A Transformação do Conflito no Oriente Médio: Desafios e Possibilidades
A guerra resultante do ataque brutal do Hamas em 7 de outubro de 2023 marcou um momento decisivo no Oriente Médio, configurando-se como o conflito mais significativo desde a Primavera Árabe. Quase 22 meses após a ofensiva militar de Israel com o intuito de desmantelar o Hamas, a ausência de um objetivo político claro lança uma sombra sobre a região, intensificando a crise humanitária em Gaza, onde a fome se agrava a cada dia.
Com a situação evoluindo para um problema de abrangência regional e internacional, países como França e Arábia Saudita têm se mobilizado, propondo soluções na ONU que buscam um término definitivo para o confronto. A iniciativa inclui um apelo ao reconhecimento do Estado da Palestina e a formação de estados dentro de fronteiras definidas. Tanto o Canadá quanto o Reino Unido se comprometeram a reconhecer a Palestina até setembro, a menos que a guerra chegue ao fim.
O Limbo Político de Israel
O governo israelense, por sua vez, parece irremediavelmente preso a uma abordagem que não se adaptou à nova realidade, mesmo com os principais objetivos militares já alcançados. A falta de uma visão de longo prazo fez com que Israel e a região em geral permanecessem em um estado de desordem profunda. Conflitos sem um direcionamento político claro são condenados a não só se arrastar, mas também a causar mais danos.
À medida que esta perplexidade persiste, a pressão internacional aumenta para que uma solução eficaz e humanitária seja encontrada. A guerra, antes reconhecida como um ato legítimo de defesa, gradativamente se transforma em um fardo moral, mudando a responsabilidade pela crise humanitária de Gaza do Hamas para Israel.
Impacto da Primavera Árabe e dos Ataques de Outubro
Dois eventos cruciais mudaram o cenário estratégico do Oriente Médio no século XXI: a Primavera Árabe e os ataques de 7 de outubro. O primeiro, iniciado em 2010, perturbou profundamente os regimes do Oriente Médio, dando voz aos movimentos populares e desafiando a legitimidade dos autocratas. A situação israelense-palestina, de certa forma, se insere na continuidade dessa transformação, uma vez que a causa palestina continua a unir diferentes grupos, sejam eles sunitas, xiitas, árabes ou persas.
Ignorar essas dinâmicas foi um erro de cálculo significativo entre os formuladores de políticas, especialmente quando o ataque de outubro foi tanto um ato de terrorismo quanto uma mensagem política. Desafiou a estratégia israelense de “gestão de conflitos” e, ao mesmo tempo, questionou a normalização das relações entre estados árabes e Israel sem o tratamento adequado do conflito palestino.
O Caminho a Seguir
Hoje, Israel se encontra em uma encruzilhada. Um dos caminhos possíveis leva a um aumento do isolamento internacional, à radicalização e a um ciclo vicioso de violência, enquanto a outra via propõe uma solução viável de dois estados, promovendo paz e estabilidade.
Essa guerra é, sem dúvida, um reflexo de uma luta profunda por identidade e pertencimento; e a resolução desse conflito exigirá um envolvimento internacional robusto. A proposta da Iniciativa de Paz Árabe de 2002 emerge como um caminho digno de consideração, com seu enfoque na criação de dois estados, em consonância com as fronteiras de 1967, mediante trocas de terras acordadas.
Um Chamado à Ação Internacional
Dada a postura atual do governo israelense, que se opõe à formação de um estado palestino, é essencial que a comunidade internacional avance em soluções realistas inspiradas na Iniciativa de Paz Árabe. É urgente que uma declaração conjunta entre os principais países, como Estados Unidos, Arábia Saudita e outras nações árabes moderadas, reafirme o objetivo de dois estados coexistindo em paz e reconhecimento mútuo.
O que pode ser feito?
Cessar-fogo: A primeira medida deve ser o restabelecimento da paz em Gaza, garantindo a libertação de todos os reféns.
Governança: Um governo palestino temporário e tecnocrático, sob supervisão internacional, pode gerenciar os assuntos civis em Gaza.
Reconstrução: Os investimentos maciços liderados pela Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos, junto com organizações internacionais, poderiam revitalizar a infraestrutura em Gaza.
Desarmamento: Gradualmente, o Hamas poderia ser desmobilizado, permitindo ao governo palestino emergente recuperar controle.
Nos próximos 18 a 24 meses, a realização de eleições supervisionadas internacionalmente em Cisjordânia e Gaza será fundamental para criar um governo legítimo e unificado capaz de dialogar em negociações que levem à paz duradoura. Um acordo definitivo não apenas estabeleceria fronteiras permanentes, mas também abordaria questões como a segurança regional, o status de refugiados e Jerusalém.
O Desafio da Esperança
Num contexto mais amplo, as realizações militares de Israel e dos EUA podem ser um ponto de partida para negociações com o Irã, prevenindo o desenvolvimento de armas nucleares. Este aspecto deve ser tratado em conjunto com a comunidade internacional, garantindo que as inspeções sejam robustas e confiáveis.
A previsão de um Estado Islâmico Unificado entre o rio Jordão e o Mediterrâneo, mencionada pelo fundador do Hamas, reflete um medo fundamental sobre a possibilidade de coexistência pacífica. A força do Hamas se alimenta da desesperança, mas se um caminho claro e apoiado internacionalmente fosse traçado, sua influência poderia ser severamente reduzida.
Em última análise, a dissuasão militar de Israel, enquanto necessária, não é suficiente para eliminar as tensões regionais. A verdadeira segurança e a paz estão em um acordo regional abrangente que produza uma solução viável de dois estados. Essa não é apenas uma questão de idealismo; tornou-se uma necessidade estratégica que deve ser considerada por todos os atores envolvidos.
Abrindo Espaço para o Diálogo
Neste cenário complexo, é vital que a conversa continue. Que cada um de nós, ao refletir sobre essas questões, se sinta instigado a buscar informações, a compartilhar opiniões e a imaginar uma realidade onde a paz realmente é possível. O futuro do Oriente Médio depende de cada um de nós, e a esperança de dias melhores pode, de fato, ser acesa se todos juntos olharmos para o porvir com determinação e solidariedade.