Matéria adaptada e traduzida do inglês, publicada pela matriz americana do Epoch Times.
Um Legado que Ecoa
Jimmy Carter, o 39º presidente dos Estados Unidos e o mais longevo a ocupar o cargo, faleceu no último domingo, 29, em sua residência na Geórgia, aos 100 anos. A importância de Carter vai muito além de sua longevidade, refletindo um legado complexo que envolveu tanto avanços diplomáticos quanto desafios internos significativos.
Reações ao Falecimento de Carter
A morte de Carter provocou reações variadas na China e em Taiwan, dois lugares intimamente ligados ao seu histórico político. Na China, onde o ex-presidente é lembrado por estabelecer relações diplomáticas com Pequim e romper laços formais com Taipei, a repercussão foi mista. Xi Jinping, o líder chinês, expressou “profundas condolências” numa mensagem enviada ao atual presidente dos EUA, Joe Biden, conforme noticiado pela agência estatal Xinhua.
A Xinhua, em um editorial, exalta Carter por seu papel crucial na normalização das relações entre os EUA e a China, obviamente destacando sua “dedicação constante à promoção do entendimento mútuo entre os povos.” Um porta-voz do Partido Comunista Chinês reconheceu que Washington precisa de líderes com a visão de Carter, que soube interpretar corretamente a China.
Por sua vez, o Gabinete Presidencial de Taiwan também dispôs “sinceras condolências” à família de Carter e ao povo americano. No entanto, a reação em Taiwan foi complexa, com muitos usuários nas redes sociais expressando sentimentos variados, de gratidão até críticas por considerarem que Carter “abandonou” a ilha.
Um Vislumbre da História Pessoal de Carter
Carter tinha um profundo interesse pela China desde a infância. Em um discurso em 2002, ele mencionou que, desde os 4 ou 5 anos, via missionários como as “pessoas mais proeminentes da Terra”, dedicando parte de sua mesada para apoiar escolas e hospitais na China. Na época, o Kuomintang (KMT), que hoje é o principal partido de oposição em Taiwan, estava estabelecendo um governo nacional na China continental.
Duas décadas depois, Carter já era um oficial da Marinha dos EUA e estava no Oriente, observando de perto as condições políticas enquanto o PCCh se preparava para assumir o controle. Carter tornou-se presidente em 1977, e em sua administração teve como objetivo a normalização das relações com a China, que já havia sido iniciada por Richard Nixon.
A Decisão Histórica
Após cinco anos do histórico encontro de Nixon, Carter decidiu que era a hora de oficializar relações diplomáticas com a China. Ele tomou essa decisão com a esperança de que, ao se afastar de Taiwan, pudesse contribuir para um diálogo pacífico entre as nações. Temendo resistência do Congresso, Carter contornou os procedimentos tradicionais e se dirigiu diretamente a Pequim, informando Taipei da mudança apenas horas antes do anúncio oficial, em 16 de dezembro de 1978.
Essa mudança chocou muitos em Taiwan, incluindo o governo do KMT e os cidadãos, que sentiam a ruptura como uma traição. No entanto, Carter defendeu sua ação como sendo uma prerrogativa constitucional do presidente.
Protegendo Taiwan
Três meses após a formalização das relações entre os EUA e a China, Carter sancionou a Lei de Relações com Taiwan, que substituiu o Tratado de Defesa Mútua. Essa legislação foi crucial para estabelecer relações não oficiais com Taipei, possibilitando a continuidade da venda de armamentos à ilha.
Carter acreditava que quaisquer divergências entre a China e Taiwan seriam resolvidas pacificamente, uma expectativa que, na época, parecia otimista, considerando a postura afirmativa do governo chinês sob Deng Xiaoping, que nunca prometeu não usar a força para absorver Taiwan.
Reflexões Sobre Seu Legado
Para muitos analistas, a decisão de Carter de formalizar relações com a China fez sentido no contexto da Guerra Fria, onde o foco dos EUA estava em conter o avanço soviético. No entanto, com o passar dos anos, a China emergiu como um rival estratégico, e a política de engajamento que Carter implementou se tornou um tema de debate.
- Yao-Yuan Yeh, especialista em relações internacionais, sugere que a decisão de Carter estava alinhada às necessidades geopolíticas da época, mas não previu a futura rivalidade com a China.
- Hu Ping, editor e defensor dos direitos humanos, afirma que Carter poderia ter mantido relações formais com ambos os lados, mas reconhece que o KMT também teve seu papel na situação que se desenvolveu.
A Evolução de Taiwan
Embora os EUA tenham rompido relações formais com Taiwan, a pressão internacional e o apoio dos EUA nos anos 80 catalisaram uma transição para a democracia na ilha. O então presidente Chiang Ching-kuo anunciou o fim da lei marcial em 1987, o que conduziu a um processo de democratização.
Durante sua visita a Taiwan em 1999, Carter foi confrontado por Annette Lu, uma figura política importante, que expressou que ele deveria pedir desculpas por seu papel na democratização tardia da ilha. Carter defendeu sua decisão, ressaltando que fora adequada diante do contexto político da época.
A Influência Limitada na China Continental
Enquanto as relações com Taiwan evoluíam em direções democráticas, a influência dos EUA sobre a China continental mostrou-se mais desafiadora. Durante suas negociações com Deng, foram prometidas liberdades religiosas, mas a entrada de missionários ocidentais permaneceu restrita.
Em um olhar retrospectivo, Carter expressou preocupação com a verdadeira liberdade religiosa na China, percebendo que a “liberdade de culto” oficial muitas vezes não refletia a realidade dentro do país. Apesar dos esforços de engajamento, a normalização das relações trouxe benefícios econômicos para a China, mas pouco impactou sua política interna repleta de opressão.
O Legado de Carter na China
A interação de Carter com a China também abriu portas para diálogos futuros. O Carter Center, uma organização sem fins lucrativos criada pelo ex-presidente, observei a evolução política rural na China, antes que suas atividades fossem restringidas. Carter continuou a defender o intercâmbio cultural e a educação, mesmo durante períodos de tensão.
Após o massacre da Praça Tiananmen em 1989, a relação entre os EUA e a China passou a ser reavaliada. Embora as políticas de engajamento perseverassem, o impacto inicial positivo da aproximação de Carter começou a mostrar fissuras devido à repressão crescente.
Reflexões Finais
O legado de Jimmy Carter é um testemunho da complexidade das relações internacionais e da luta pela democracia. Ao olhar para sua vida, surge a pergunta: como as decisões de hoje moldarão o mundo de amanhã? É essencial que continuemos a discutir e refletir sobre os impactos de líderes como Carter, que acreditaram na possibilidade de um diálogo significativo entre nações em conflito.
Gostaria de saber a sua opinião. Como você vê o legado de Carter no cenário político atual? Deixe suas reflexões e compartilhe suas observações!