Fafá de Belém: A Voz da Amazônia e seu Legado Cultural
A Paixão pela Amazônia
No coração vibrante de Belém, onde o Teatro da Paz se ergue majestoso desde 1879 e o aroma inconfundível de jambu e tucupi encanta as manhãs, Fafá de Belém se destaca como uma voz poderosa a serviço da Amazônia. Em uma conversa reveladora com a Forbes, Fafá compartilha uma trajetória marcada por riso, reflexões e um profundo amor pela sua terra. A história da artista vai muito além da música; é uma verdadeira representação da luta e da cultura amazônica.
O Surgimento do Fórum Varanda da Amazônia
Três anos atrás, motivada por uma indignação intensa durante sua participação na COP30 em Nova York, Fafá criou o Fórum Varanda da Amazônia. Sua frustração foi perceber a ausência de pensadores e representantes amazônicos naquele espaço. “Percebi que apenas havia três meninas vestidas de indígenas, como se a nossa cultura fosse reduzida a uma mera alegoria”, desabafa.
Imediatamente, ela conectou-se com Eugênio Pontos, do IPAM (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia), e questionou: “Conseguimos organizar um fórum que represente pensadores amazônicos?” Assim, em menos de um mês, o primeiro fórum foi realizado, promovendo um espaço para que pessoas da Amazônia dialogassem com pesquisadores e interessados de fora.
Fortalecendo o Debate Amazônico
O que começou como uma resposta ao apagamento da cultura amazônica se transformou no maior espaço de discussão sobre a região no Brasil. No último ano, o evento contou com a participação de diversos coletivos, incluindo mulheres, ribeirinhos e quilombolas do Brasil inteiro, mostrando a importância de uma troca rica e variada de ideias.
Para a edição de 2025, programada para os dias 7 e 8 de outubro, o tema será “O Futuro da Amazônia é Agrora!”, e mais de mil participantes já estão inscritos. Os estudantes, incentivados pela universidade parceira, terão a oportunidade de se envolver ativamente em debates sobre questões relevantes da região.
Diversidade e Diálogo
Fafá enfatiza a pluralidade como o coração do fórum. “Aqui não há espaço para discussões unilaterais”, diz ela. Será no painel de abertura que a polêmica sobre a exploração de petróleo na Foz do Amazonas ganhará luz, reunindo defensores e críticos para um debate mediado. Outros tópicos importantes incluirão as culturas tradicionais, a conservação da biodiversidade e o papel da educação na formação de lideranças.
A COP30 e seu Significado
A confirmação da COP30 para Belém trouxe à tona um reconhecimento há muito aguardado. Para Fafá, esse evento representa uma oportunidade ímpar de reafirmar a importância da Amazônia no cenário global. “O apagamento da Amazônia começou quando nos afastamos do centro do país. A realidade das comunidades amazônicas é complexa e merece ser ouvida”, reflete.
Belém, que um dia foi uma das capitais culturais do Brasil, conhece bem o contraste entre o brilho do passado e o abandono do presente. Fafá observa que, mesmo com a modernização, a Amazônia ainda é vista como um território desconhecido.
A Voz do Povo Amazônico
Em suas críticas, Fafá destaca a necessidade de artistas e pensadores internacionais compreenderem a realidade amazônica. “Quando o Coldplay trouxe a Amazônia para seu show, deveria ter sido dentro dela, com seus habitantes”, opina. Para a artista, apoiar a cultura local vai além de aparições: é preciso investir e dar voz aos verdadeiros representes da região.
Com a COP30 à vista, Fafá vê uma chance valiosa de reescrever narrativas e fortalecer identidades. “A Amazônia só encontrará soluções a partir da escuta de todos os seus cidadãos, desde aqueles que enfrentam a poluição dos rios até os grandes pesquisadores”, enfatiza.
Cultura e Transformação Social
Fafá de Belém não é apenas uma artista renomada; ela é uma guardiã da cultura amazônica. Com 69 anos e meio século de carreira, sua experiência a torna uma voz autêntica em prol da valorização artística e cultural da região. “Não sou acadêmica, mas vivi a Amazônia. É essa vivência que guia meu trabalho”, afirma.
Seu festival anual, a Varanda de Nazaré, cresceu para se tornar um verdadeiro palco para a cultura local. Enquanto antes 90% dos artistas eram de fora, hoje 95% são paraenses, reforçando a importância de valorizar os talentos locais.
Preservação Cultural: Um Imperativo
A dedicação de Fafá à preservação cultural é um aspecto central de sua missão. Ela cita um artesão em Santarém que confeccionava urnas tradicionais e ressalta a urgência em preservar essas práticas. “Precisamos garantir que as tradições se mantenham vivas e que as novas gerações não abandonem suas raízes”, enfatiza.
Para ela, a música é uma poderosa ferramenta de transformação. “A música quebra barreiras, une corações e é uma força mágica”, considera. As performances que acompanham o fórum e o festival buscam não apenas entreter, mas também provocar reflexões.
Um Novo Amanhã para a Amazônia
Com a aproximação da COP30, Fafá acredita que é hora de construir uma nova narrativa para a Amazônia. “Quem destrói a floresta não é o amazônico. Precisamos lembrar que somos parte de um todo maior, que inclui ribeirinhos, quilombolas e urbanos”, destaca.
Fafá de Belém, com sua paixão e determinação, nos convida a ouvir a sinfonia completa da Amazônia. Uma sinfonia que precisa ser compartilhada e respeitada. À medida que o mundo se prepara para atenção voltada à COP30, a mensagem é clara: a mudança começa com o reconhecimento e a valorização das vozes que sempre estiveram ali, esperando para serem escutadas.
Cada nota e cada história que saem da Amazônia têm a capacidade de promover mudanças significativas. O que nos resta agora é estar atentos e participativos nesse movimento, pois, como diz Fafá, “a transformação é possível quando olhamos com mais empatia para aqueles que vivem a realidade local”. Que esse chamado à ação ressoe e inspire todos nós a nos engajar na luta pela Amazônia e seu povo.