A Nova Etapa: Paz entre Israel e Hamas
Nos últimos dias, a atenção do mundo se voltou para o acordo de cessar-fogo assinado entre Israel e Hamas no Egito em 9 de outubro. Apesar da esperança que isso poderia trazer, diversos líderes ocidentais e internacionais expressaram suas dúvidas sobre a estrutura do acordo, que é dividido em fases. Na proposta de 20 pontos apresentada pelo ex-presidente dos EUA, Donald Trump, a primeira fase inclui uma retirada parcial das tropas israelenses de Gaza e a liberação de quase 2.000 prisioneiros palestinos em troca da libertação dos Israelenses que ainda estão em cativeiro.
No entanto, as questões mais profundas – como a governança de Gaza após o conflito e a criação de uma força de estabilização para garantir a segurança na região – foram deixadas para fases futuras. Críticos apontam que, ao ignorar essas questões cruciais desde o início, há um risco maior de falha do plano. Mas será que, na verdade, essa abordagem gradual é algo tão incomum na diplomacia do Oriente Médio?
A História dos Acordos Gradativos
Entre as estratégias utilizadas ao longo dos últimos 75 anos, a abordagem de fases tem se mostrado uma das mais eficientes para resolver conflitos na região. O armistício que encerrou a guerra árabe-israelense de 1948 e o tratado de paz entre Egito e Israel em 1979 são exemplos claros. Ambos os acordos foram implementados em etapas, permitindo a mobilização de ferramentas políticas e técnicas essenciais para garantir a conformidade.
Exemplos Históricos em Foco
Analisando essas experiências anteriores, percebemos que pactos escalonados podem fortalecer a confiança e oferecer oportunidades de negociação que são fundamentais para um arranjo mais duradouro. Os acordos de armistício de 1949 entre Israel e seus vizinhos (Egito, Jordânia, Líbano e Síria) não foram tratados de paz definitivos, mas sim soluções que reduziram as hostilidades e estabeleceram fronteiras, dando espaço para uma construção gradual de paz.
Esses acordos, embora temporários, incluíram mecanismos práticos como:
- Comissões de campo
- Monitoramento da ONU
- Normas para trocas de prisioneiros
- Disposições para assistência humanitária
Após o intenso conflito de 1973, a diplomacia americana se intensificou. O secretário de Estado dos EUA, Henry Kissinger, implementou uma forma de diplomacia conhecida como “shuttle diplomacy”, levando à criação de zonas desmilitarizadas e acordos limitados entre Israel e seus vizinhos.
Essas etapas iniciais não buscavam uma solução abrangente de uma só vez. O objetivo era criar um cenário para negociações mais aprofundadas, um processo que se sustentou ao longo do tempo com o envolvimento contínuo dos EUA.
Lições Aprendidas e Novas Oportunidades
Os acordos de Camp David em 1978, que levaram ao tratado de paz egípcio-israelense, compreendem um exemplo significativo de como um processo gradual pode gerar resultados positivos. Este acordo não primeiro abordou todas as questões – mas propôs um framework para a paz, separando tópicos complexos e engajando as partes em um diálogo contínuo.
Elementos Cruciais para o Sucesso
Para que esses tipos de acordos sejam bem-sucedidos, a implementação precisa de:
- Compromissos Internacionais: O envolvimento dos EUA, junto com a presença de outros países e organizações como a ONU, é vital para garantir que os planos sejam seguidos.
- Monitoramento Eficaz: Comissões conjuntas e forças de paz internacionais são essenciais para fiscalizar e apoiar o cumprimento dos acordos.
- Incentivos e Penalidades: Estabelecer recompensas para o cumprimento das fases, assim como sanções para as violações, mantém as partes comprometidas.
Com base nos exemplos históricos, fica claro que um plano escalonado, se suportado por compromissos internacionais sólidos e estratégias adaptáveis, pode criar um alicerce forte para uma paz duradoura.
Perspectivas para o Futuro de Gaza
Com o decorrer do cessar-fogo, a expectativa de que um acordo mais duradouro se concretize aumenta. No entanto, como demonstrado nas lições do passado, essa realização não será automática. Assim, para o sucesso deste cessar-fogo e para a construção de uma paz verdadeira, vários fatores devem estar presentes:
Fatores Essenciais para a Sustentação do Acordo
- Apoio Contínuo: É crucial que EUA e outros países se comprometam a acompanhar o desenvolvimento do acordo, proporcionando incentivos e estabelecendo consequências claras para não conformidades.
- Mecanismos de Monitoramento: Para garantir que ambas as partes cumpram suas obrigações, é necessário implementar comitês de monitoramento e, possivelmente, forças de paz internacionais.
- Flexibilidade: Os acordos devem permitir adaptações conforme as circunstâncias evoluem, facilitando a negociação e a mediação diante de possíveis impasses.
Em suma, ao adotar uma estrutura de fases, o governo dos EUA conseguiu iniciar um diálogo crucial e interromper uma violência devastadora. No entanto, o verdadeiro desafio agora é engajar os apoiadores internacionais e garantir as condições necessárias para sustentar esse entendimento.
Para aqueles que esperam por uma paz duradoura em Gaza, é vital que os envolvidos reconheçam que tanto os custos da falha quanto os benefícios de uma eventual conformidade são altos. Em última análise, a construção de uma estabilidade duradora demandará um esforço conjunto, passo a passo. Assim, ao refletir sobre essas lições e desafios futuros, é fundamental que o diálogo continue e que todas as partes interessadas mantenham sua atenção voltada para a construção de um futuro melhor.




