, encontrarão seu lugar em um mundo que frequentemente prioriza o imediato?

Reflexão Final

As histórias de Caballero, Herrera e Romero ilustram a complexidade que envolve a produção de café. O aumento dos preços é um fator positivo, mas não é a solução para os problemas estruturais que os agricultores enfrentam. A busca por um sistema mais justo e sustentável requer esforço coletivo, resiliência e uma disposição para mudar.

A sobrevivência da deliciosa bebida que muitos amamos depende das escolhas que fazemos hoje. Se você é um apreciador de café, considere apoiar iniciativas que priorizam a sustentabilidade e o bem-estar dos agricultores. O futuro do café pode estar em nossas mãos — e é uma responsabilidade que devemos assumir. Que tipo de café você escolherá consumir?