Desafios da JBS: Sustentabilidade e Crescimento no Setor de Proteína Animal

Gilberto Tomazoni, o CEO Global da JBS, tem um papel crucial em uma das maiores empresas do agronegócio brasileiro. Em uma entrevista à Forbes Brasil, ele discutiu não apenas os desafios da empresa, mas também como a JBS busca equilibrar a produção de alimentos com práticas sustentáveis. Vamos explorar a visão e as estratégias de Tomazoni para enfrentar essa importante dualidade.
Um Cenário de Crescimento e Sustentabilidade
A JBS, com sua trajetória notável, cresceu de um faturamento de cerca de R$ 4 bilhões nos anos 2000 para impressionantes R$ 416,9 bilhões em 2024, o que representa um aumento de 14,6% em relação ao ano anterior. Essa expansão é acompanhada por um robusto fluxo de caixa: aproximadamente R$ 13 bilhões em livre circulante entre 2019 e o segundo trimestre de 2024.
Tomazoni destaca que o crescimento não é apenas uma questão de números. “Crescer com disciplina financeira é fundamental”, afirma. Ele enfatiza a importância de manter um bom grau de investimento e garantir retorno para os acionistas.
A Demanda por Proteína Animal
O coração da estratégia da JBS está na crescente demanda global por proteína animal. Este aumento é impulsionado por fatores demográficos e novas recomendações médicas que favorecem a ingestão de proteínas. Isso, segundo Tomazoni, requer uma reorganização completa da cadeia produtiva: “Quando a forma de comer muda, a cadeia inteira precisa se reorganizar, da fazenda ao ponto de venda.”
Engajando-se com o Mercado: Uma Abordagem Multifacetada
A abordagem da JBS para o mercado se desdobra em três camadas:
Alocação de Capital: A JBS examina cuidadosamente onde alocar recursos, considerando países e tipos de proteína com base em padrões de consumo e competitividade.
Inovação: Equipes dedicadas transformam tendências em produtos de alto valor agregado. Isso ajuda a JBS a capturar mudanças nas preferências do consumidor.
Relacionamento com o Varejo: É crucial para a JBS estar presente no momento em que os consumidores fazem suas escolhas. O CEO observa: “Se não estivermos ao lado do cliente, perdemos relevância.”
A Transformação do Comportamento do Consumidor
A pandemia alterou a forma como as famílias brasileiras enxergam a alimentação, com muitos optando por cozinhar em casa em vez de comer fora. A JBS, com suas marcas como Friboi e Seara, adaptou seus produtos para atender a essa nova realidade, oferecendo uma gama diversificada de cortes e refeições práticas.
- Friboi agora disponibiliza cortes porcionados e carnes temperadas para facilitar o preparo em casa.
- Seara introduziu frangos com diferentes atributos, como frango orgânico e sem antibiótico, além de parcerias com grandes nomes do entretenimento, como a Netflix, para criar produtos inovadores.
Atingindo Novos Patamares de Produtividade
A JBS investe continuamente em inovações que conectam a tecnologia à produção. Exemplos incluem:
- A digitalização de processos, que permite uma gestão mais eficaz da cadeia de suprimentos.
- A introdução de alimentos ricos em proteínas e colágeno em suas linhas.
“Quem decide o futuro de cada categoria é o consumidor, não a indústria,” ressalta Tomazoni. Essa abordagem centrada no consumidor é fundamental à medida que a empresa busca se antecipar às tendências de mercado.
Diversidade Global e Redução da Volatilidade
Operando em 20 países e atendendo a mais de 275 mil clientes em 180 nações, a JBS se posiciona estratégicamente para diversificar seus produtos e mercados. Com aproximadamente 25% de seu faturamento originado de exportações, a empresa lida com a complexidade de atender às necessidades de diferentes mercados, onde cortes de carne podem ter valor econômico distinto. Por exemplo, a asa de frango tem maior valor na China do que no mercado interno.
Essa diversificação é um trampolim para a redução da volatilidade, uma característica comum em um setor cíclico, permitindo que a JBS minimize os riscos associados a flutuações de mercado.
Riscos e Sustentabilidade: A Visão de Futuro
Ao olhar para o futuro, Tomazoni projeta um crescimento significativo na demanda por alimentos, prevendo uma população de 9,7 bilhões de pessoas até 2050. As variáveis que moldam esse futuro incluem segurança alimentar, mudanças climáticas e estabilidade política.
A empresa é proativa na gestão de riscos, envolvendo:
- Biossegurança: Implementação de programas rigorosos em granjas e plantas.
- Cibersegurança: Proteções robustas para garantir a integridade dos dados.
- Tecnologia: Uso de inteligência artificial para identificar e mitigar potenciais crises.
Geopolítica e Comércio Internacional
As complexidades da geopolítica também moldam o ambiente de negócios. Tomazoni enfatiza a importância de fortalecer a Organização Mundial do Comércio e implementar mecanismos que promovam a segurança alimentar e estabilidade política.
A rastreabilidade da cadeia de fornecimento é uma prioridade, com a JBS monitorando 100% de seus fornecedores diretos no Brasil, envolvendo aproximadamente 90 mil propriedades. Essa transparência é fundamental para a reputação e confiança no mercado.
Conclusão: Um Compromisso com o Futuro
Gilberto Tomazoni lidera a JBS em um momento crítico onde o equilíbrio entre produção de alimentos e práticas sustentáveis é fundamental. A visão da empresa, centrada na inovação e na adaptação às mudanças do mercado, molda não apenas o futuro dela, mas também o ambiente mais amplo do agronegócio. A JBS está comprometida em crescer de maneira responsável, enfrentando desafios com uma abordagem que prioriza o bem-estar dos consumidores, da sociedade e do planeta. É um caminho repleto de desafios, mas também de oportunidades para um futuro mais sustentável e próspero.




