segunda-feira, dezembro 23, 2024

Guerra Comercial Trump-China: Como O Agronegócio Brasileiro Pode Ser Impactado e a Soja Alcança Novas Alturas


Uma nova “guerra comercial” entre a China e os Estados Unidos durante um segundo mandato de Donald Trump pode trazer benefícios ao agronegócio brasileiro. No entanto, os especialistas advertem que os impactos dessa vez podem ser menos significativos do que os observados na disputa comercial de 2018.

Isso ocorre porque, desde que a primeira rodada de tarifas foi imposta, as exportações brasileiras de produtos como soja, algodão, milho e carnes para a China cresceram consideravelmente, conquistando espaços que antes eram ocupados pelos produtos norte-americanos.

A Inflexão do Mercado de Soja

A soja, que representa a principal exportação do Brasil, agora é adquirida pela China em incríveis 75% de sua demanda total, oriunda de lavouras brasileiras. Contudo, especialistas observam que o apetite chinês não é mais o mesmo que antes.

Embora a eleição de Trump para um novo mandato ainda esteja longe, as promessas de tarifa de 60% sobre produtos chineses já causaram uma reação imediata. Na última quarta-feira, os prêmios da soja nos portos brasileiros dispararam, e essa tendência continuou na quinta-feira (7).

Esse aumento sugere que o preço da soja brasileira pode superar o mercado de referência da Bolsa de Chicago, principalmente se a demanda chinesa migrar para o Brasil em função das tarifas.

“Não há razão para que os preços no Brasil caiam só porque estão caindo nos EUA. O adequado seria um aumento dos prêmios de exportação, caso a demanda se mova para cá”, afirmou Lucílio Alves, professor da Esalq/USP e pesquisador do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea).

Alves explica que se os EUA tiverem dificuldades para exportar soja para a China, os preços internamente podem sofrer queda, mas é correto esperar que a demanda em direção ao Brasil aumente, refleitando nos prêmios elevados para embarques futuros.

O Brasil em Posicionamento Favorável

O Brasil já se destacava como o maior exportador de soja durante a primeira fase da guerra comercial. Desde então, suas exportações se aceleraram, e produtos como algodão e carnes também se beneficiaram das tarifas impostas pela China aos produtos norte-americanos em 2018. É importante destacar que, antes de um acordo em 2022, o Brasil não exportava milho para a China, mas agora esse cereal se tornou um dos principais destinos de suas exportações.

“Se a China decidir não importar mais dos EUA, isso será extremamente vantajoso para nós”, afirmou Alves, citando também o milho e as carnes como possíveis beneficiários desse cenário.

Expectativas Menores para a Soja

No entanto, a expectativa é que os ganhos com a soja sejam menores em comparação à guerra comercial anterior. Desde 2017, a participação brasileira nas importações chinesas de soja aumentou em 20 pontos percentuais, alcançando 74%. Enquanto isso, a participação dos EUA diminuiu, conforme revelado por dados da consultoria Biond Agro.

“A comparação com 2018 pode ser injusta, já que aumentamos significativamente a produção e a exportação em cinco anos”, analisa Fernando Muraro, analista da consultoria AgRural. Ele acrescenta que a área plantada no Brasil foi ampliada, enquanto a China demonstra sinais de estagnação em seu consumo, o que pode explicar uma expectativa de ganho menos expressivo para o setor.

Em 2022, as exportações de soja do Brasil para a China alcançaram 74,5 milhões de toneladas, gerando quase US$ 40 bilhões, em contrapartida aos 53,8 milhões de toneladas e US$ 20,3 bilhões em 2017. Além disso, as exportações de algodão aumentaram quase dez vezes no mesmo período, superando 800 mil toneladas, e as carnes bovinas também tiveram um significativo crescimento.

Impactos da Flutuação do Dólar

Embora o mercado chinês já tenha um suprimento robusto de soja brasileira, os prêmios portuários dispararam nas últimas semanas. Para embarques programados para fevereiro de 2025, eles subiram de 85 centavos de dólar (R$ 4,83) para 105 centavos de dólar (R$ 5,98) em um único dia, enquanto os prêmios para abril também apresentaram aumento.

O analista Muraro sublinha que as declarações de Trump relacionadas à tarifação são benéficas para o Brasil, mas ele destaca que é essencial monitorar os movimentos do dólar e seu impacto nas bolsas de commodities, algo que já influenciou os mercados recentemente.

As políticas econômicas de Trump, que têm um foco protecionista, podem resultar em um fortalecimento do dólar global, o que, por sua vez, pode afetar a demanda por commodities denominadas em moeda norte-americana. Voltando ao gerente de inteligência e estratégia da Biond Agro, Felipe Jordy, ele acredita que os prêmios portuários só compensariam parcialmente uma possível queda na soja na Bolsa de Chicago, devido ao abundante suprimento mundial.

Por outro lado, um dólar mais forte também significa aumento nos custos de importação dos insumos agrícolas, principalmente fertilizantes, dos quais o Brasil depende em mais de 85% de suas necessidades. Isso se traduz em um desafio significativo para a agricultura nacional.

Jordy aponta que a política “America First” defendida por Trump pode prejudicar o acesso dos produtos agrícolas brasileiros ao mercado norte-americano, especialmente nas proteínas, setor no qual os EUA são atualmente o segundo maior importador da carne bovina brasileira, atrás apenas da China.

Reflexões Finais

Portanto, à medida que a possibilidade de novas tarifas entre China e Estados Unidos emerge, fica claro que o agronegócio brasileiro está em uma posição delicada. Embora existam oportunidades significativas, principalmente na soja e outros produtos agrícolas, os desafios econômicos e de mercado não podem ser subestimados. É vital que os produtores e exportadores brasileiros estejam atentos às mudanças no cenário global, visando adaptar suas estratégias para maximizar os benefícios enquanto minimizam os riscos.

Que tal compartilhar suas opiniões sobre esse tema? Deixe sua perspectiva nos comentários e participe da conversa. O agronegócio brasileiro está sempre evoluindo, e é interessante ver como essas dinâmicas se desenrolarão nas próximas etapas!

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